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    Dicas práticas para ser mais criativo
    Dragos Gontariu
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    Ser criativo é uma habilidade genética que vem desde o nascimento. Ela pode também ser desenvolvida com repetições, treinos e tentativas. É claro, algumas pessoas parecem ter muito mais facilidade para tocar um instrumento, desenhar uma paisagem cheia de detalhes ou pilotar um skate pela cidade. Por outro lado, essas atividades podem ser um verdadeiro desafio para muita gente.

    Apesar de muito nos determos ao senso comum, buscamos uma ajudinha da ciência para entender a criatividade. Para o psicólogo Jales Barreto, a criatividade é um conjunto de habilidades, tanto cognitivas, quanto comportamentais.

    “Todos nós temos criatividade, nós nascemos com a criatividade, não existe uma pessoa que não a tenha. Ao longo do nosso caminhar, da nossa vida, a gente desenvolve ou não”, explica o profissional.

     

    Desenvolvendo a criatividade

    Às vezes, nossas potencialidades criativas se perdem pelo caminho, mas sempre podemos resgatá-las, onde quer que estejam. Há pessoas que desenham “de olho fechado”, como costumamos brincar, outras têm uma enorme dificuldade para dar início a um estilo próprio e se soltar em meio à imensidão do papel, como era o caso da escritora e jornalista Ana Holanda.

    Ela, que sempre foi ótima com palavras, mas sentia dificuldades com ilustração, recebeu incentivo do então namorado para colocar seus riscos no papel, e assim nasceu uma série de desenhos com estilo tão único quanto sua própria escrita. Hoje, Ana compartilha o que aprendeu com seu curso “Cadernos de Escrita”, que ajuda a despertar a criatividade nas pessoas por meio do desenho e do estímulo à criação.

    A ideia é que as pessoas aproveitem as ferramentas do cotidiano para testar novas maneiras e aguçar a criatividade, é o que defende Jales Barreto. “Não tem como você dizer ‘fulano tem uma habilidade e eu não tenho’, muitas vezes é porque eu não me dediquei a desenvolver determinada habilidade para que eu possa usar aquela criatividade“, lembra o psicólogo. Até mesmo as pessoas que têm uma facilidade maior em tocar instrumentos precisaram de várias aulas para de fato aprenderem e muito treino para consolidar a técnica.

    Quando crianças, costumamos ter um pensamento questionador nato para tudo ao nosso redor, e essa é uma das principais características das pessoas criativas, se perceber no mundo, buscar respostas para perguntas que nos inquietam a todo momento. “A criança é aquele ser humano desenfreado, o que ela pegar quer saber, o porquê que é aquilo. E mesmo quando você coloca algo para a criança ela te questiona”, explica Jales. Já na fase adulta, precisamos nos adequar às necessidades da vida, ao trabalho, à rotina, e tudo vai ficando meio monótono, previsível e esperado, “o adulto vai muito para a racionalidade, ‘isso é dessa forma por isso’, e muitas vezes não vê os pormenores que cercam aquela questão”, complementa o psicólogo. 

     

    Quando a criatividade não é incentivada

    Mas a falta de criatividade está preocupando até o grupo das pessoas mais jovens. Um recente relatório da OCDE, que fez uma pesquisa com estudantes de 10 a 15 anos de dez cidades em diferentes continentes, mostrou que os adolescentes estão menos criativos, especialmente aqueles mais próximos da idade limite da pesquisa (15 anos).

    Para o diretor de educação da OCDE, Andreas Schleicher, os motivos podem ser diversos, desde uma maior presença da insegurança e constrangimento até uma dificuldade dos sistemas educacionais em estimularem os potenciais criativos. Sobre esse último ponto, Jales acredita que as instituições de ensino no Brasil ainda estão pouco preparadas para incluir a criatividade nas atividades cotidianas. Por isso que se fala da reforma da educação e uma série de fatores, a tendência [hoje] é que a gente siga por um caminho onde o nosso lado criativo não seja explorado”, justifica.

     

    Imagem: Alessandro Fernandes/Vida Simples

     

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    Enfrente seus medos

    Uma das principais barreiras do estímulo à criatividade são os medos que alimentamos, seja dando atenção às pressões da família, às opiniões dos amigos ou o simples temor de errar, como se algumas falhas pelo caminho fossem uma grande mancha na nossa trajetória pessoal.

    Vejamos este exemplo: a ponte sob um rio, casas com pintura branca, portas e janelas azuis, alguns coqueiros, um céu azul e roupas no varal… Essa é parte da descrição de O Mamoeiro (1925), um dos quadros mais famosos de Tarsila do Amaral, artista brasileira reconhecida internacionalmente. Certamente, para chegar aos belos quadros expostos hoje no Museu de Arte de São Paulo (MASP), na Pinacoteca e outros espaços culturais, Tarsila errou muito enquanto estava aprendendo. Não se aprende a andar de bicicleta na primeira tentativa, precisamos cair, perder o controle, nos desequilibrar, para aí sim ficarmos experientes no pedal.

    Julia Cameron, que publicou em 2017 O caminho do artista (Sextante), escreveu que “muitas vezes, é a ousadia, e não o talento, que leva um artista a ocupar seu lugar no palco“. Antes de se questionar sobre se você é capaz de fazer algo, se permita tentar, busque novos caminhos, faça rabiscos até chegar a um desenho que você esperou produzir, faça aulas de canto até ter a entonação desejada, e assim por diante.

    E se você está em um lugar que não favorece a criatividade, o psicólogo Jales Barreto estimula que você busque fazer as atividades de forma diversificada, “há atividades que precisamos seguir um padrão, mas você pode estimular a criatividade por meio da troca de informações com outras pessoas“, orienta.

     

    Ideias práticas para ser mais criativo:

    1. Elabore metas para desenvolver suas habilidades criativas;
    2. Estabeleça objetivos pessoais que respeitem o seu próprio ritmo de vida;
    3. Descubra quais são seus interesses e gostos ou quais você pode despertar ao longo do caminho;
    4. Tente fazer um caminho diferente de casa para o trabalho;
    5. Planeje atividades ao ar livre, vá à praia ou ao parque;
    6. Tente sair um pouco da rotina previsível;
    7. Programe visitas a exposições de arte, musicais, shows, peças de teatro;
    8. Permita-se viver e experimentar o que ainda não conhece.

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