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Só a sua companhia basta
(Foto: Freepik)
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Há algumas semanas, perdi um primo muito querido, aos 20 anos. Deixou essa terra enquanto dormia. A partida dele ainda é um mistério para a nossa família, e você pode imaginar o quanto tem sido doloroso enfrentar uma perda tão repentina e inesperada. A avó dele, minha madrinha, não pôde se despedir do neto. Na noite anterior, ela havia acabado de ser internada no hospital por estar com a saúde bem fragilizada, aos 85 anos. Teve alta na semana seguinte e eu cheguei a vê-la algumas vezes. Mas, hoje, decidi visitá-la. Tirei um dia de folga em Vida Simples para resolver coisas burocráticas e pensei “se eu abri a minha agenda para cuidar de problemas, também preciso abrir espaço para estar com quem eu amo”. E cheguei lá sem avisar. 

Entrei na sala da casa dela, onde passei tantos anos da minha vida, e encontrei embrulhado nas cobertas aquele corpinho frágil pela passagem do tempo, pelos abalos da vida e pelas enfermidades. Mas encontrei também um sorriso amoroso, de uma mulher que foi forte a vida inteira e que agora só precisava ter com quem partilhar sua dor. Então, sentei e ouvi. 

Nem sempre escutar é fácil. Aliás, hoje em dia, talvez tenha mais gente querendo falar. Ou escutando apenas para responder. A minha madrinha estava triste. Enfraquecida pelo seu quadro de saúde e lidando com a perda do neto (que deu a ela o título de avó, mas que também foi como um filho). Ela lembrou dele com saudades. Disse que ele estava tão radiante no meu casamento, e me contou que ele havia amado a festa, um dos últimos momentos nossos em família. Chorou, lamentou a partida tão prematura. Me perguntou se eu achava que ele tinha ido direto para o céu. E também se sentiu grata por ter podido viver com aquele garoto tão iluminado ainda que por pouco tempo. 

Venho aprendendo que suportar a dor do outro sem querer lhe apresentar uma solução, caminho ou palavra mágica é um gesto difícil, mas muito valioso. Porque tem horas que não há vocabulário que solucione ou caminho que resolva (na verdade, nunca há). Tem horas que a gente só precisa de companhia. E isso é tudo. Enquanto conversávamos, chegamos à conclusão de que nossa família, os Andrade – meu sobrenome materno – são muito amorosos, mas se declaram pouco. São generosos nos gestos, mas econômicos nas palavras de afeto. Por isso, disse a ela coisas que nunca tinha lhe dito antes. Como o quanto eu a amava e ela era especial para mim. Ela recebeu as minhas palavras com tanto amor… “Que coisa boa isso que você está me dizendo”.. E me agradeceu por eu ter ido lá escutá-la, por ter visto aqueles olhos verdes se banharem de lágrimas em vários momentos. 

Eu me despedi dela em um abraço longo e apertado. E com a promessa de voltar mais vezes, assim, num dia de semana qualquer. 

Desde a partida do meu primo, venho colecionando alguns aprendizados que compartilho com você agora, sem a pretensão de contar qualquer novidade, mas com o desejo de que algo possa te inspirar: 

1- Não se economiza afeto, nem se deixa o amor para depois;

2- Perder alguém tão jovem me lembrou de que a gente nunca sabe quanto tempo temos pela frente;

3- A rotina, por vezes, nos engole. Mas precisamos constantemente relembrar aquilo que é inegociável, como o tempo com aqueles que amamos;

4- Sempre há alguém perto de você que só precisa dos seus ouvidos atentos e olhar amoroso. É de graça e vale muito. 

5- Dizer para alguém o quanto aquela pessoa importa para nós é estar em paz com a relação.

6- A vida merece ser celebrada em cada oportunidade. São essas as memórias que dão força para seguir.


Conteúdo publicado originalmente na newsletter da Vida Simples. Cadastre-se para receber semanalmente em seu email a newsletter Simplesmente Vida, com cartas exclusivas de Débora Zanelato, diretora de conteúdo de Vida Simples.

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