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Ansiedade atrapalha ou é um empurrãozinho para a criatividade?
Jr Korpa - Unsplash Unsplash
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Boa parte da população, 9,3% da população brasileira, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) sofre, em algum nível, de ansiedade.  E qual o impacto disso na criatividade: a ansiedade atrapalha a criatividade ou funciona como um impulso para os processos criativos?

“Nós dispomos de um centro de alerta, um sistema que é muito importante no dia a dia que reage toda vez que nos deparamos com algum tipo de estímulo”, explica Gustavo Estanislau, psiquiatra e membro da equipe do Ame sua Mente. “Por exemplo: quando uma pessoa bate à porta, vou atravessar a rua ou tenho de me preparar para uma prova, são estímulos que levam a uma reação de alerta e é importante entender que um nível de ansiedade é benéfico e precisamos dele.”

O problema é quando a ansiedade gera prejuízo. Para a neuropsicóloga Ana Paula Pissarra, a ansiedade se refere a estar preocupado com frequência, sempre pensando no futuro, mas de forma negativa, estar em estado de alerta. O indivíduo fica inseguro, acreditando que algo não vai dar certo, ou algum acontecimento ruim possa acontecer a qualquer momento.

Quando esse sistema de alerta começa a disparar de uma forma desproporcional aos estímulos, esse quadro pode ser considerado como ansiedade patológica e faz com que a pessoa ou problematize demais as coisas, ou se esquive delas.

E o que é criatividade?

A criatividade pode ser entendida como a capacidade que o ser humano tem de criar ideias novas por meio de experiências e referências que adquirimos ao longo da vida.

“Uma pessoa criativa, já explicita na infância e não sendo podada e reprimida, essa característica persiste para toda a vida”, destaca Ana Paula. “É algo natural, desenvolvendo ideias, criações, inovações, o fazer diferente. Algo totalmente espontâneo e natural, em que a inspiração transforma, inventa. É aquele que pensa diferente e a motivação é o seu motor para seguir com sua ideia e/ou resolver determinado problema, sendo extremamente flexível.”

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Ansiedade versus criatividade

A ansiedade, como observa Gustavo Estanislau, faz com que a pessoa se esquive de experiências, de pensamentos sensíveis e de oportunidades de vida. “A pessoa ansiosa acaba prejudicando bastante a criatividade, que é um processo que demanda experiências de vida para criar coisas novas. Geralmente a criatividade vem dessa combinação de experiências de pensamentos que coletamos ao longo da vida.”

Para os especialistas, as pessoas muito ansiosas têm uma tendência a ficar mais focadas em problemas e fogem de coletar informações novas, preciosas para desenvolver um processo criativo. Além disso, como avalia Estanislau, a ansiedade também afasta a pessoa de momentos de relaxamento e de tranquilidade, que também são importantes para pessoa poder criar.

“Se temos uma pessoa extremamente ansiosa, que está o tempo todo com a sensação que não vai conseguir algo, que não é capaz de realizar tal coisa, que não consegue se concentrar devido a sua inconstância de pensamentos e ações, ela não acessa o potencial criativo, pois o cérebro está em alerta, em um sistema de sobrevivência, e não há espaço para o potencial criativo, pois as vias cerebrais não permitem, por estarem em sinal de alerta e sobrevivência. A insegurança também lhe remete a bloquear a criatividade, gerando ansiedade extrema”, observa Ana Paula.

Em alguma medida a ansiedade pode auxiliar a criatividade?

“Essa é uma pergunta interessante e me fez quebrar a cabeça”, brinca Estanislau. “Fico pensando que a ansiedade é um fenômeno que muitas vezes flutua, sendo assim até pode gerar experiências novas também. Preocupações com coisas diferentes e tudo que é pensado de formas diferentes, pode se transformar em conteúdo para criatividade em determinado momento”, diz. “Assim, qualquer tipo de experiência como uma tristeza profunda ou como a ansiedade podem se transformar em conteúdo base para o processo criativo.”

Para Ana Paula, a ansiedade pode facilitar o potencial criativo quando o sujeito a utiliza no sentido de completar um desafio, de realizar algo. “Ele está motivado e focado, sem pensamentos negativos ou intrusivos, ou com a sensação de fracasso. O seu interesse pelo em pauta é único e ali a ansiedade funciona, pois tem um propósito e tem o impulso da conquista, da criação, de alcançar algo.”

E conclui que para ter uma mente criativa é preciso estar bem, estar seguro de si, confiar, não ter medo de errar. Estar com a mente livre de pré-julgamentos, que são inibidores do potencial criativo. É explorar, testar, buscar o seu objetivo, sem criar obstáculos. Caso a pessoa não consiga acessar o seu potencial criativo em determinado dia ou momento, é importante fazer algo que relaxe, como ouvir música, descansar, meditar, entre outros.

“As práticas meditativas são excelentes, como mindfulness (atenção plena) e outro tipo de meditação, que a partir da autoconsciência e relaxamento, ocorre uma abertura (diminuição da crítica, julgamento, entre outros), acessando a criatividade que todos nós temos. O autoconhecimento nos promove a ter autoconfiança, e sabermos o que de fato podemos explorar e ter sucesso, ampliando significativamente a capacidade para criar. Vale a máxima: ‘Conhece-te a ti mesmo’ e dominaras todas as tuas capacidades, sem limites.”

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