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Veja como usar citações de autores famosos e evitar ciladas
Magnet.me Foto: Magnet.me Uma mulher de pele branca, cabelo preso loiro e usando óculos está em frente a um laptop com cara de pensamento. Pensamentos, máximas e provérbios.
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Você costuma usar citações de autores famosos quando escreve nas redes sociais ou em outros textos de sua vida? Já aconteceu de ter confundido a autoria, mesmo em uma frase super conhecida? Reinaldo Polito fala em sua coluna sobre como é difícil descobrir que a frase atribuída a um autor é, na verdade, de outro. As confusões sobre créditos podem muitas vezes levar a enganos. Veja as sugestões de Polito para evitar esse problema.

Já fui enganado vezes suficientes para ficar com um pé atrás quando uso pensamentos, máximas e provérbios. Em certos casos, para mim, não havia dúvida de que o autor da frase era quem eu estava citando. Tempos depois, para minha surpresa e incredulidade, descobri que a autoria era de outra pessoa.

Só como exemplo. Sempre soube que a frase era de Charles Darwin: “Não é o mais forte que sobrevive, mas o que mais se adapta às mudanças”. Um bom pensamento para os dias de hoje, em que há tantas mudanças à nossa volta. E, dá-lhe Darwin. Até o momento em que descobri quem era o verdadeiro autor, Leon G. Megginson.

Por isso, de alguns anos para cá, só me valho de uma citação se eu tiver certeza da origem. Um dos recursos que me ajudam muito nessa tarefa é o “Dicionário Universal de Citações Nova Fronteira”, de autoria do pesquisador Paulo Rónai. Todas as citações mencionadas na obra trazem a fonte. Se, depois de pesquisar muito, eu não encontrar onde nasceu determinado pensamento, contorno a dúvida dizendo que aquela frase é atribuída ao autor.

Para iniciarmos a nossa discussão a respeito da importância das citações, nessa mesma obra citada, Rónai menciona a opinião favorável de um intelectual respeitado, Machado de Assis:

Diz o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras: “Sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres, brocados jurídicos, máximas, é de bom aviso trazê-los contigo para discursos de sobremesa, de felicitação e de agradecimento”.

Machado não está sozinho nessa defesa. Eno T. Wanke faz em “Pensamentos moleques” verdadeira apologia dessas frases: “Os provérbios são telegramas que os antigos nos deixaram para nos transmitir notícias de sua sabedoria”.

E o contraponto? Ninguém discorda? Sim, há autores que discordam até com veemência. O crítico e dramaturgo francês, Jules Lemaître, foi feroz no seu comentário: “Os pensamentos e máximas são um gênero esgotado e um gênero fútil”.

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10 cuidados para fazer um bom uso de pensamentos, máximas e provérbios

1. Bem, diante de tema tão controvertido, precisamos ter cautela e usar o bom senso na análise. Podemos considerar que o uso de um pensamento pelo pensamento apenas – máximas e provérbios incluídos – talvez seja pouco útil e até frustrante, mas, se ele identifica um contexto, instiga à reflexão e motiva à procura da obra que o originou, poderá influenciar de maneira decisiva na formação intelectual. É uma observação salomônica que pode contemplar tanto os críticos quanto os defensores dessa prática.

2. Para que um pensamento seja adequado é fundamental que ele seja usado de forma justa e sensata. Nós é que devemos decidir com inteligência a melhor maneira de incluí-los com propriedade na nossa comunicação. Essas ponderações servem tanto para a comunicação oral quanto para a escrita.

3. Não nos esqueçamos ainda de que o uso excessivo de pensamentos, quase sempre, motiva críticas: afinal, o que “ele” pensa sobre esse assunto? Será que não sabe raciocinar por si, e por isso só recorre ao que os outros disseram? Não é difícil deduzir que transformar uma fala ou um texto escrito em um repertório de citações é condenável.

4. Usadas de forma parcimoniosa e com justeza, elas podem produzir surpresas. O ideal é que se apresentem como apoio, complemento ou ilustrações das passagens mais relevantes da mensagem, e não que se transformem por si no próprio conteúdo. A não ser em casos excepcionais quando sua presença possa ser justificada. Na medida certa, e no momento conveniente os pensamentos tornam a exposição mais atraente e instigam o ouvinte a se envolver com interesse pelo raciocínio desenvolvido.

5. Lançar mão de uma frase de maneira adequada pressupõe, portanto, senso de oportunidade. Em circunstâncias que podem produzir tanto resultados positivos quanto negativos, dependendo de fatos e acontecimentos sobre os quais não haja controle, por exemplo, caberia com perfeição a frase de Machado de Assis: “O acaso é um Deus e um diabo ao mesmo tempo”. Uma frase curta e completa, com começo, meio e fim.

6. Lembro-me de certo orador que venceu um concurso de oratória pela beleza da frase que utilizou na introdução do seu discurso. Sua mensagem seria também de despedida dos colegas com os quais havia convivido durante um bom tempo. Ele estava visivelmente emocionado. Introduziu assim a sua fala: “Há palavras que choram e lágrimas que falam”. Aquelas palavras definiram, sem necessidade de retoques, o sentimento do grupo.

7. Devemos também ter cuidado com as frases batidas, que pelo excesso de uso se transformaram em chavões banalizados, como, por exemplo: quem não se comunica se trumbica, o sol nasce para todos, a união faz a força, uma andorinha só não faz verão, e outras pérolas semelhantes.

8. Outro aspecto que precisa ser ponderado no uso dos pensamentos é a autoridade de quem os formulou. Ainda que a frase seja perfeita para a ideia desenvolvida, se o autor não gozar do respeito e da admiração dos ouvintes, a melhor solução é deixá-la de lado.

9. Lembremo-nos também que se os ouvintes não respeitarem ou não gostarem do autor citado, haverá o risco de que transfiram para nós essa antipatia. Por esse motivo, evitemos citar autores polêmicos, mesmo que os admiremos.

10. Também será conveniente não incluirmos frases de pessoas que conquistaram grande popularidade como artistas, escritores de best-sellers, pois a tendência, por se tonarem muito populares, é a de que tenham sua imagem vulgarizada pelo excesso de exposição, a não ser que a pessoa seja efetivamente reconhecida como autoridade no assunto.


REINALDO POLITO (@polito) é mestre em Ciências da Comunicação, palestrante, professor nos cursos de pós-graduação em Marketing Político e Gestão Corporativa na ECA-USP e autor de 34 livros que já venderam 1,5 milhão de exemplares em 39 países. Sua obra mais recente é “Os Segredos da Boa Comunicação no Mundo Corporativo”.

Leia todos os textos de Reinaldo Polito em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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