Sentir ciúme é um comportamento comum e esperado na maioria dos relacionamentos, sejam eles amorosos ou até mesmo em amizades mais sólidas. Nos romances, filmes, livros e peças de teatro, historicamente aprendemos que para existir o “amor verdadeiro” é preciso vivenciar algumas dores, como o sentimento de posse e ciúme. Mas nem sempre isso é normal ou inofensivo. Comportamentos cada vez mais repetitivos de posse, controle, ansiedade ou medo de perder o parceiro podem indicar uma relação adoecida e, em muitos casos, abusiva.
“O excesso de ciúmes causa uma efeito de estresse no parceiro e a criação de situações fantasiosas que muitas não existem. Isso gera uma instabilidade emocional que pode causar sim um surto de agressividade”, explica a psicanalista Regina Braghittoni. Segundo a especialista, brigas e discussões se tornam cada vez mais frequentes com as relações fragilizadas.
Para a Dra. Andréa Stravogiannis, o ciúme excessivo pode contribuir para que situações irreais ou insignificantes sejam amplificadas em um relacionamento. A partir daí, comportamentos comuns como um aperto de mãos, um abraço ou o jantar com amigos são interpretados como infidelidade. “Buscas por provas, acusações e controle do parceiro passam a ser constantes”, destaca a especialista, que é coordenadora dos setores de pesquisa e tratamento do Amor Patológico e Ciúme Excessivo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Sinais de que o ciúme pode afetar negativamente uma relação
Um parceiro com ciúme excessivo provocará, na maioria das vezes, uma reação desproporcional à situação. “Costumo dizer que uma diferença significativa entre o ciúme saudável e o ciúme excessivo se dá pela estratégia falha de cuidado com a relação“, esclarece a Dra. Andréa Stravogiannis. Segundo a pesquisadora, o ciumento excessivo procura cuidar apenas de si mesmo, de suas angústias e medos, o que desemboca em um descontentamento do outro com a relação.
A psicanalista Regina Braghittoni lembra que o ciúme excessivo pode levar a comportamentos controladores e possessivos, o que afeta a confiança e a liberdade individual dos parceiros. “Na maior parte das vezes o ciúme patológico pode causar a sensação do vazio“, explica. Em casos como esse, ela recomenda a busca por um atendimento terapêutico especializado.
Braghittoni explica que alguns comportamentos são universais em relacionamentos abusivos, como um isolamento forçado e perda do contato com amigos e familiares. Mas não só isso, “pode ser a proibição ou manipulação, de certos tipos de roupa, por exemplo. O ciúme tira a liberdade, já que o parceiro ciumento vai querer sempre estar atento a suas conversas ou suas redes sociais”, acrescenta.
Para a Dra. Andréa Stravogiannis, essa é uma tentativa de precaver o encontro com eventuais “rivais”. Há uma tentativa de prever e controlar situações que eles acreditam serem ameaçadoras. “Os ciumentos excessivos optam por não correr riscos. Preferem ficar em casa com a pessoa amada”, destaca.
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Como saber se o ciúme em excesso está afetando a relação?
Autora do livro Ciúme Excessivo & Amor Patológico: quando o medo da traição e do abandono se torna uma obsessão*, a psicóloga e neuropsicóloga Andrea Stravogiannis explica que há alguns caminhos para identificar o problema e superá-lo em casal.
“Fomos criados com a ideia de que para viver um grande amor é necessário que haja dor. Novelas, filmes, peças de teatro nos apresentam personagens apaixonados que sofrem por ciúme e paixão. Mas isso não é saudável”, enfatatiza.
- Quando o ciúme se torna um problema:
- Se há uma suspeita infundada de traição ou perda da confiança de forma repentina, é importante avaliar a situação;
- É perigoso quando os ciúmes influenciam os pensamentos, sentimentos e, consequentemente, os comportamentos das pessoas que o sentem;
- Cobranças excessivas, controle das redes sociais e da vida pessoal do parceiro são um sinal preocupante;
- Controle das situações e privação do parceiro à visita de familiares e amigos.
- Como superar o ciúme a dois:
- “As pessoas que sentem ciúme não querem ser culpadas, rotuladas e nem terem os dedos apontados em sua direção. Portanto, dizer isso ao parceiro é uma forma de pedir ajuda“, explica Andrea Stravogiannis;
- Sugira uma conversa com o parceiro para que os dois possam dialogar sobre esse sentimento;
- “Tentem, juntos, identificar o que provoca o ciúme, por exemplo: será que o ciúme tem a ver com excesso ou falta de liberdade? Será que a espontaneidade de um dos lados fere o outro, que é tímido?”, sugere a psicóloga;
- Busque atendimento terapêutico especializado e, se necessário, terapia de casal.
Quando o ciúme é normal
O ciúme não é necessariamente um sentimento que precisa ser descartado de uma relação. Pelo contrário, em doses certas pode contribuir para a manutenção de um relacionamento saudável. “Pode ser considerado natural e até trazer brilho para relações que estão enfraquecidas pela rotina, fazendo as pessoas se sentirem bem-queridas e amadas”, explica a psicóloga Andrea Stravogiannis.
No entanto, segundo a especialista, para ser considerado normal, precisa ter um caráter passageiro, estar baseado em fatos e transmitir uma mensagem de cuidado. “Cumpre o objetivo de preservar o relacionamento, sem prejudicar o casal e a relação e sem limitar o espaço do outro”, completa.
Em outros casos, quando há a presença de sintomas relacionados à ansiedade e à depressão, é importante que haja uma investigação. “O fato de a pessoa não se sentir querida e amada, com menos valia, e por passar boa parte do tempo achando que está sendo traída, gera insegurança e baixa autoestima, o que pode levar à depressão”, afirma a psicóloga.
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