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Quem são as pessoas que mudam o mundo?
Eugene Chystiakov
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Neste artigo:

Adoro as sincronicidades, essas “coincidências” que chegam sempre com algum propósito. Elas me movem. Em muitos casos me fazem inclusive parar para escrever. E escrever, pra mim, também é refletir. Refletir, nesta coluna de hoje em Vida Simples, sobre…“Quem de fato muda o mundo?”, “Quem são as pessoas capazes de nos mostrar um sentido mais profundo da essência humana que nos conecta?”

Antes da reflexão que me traz a esse texto, deixa eu contar a sincronicidade primeiro.

Semana passada, li uma matéria especial em um portal de notícias sobre uma mãe que adotou uma criança com paralisia cerebral há mais de 20 anos. Ela falava sobre os desafios que vivia no processo, mas que oferecia o melhor que podia na criação de seu filho. As fotos que ilustravam o texto e a maneira honesta e natural como ela relatava sua rotina me tocaram em algum nível mais sutil.

Sempre admirei pessoas que encaram suas ações e escolhas com uma certa honestidade intrínseca, pessoas que se ocupam apenas do ato em si, como se a vida e seus afazeres encontrassem sentido em cada momento de sua existência. Penso que é neste lugar que mora a potência humana.

O Universo “materializou” a reportagem

Fiquei com a reportagem na memória naquela manhã e logo depois sai para tomar uma “vitamina D” natural numa praça aqui perto de casa. Aliás, nestes dias de julho, nada mais gostoso do que um solzinho na moringa para aplacar os dias mais frios desse inverno.

Alguns minutos depois que eu estava sentado num banco, uma senhora, empurrando um rapaz numa cadeira de rodas, se sentou num outro banco distante alguns metros de onde eu estava.

Ela tinha solto como se fosse uma pulseira em seu pulso um radinho de pilha, desses comprados em qualquer camelô da esquina. Do pequeno aparelho era possível ouvir, bem baixinho, uma canção de Belchior…

Enquanto refletia com a cena, um tanto literária diga-se de passagem, “conectei” a mensagem que o Universo me trazia e, poucos segundos depois, fui conversar com ela. Era como se a reportagem, que lera há pouco, se “materializasse” a minha frente através de outra história de uma mãe e seu filho.

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Dona Débora me contou que Claudio nasceu com paralisia, o que lhe impunha sérias limitações motoras e de fala. “Ele gosta muito de passear e essa praça é um lugar que sinto que o acalma”, me relatou a senhora que não esconde, em cada vinco de seu rosto, o trabalho um tanto laborioso para cuidar do filho que trouxe ao mundo há 22 anos.

Foram alguns minutos de conversa, tempo suficiente para que sentisse o quanto a vida e toda sua complexidade, muitas vezes expressa mais na fé do que na certeza, passa por muitas pessoas incríveis que cruzam nosso caminho a todo momento.

São pessoas que se “apresentam” para vida. E, ao se apresentarem, ajudam a sustentar uma espécie de “base psíquica do mundo”. E aqui está a reflexão que trago nesta minha coluna.

O trabalho silencioso das pessoas que mudam o mundo

São pessoas como Dona Débora que (também) mudam o mundo.

A nossa cultura, via de regra, valida e celebra aquelas pessoas que estão lá fora em grandes plataformas, falando para milhões de pessoas. Sim, claro, tem muita gente boa e com alcance fazendo coisas incríveis, mas tem também os que trabalham em silêncio, cuidando de apenas uma pessoa, ou de um pequeno grupo, ajudando alguém com dificuldade de atravessar a rua, trocando as fraldas de um idoso acamado, cuidando de crianças nas creches…..

Ninguém celebra isso, ninguém diz: “você está mudando o mundo”. Mas elas mudam o mundo. Mudam o mundo porque estão fazendo essa escolha na ausência de qualquer benefício do ego.

Muitas fazem por amor, como o caso da Dona Débora e tantas outras por esse mundo afora. Essas ações são tão ou mais importantes quanto as que têm sucesso.

Deixa eu continuar minha reflexão que agora me leva por outras direções.

Menos intelecto e mais coração

Tem um mundo novo nascendo e ele será habitado por pessoas mais dispostas a um olhar mais humano, mais verdadeiro.

Sei que é difícil para muitos enxergá-lo, afinal, tentamos entendê-lo apenas com o intelecto. Mas é exatamente aí que está o erro.

A mente sempre diz que não é possível pois está imersa em causalidade baseada na força. Sempre foi assim desde que deixamos o materialismo, o mundo cartesiano nos alcançar como única tábua de salvação. Bom, senão será na força, nos resta confiar em outra coisa.

Teremos que confiar que existe uma inteligência no mundo maior do que nós mesmos, que existe uma tendência orgânica ou vontade de organização, beleza e complexidade que é infindavelmente misteriosa. Portanto, não temos que saber como isso vai acontecer, nem temos que lutar contra o mundo para que isso aconteça.

Em vez disso, começamos ouvindo: Qual é a minha parte? Onde devo estar e o que devo fazer? É a partir desse lugar que talvez nos tornemos capazes de criar um mundo novo, um mundo de mais poesia e menos articulação, de mais dança e menos controle….

Voltei pra casa refletindo (o que é um pleonasmo para um geminiano como eu, hehe). Como a vida conversa com a gente o tempo todo…

Adorei conhecer a Dona Débora.

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