O que um livro e um quebra-cabeça podem nos ensinar sobre a vida?
Neste mês, o Caro Estranho respondeu à pergunta da leitura Manu, que tem se sentido angustiada. Para ajudá-la, nosso colunista traz uma bela comparação entre as peças de um quebra-cabeça, as palavras de um livro e os desafios da vida.
Neste mês, o Caro Estranho respondeu à pergunta da leitora Manu, que tem se sentido angustiada ao atravessar uma fase de mudança. Para ajudá-la, nosso colunista traz uma bela comparação entre as peças de um quebra-cabeça, as palavras de um livro e os desafios da vida.
Caro Estranho,
Sou professora de pós-graduação e coach de carreira. O fato é que estou em uma fase de mudança, onde o que existe até então é importante, mas não serve mais. Porém, não sei também o que virá pela frente. E, como você deve imaginar, isto tem me causado certa angústia.
A questão é que sinto um chamado. Uma voz interior me diz que preciso escrever um livro. Mas sobre o quê? Não consigo pensar em um motivo para reunir a minha produção em uma obra. Então, de escritora para escritor, você tem alguma sugestão? Por onde começo?
Agradeço desde já,
Manu
Cara Manu,
Quando eu era pequeno, fui ao shopping com a minha mãe e me encantei com a imagem de certo quebra-cabeça. Soube, algum tempo depois, que se tratava de uma obra da pintora Tarsila do Amaral. Enfim, ganhei o brinquedo. Era enorme, mas eu estava determinado. Contudo, após uma semana debruçado sobre aquilo, chegou o momento em que quis desistir. Ao ver a cena, o meu pai me deu um conselho que pode parecer óbvio. “Calma, filho, é só encaixar peça por peça”, ele disse. E quer saber, minha cara? Foi assim que consegui terminar. E é assim que você vai escrever um livro.
“Palavra puxa palavra.” Foi o que nos aconselhou ninguém menos do que Machado de Assis. “Uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução.” Consegue entender aonde quero chegar, Manu? Então, em resposta à pergunta que você me fez, a minha sugestão é que você apenas escreva. Bastante. Não importa sobre o quê. Pelo menos, não agora. Atenda ao chamado que você diz sentir, pois ele é importante. Recomendo ainda que você também esteja determinada, mas tente controlar a ansiedade. Não pense no produto final. No tempo certo, o livro há de nascer.
Você sabe o que acho mais interessante em tudo isso? É que o conselho do meu pai e do Machado vale para a vida. Ou seja, não se trata de uma sugestão que ajuda só quem quer montar um quebra-cabeça ou escrever um livro. Mas serve também para a pessoa que quer construir algo, adquirir um novo hábito, começar um relacionamento e por aí vai. O problema é que o mundo nos cobra resultado e nos enche de pressa. Todo mundo quer tudo pronto para ontem. Você percebe isso em você, minha cara? Uma dificuldade em começar pelo começo e escrever palavra por palavra?
Você vai ver, Manu. Se você montar o quebra-cabeça, peça por peça, aquilo que você almeja vai brotar de forma espontânea. Não sei se você sabe, mas eu mesmo publiquei uma obra quase sem querer. O meu objetivo era apenas ajudar, por meio da escrita, quem me escrevesse de forma anônima. Então, dentro da mesma lógica, carta por carta, conheci um editor e o meu livro nasceu. E o mesmo há de acontecer com você. Para isso, torno a dizer, basta que você escreva. Sobre o que quiser e sempre determinada. Assim, uma ideia vai surgir e estou certo de que você vai saber o que fazer.
Um grande abraço,
Estranho
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CARO ESTRANHO (@caro_estranho) não sabe ao certo o que é ser um escritor, mas escreve na tentativa de ajudar o outro. Autor do livro homônimo, acredita viver em um mundo carente de amor e, sobretudo, de empatia. Não é médico, psicanalista ou psicólogo. É apenas alguém que tem fé na força de cada ser humano.
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