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GENTE INCRÍVEL – O amigo de quem vive nas ruas
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A história do padre paulistano dedicado a cuidar e a apoiar aqueles que foram colocados à margem da sociedade

“Fique em casa.” Foi a frase que chegou junto com a pandemia da Covid-19. “Mas onde é a nossa casa? A calçada?”, se perguntavam os moradores de rua, sem um endereço para se proteger do vírus. O que lhes restou foi assistir à corrida das pessoas para dentro dos seus lares. Um homem, porém, preferiu dividir a solidão das ruas de São Paulo com quem não tinha um teto. “Se eu convivo com eles, não poderia neste momento ligar o botão e eles desaparecerem da minha vida”, lembra o padre Julio Lancellotti.

O religioso viu sua rotina mudar e se desdobrou para cuidar de muita gente. Conseguiu máscara e álcool em gel e construiu um lavatório para que pudessem lavar as mãos. Na Igreja São Miguel Arcanjo, da qual é pároco, acolhia uma multidão (cerca de 500, no início). Ele media a temperatura, dava alimento, identificava sintomas, entregava máscaras, ouvia seus temores e trazia palavras de conforto.

margem da sociedade

Por trás desses gestos admirados por tantos brasileiros, há um homem que encontrou a fé muito cedo. Os pais de Julio, que sempre cultivaram a espiritualidade, respeitaram a vontade do menino de 10 anos: ser seminarista. Só que ele não aguentou a disciplina rígida e voltou para casa. Fez uma nova tentativa aos 16 anos, mas algum tempo depois foi mandado embora, sob o argumento de que não servia para a vida religiosa. Então, cursou pedagogia e passou a dar aulas.

Nessa época, começou a trabalhar com abandonados e menores infratores na antiga Febem, hoje Fundação Casa. Em 1980, aceitou o conselho do bispo Dom Luciano Mendes de Almeida para fazer faculdade de teologia. Durante a graduação, acompanhou a médica sanitarista e pediatra Zilda Arns fundar a Pastoral da Criança. Quando se formou, em 1985, foi ordenado padre por Dom Luciano.

Padre Julio participou da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente e também inaugurou, em 1991, a Casa Vida, para acolher crianças portadoras de HIV que viviam segregadas. O religioso não se importa em ser descartado pelo sistema, como acontece com os moradores de rua e outras pessoas rejeitadas pela sociedade. “Quem está com o descartado é descartado também”, constata. E é exatamente assim que ele quer continuar vivendo os seus dias.

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