9 atitudes para garantir a sustentabilidade no dia a dia
Novos hábitos e pequenas atitudes podem fazer a sua rotina se tornar mais ecológica, ajudando a cuidar do planeta e inspirando uma transformação coletiva É nas nossas escolhas que moram as pequenas – e grandes – mudanças. E uma vida mais simples também é uma vida mais consciente, alinhada aos cuidados com a Terra, […]
Novos hábitos e pequenas atitudes podem fazer a sua rotina se tornar mais ecológica, ajudando a cuidar do planeta e inspirando uma transformação coletiva
É nas nossas escolhas que moram as pequenas – e grandes – mudanças. E uma vida mais simples também é uma vida mais consciente, alinhada aos cuidados com a Terra, com o planeta. Enquanto ainda há gente que torce o nariz para o assunto e não quer saber nem de separar o lixo, outras se inspiram em uma nova forma de viver – e, assim, despertam para uma conexão maior com a vida e com a natureza. É um caminho sem volta.
Quando falamos em sustentabilidade, precisamos, em primeiro lugar, lembrar que não existe “jogar fora”: tudo continua aqui, no nosso planeta, gerando impacto na nossa vida e nas gerações que virão. Afinal, não tem planeta B. A situação atual é um tanto assustadora, mas não há como fechar os olhos para tantos números – somos o quarto país que mais produz lixo plástico no mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia. Entretanto, somos os que menos reciclam: apenas 1,2% do nosso volume total vira algo novo.
E onde vai parar todo esse volume de lixo?
Em parte, nos aterros sanitários, onde a decomposição não tratada também afeta o solo e contamina a água, além, é claro, de gerar mais gases negativos para a atmosfera. Outro destino são os mares: a estimativa atual é a de que cerca de 25 milhões de toneladas de resíduos sólidos sejam despejados nos mares anualmente. É como se fosse um caminhão de lixo cheio fosse esvaziado nas nossas águas a cada minuto, prejudicando a vida marinha e todo o ecossistema. Tudo está mesmo interligado…
Cuidar da Terra também tem a ver com repensar nossos hábitos de compras e até do que colocamos no prato. Afinal, tudo gera algum impacto – e estar consciente de cada um nos permite escolhas melhores. No conceito de sustentabilidade, repensar, reduzir, recusar, reutilizar e reciclar (conhecidos como 5Rs) apontam atitudes para uma vida um pouco mais consciente. Quando compramos algo, desfrutamos dele e finalizamos um ciclo, o consumo não acaba por ali. Para onde ele vai também é responsabilidade nossa. O desejo, aqui, é lembrar você da autorresponsabilidade, do que cada um pode fazer a cada dia, em busca de uma rotina mais ecológica.
Quem deseja se tornar mais sustentável, mas ainda não sabe exatamente como, encontra neste pequeno manual algumas pistas e caminhos, sementes que poderão fecundar em você e germinar mudanças nos seus hábitos, na sua casa, e em quem está por perto.
REPENSE O PLÁSTICO
Comece a reparar como o plástico está presente por todos os lados e você vai ficar assustado. Do cotonete às sacolinhas que aceitamos a qualquer compra, ele está por toda parte. O problema é que o plástico é feito a partir do petróleo, uma fonte não renovável, e ainda por cima leva centenas de anos para se decompor – enquanto isso, prejudica a vida marinha e causa outros tantos problemas ambientais. E os dados do consumo são mesmo de assustar: cada brasileiro produz 1 kg de lixo plástico por semana, segundo um relatório publicado pelo WWF. Há quem use a reciclagem como argumento para não se preocupar com o assunto, mas vale lembrar que nem todo material é reciclado e, hoje, uma pequena parcela dele segue para um novo uso. Daí, reduzir ou eliminar o uso do plástico é a tarefa básica para uma rotina mais ecológica e sustentável.
RECUSE DESCARTÁVEIS
Uma simples compra de mercado pode se converter em dezenas de sacos plásticos que vão direto para o lixo – e levarão centenas de anos para se decompor. Mas recusar esses saquinhos pode ser
mais simples do que parece. Olha só: para substituir sacos plásticos e bandejas de isopor, prefira as seções a granel e leve seus próprios sacos de pano e potinhos com tampa. Ao finalizar as compras, recuse as sacolas plásticas – mesmo as biodegradáveis. Tenha sempre com você (na bolsa, no carro) algumas sacolas reutilizáveis, as ecobags. Se esquecer, antes de sucumbir às sacolas, peça por uma caixa de papelão. Aos poucos, a prática se torna automática e logo fará parte da sua rotina. Outra dica importante: ao escolher seus alimentos, prefira os orgânicos, que garantem
um cuidado do produtor com a terra e toda a cadeia de produção, do plantio à entrega.
POUPE ALIMENTOS
Cada brasileiro joga mais de 40 quilos de comida no lixo, todos os anos. Isso significa que recursos utilizados na agricultura para produzir esses alimentos também foram em vão. O primeiro passo é comprar o que realmente vai consumir. Na cozinha, experimente usar os alimentos em toda a sua potência: talos, folhas, frutos, insumos que sobram após coar um suco. Depois, experimentar a compostagem é um jeito de entender que os alimentos se regeneram e podem virar adubo, não lixo. Esse processo também nos ajuda a ressignificar a relação com a comida no pós-consumo. Há versões compactas, perfeitas para apartamentos, por exemplo. Voltando para a pia, outra troca também ajuda você a ser mais ecológico: substitua a esponja convencional de lavar louças pela bucha vegetal, que é barata, vem da natureza e ainda é 100% biodegradável.
REPARE NO BANHEIRO
O desperdício neste cômodo vai muito além de um longo banho. Quantas escovas de dente você já descartou ao longo da vida? Se seguirmos a recomendação dos dentistas e fabricantes, trocamos
de escova a cada três meses, o que gera um resultado de ao menos quatro escovas de dente jogadas fora a cada ano. O primeiro passo é destiná-las à reciclagem e, ao escolher uma nova escova, prefira as versões biodegradáveis, como as de bambu. Troque os sabonetes da grande indústria por versões artesanais: valorizar as marcas locais também é sustentabilidade. Para quem não dispensa um cotonete, que ocupa a terceira posição em volume de lixo plástico não biodegradável no oceano, vale buscar versões com haste de papel. Ah, e o baldinho de lixo?
Em vez de usar sacolinhas plásticas, opte por saquinhos de papel, reutilizando sacos de pão ou fazendo dobradura com jornal.
OLHE PARA A BELEZA
A indústria da beleza gera um impacto quase invisível, mas muito prejudicial. Muitas marcas entregam fórmulas nocivas à saúde e ao meio ambiente. O caminho é um olhar atento aos rótulos:
petrolato, por exemplo, está presente em muitas loções corporais e não é solúvel em água. Por isso, está ligado a uma poluição que agride a vida marinha. Outra substância indesejada é o polietileno, que aparece como microesferas de plástico em diversos produtos. Essas bolinhas, de tão minúsculas, não passam pelo tratamento de água e vão parar nos oceanos. Marcas conscientes,
normalmente certificadas por selos que garantam uso de insumos orgânicos e naturais, também se preocupam com a embalagem, trocando o plástico convencional pelo tipo vegetal, como o de cana. Ainda cuidam da logística reversa e orientam o consumidor no descarte de suas embalagens.
EVITE ABSORVENTES
Dez mil absorventes convencionais é o que uma mulher gastaria, em média, da puberdade até a menopausa durante seu ciclo menstrual. No Brasil, esse tipo de resíduo não é reciclável; então, mais lixo segue para os aterros, prejudicando o solo e o meio ambiente. O mais legal é que têm surgido alternativas cada vez mais simples para evitar o uso de absorventes descartáveis. Há as versões modernas, de tecido, laváveis e bem confortáveis, que são abotoadas na calcinha; os coletores menstruais, que são copinhos macios feitos de silicone cirúrgico e posicionados dentro da vagina (basta esvaziá-lo depois de algumas horas e colocá-lo de novo), e até calcinhas absorventes, com tecidos tecnológicos que retêm o fluxo sem vazar. Assim, evitam a produção de lixo plástico, reduzem o risco de alergias e aproximam a mulher de seus ciclos e seu corpo.
TENHA UM KIT VIAGEM
Já reparou quanto lixo uma simples refeição fora de casa pode gerar? Pois um kit lixo-zero, além de prático, ajuda a não sucumbirmos a lixos que não fazem o menor sentido. E é bem fácil de
montar o seu: em uma pequena ecobag ou necessaire de pano, leve sempre um par de talheres (os que você já tem em casa ou versões de bambu), um copo (os retráteis são muito práticos) de
um material resistente e seguro, canudo (no caso de tomar uma água de coco, já que boa parte das bebidas pode ser ingerida no copo mesmo, convenhamos) e alguns guardanapos de pano. Várias marcas hoje oferecem o kit pronto, o que traz praticidade, mas criar o seu também pode ser inspirador. O bom é que, assim, evitamos o uso de descartáveis, temos sempre à mão utensílios de que precisamos e ainda inspiramos mais pessoas em suas transformações.
CUIDE DAS ROUPAS
A indústria da moda está entre as mais poluentes do mundo, você já deve saber. Isso porque as fábricas que não têm responsabilidade com o meio ambiente exploram o solo, despejam rejeitos nos rios e, claro, ainda consomem muita água para produzir suas peças – uma calça jeans, por exemplo, demanda 8 mil litros para ser produzida. Sem contar a mão de obra, muitas vezes escrava, que precariza a sociedade. Considerando que boa parte da matéria-prima sintética não é reciclada, a saída é uma vida dupla: comprar cada vez menos e prolongar ao máximo a vida útil do que já temos. Na primeira solução, não basta comprar pouco; é preciso fortalecer marcas conscientes, locais e sintonizadas com os alicerces da sustentabilidade. Na segunda, criatividade e colaboração para reutilizar, reforçar, doar e trocar peças são algumas boas ações fashion.
DESACELERE
A falta de conexão com a natureza, como se ela fosse algo lá bem distante da gente, dificulta nosso entendimento de que tudo o que fazemos neste mundo altera o curso das nossas próprias vidas
e de futuras gerações. A pressa, a zona de conforto e a individualidade também. Nesse contexto, um movimento global, o slow living, que propõe uma rotina mais desacelerada, nos permite um olhar atento e sensível ao impacto que causamos com as nossas escolhas diárias. E, sobretudo, uma visão da natureza em sua potência sagrada – não uma coadjuvante desse planeta que
habitamos. Assim, fica mais fácil manter essa conexão mesmo vivendo entre prédios e asfalto. É hora de cultivar a ideia de que somos a própria natureza.
MARCELA RODRIGUES é jornalista, designer para a sustentabilidade e criadora do portal aNaturalissima.
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