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Por que sentimos o tempo passar mais rápido?
Mitchell Hollander | Unsplash
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Neste artigo:

O tempo se reflete no nosso mundo interno, na maneira como reagimos a ele nas diversas fases da vida. Acontece que, com a chegada da vida adulta, tudo muda. Parece que entramos numa dimensão em que tudo precisa ser acelerado. É o início de uma contagem regressiva.

Você também sente que o tempo está voando?

Conversando com a Andréia, minha esposa, nos demos conta de que já estamos em maio, praticamente na metade do ano.

Com certo espanto lhe disse: “Parece que o Réveillon foi semana passada, ainda sinto o cheiro do perfume do Cerrado Brasileiro” — região que escolhemos para dar as boas-vindas a 2022. É incrível essa sensação de que os anos estão mais “curtos”.

Já li que de acordo com cientistas o eixo da Terra tem girado muito mais rápido do que o normal nos últimos 50 anos e que essa nova rotação faz parte da própria evolução do planeta. A Terra e toda a Galáxia estão em expansão.

Acredito que esse fenômeno de fato esteja ocorrendo, mas não atribuiria somente a ele a percepção de que tudo está mais acelerado. Há um pouco de nós nesta dança cósmica.

Na coluna desta quinzena em Vida Simples, vou trazer alguns insights que têm me levado a acreditar que o tempo também se reflete no nosso mundo interno, na maneira como reagimos a ele nas diversas fases da vida.

Nosso mundo interno

Quando criança, muitas vezes sentia a eternidade num único dia. No Natal então… hummm! Era como se o tempo tivesse parado. O ponteiro que marcava os segundos do relógio girava como se fosse o ponteiro marcador de hora e a meia-noite do dia 24 demorava a chegar para que eu pudesse abrir os presentes. Como o tempo era lento…

Já na minha adolescência o tic-tac do relógio acelerou um pouco, mas, ainda assim, sentia como se o tempo quisesse me impedir de chegar aos 18 anos. Alcançar a maioridade, poder tirar carteira de habilitação, me “sentir” mais dono da própria vida, parecia pertencer ao dia de “São Nunca”. Como demorei para completar 18 anos…

Acontece que com a chegada da vida adulta tudo muda. Parece que entramos num portal que nos leva a uma dimensão em que tudo precisa ser alcançado, contemplado, nada pode nos escapar. É o início de uma contagem regressiva.

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Síndrome da pressa

Durante muito tempo da minha vida, vivi uma espécie de “síndrome da pressa”. Saía de uma tarefa para a outra como se o dia fosse uma grande linha de produção, seguida de algo mais após o expediente.

Almoçava sem me dar conta do que mastigava, me mantinha conectado com WhatsApp, e-mails e telefones de uma maneira que sempre me sentia fora de mim. Sem contar que conversava mais com a minha mente do que com qualquer interlocutor.

É claro que em algum momento a vida me cobraria, afinal, é impossível dar conta de tudo. E foi o que aconteceu. Há quatro anos estive bem próximo de um burnout, o que me obrigou a repensar a minha jornada.

Depois que tirei um sabático em 2018, muita coisa mudou. Tenho refletido sobre a maneira como estamos vivendo nestes últimos tempos. Nas conversas que mantenho no meu podcast, o 45 Do primeiro tempo e também no documentário que produzi em 2021 — “Pausa – O intervalo do Mundo”—, pude perceber que realmente estamos imprimindo um ritmo de vida que tem nos adoecido. Isso ganhou visibilidade com a chegada da pandemia, período em que fomos obrigados a repensar nossa forma de viver.

VALE A PENA: Fazer uma pausa traz mais benefícios do que se imagina

Tecnologia e automatismo

Não me esqueço da fala de um dos personagens do “Pausa” que, com um exemplo rotineiro, nos mostra o quanto as coisas mudaram de uns tempos para cá.

“Antigamente você ia a um médico ou a um dentista e, chegando lá, a consulta atrasava. Você olhava para o lado, via na mesinha uma revista velha e logo a abandonava. Era o momento, então, em que pensávamos na vida, sentíamos um silêncio interno, até que chegasse a hora do atendimento”.

E ela continua: “Que horas a gente faz isso hoje com a chegada da tecnologia, dos smartphones e redes sociais? Acabou o pensar na vida. Não damos uma pausa, não existe mais o vazio”.

A tecnologia trouxe avanços preciosos para vários setores da nossa vida, mas precisamos aprender a usá-la e um bom começa para isso é reduzir esse bombardeio de estímulos visuais e auditivos que nos sequestram a atenção e nos tiram do eixo.

Como ela mesma diz: “Nós nascemos originais e morremos plágio”. Precisamos voltar a ser um pouco criança e sentir o tempo em sua plenitude.

Por uma vida mais sutil

Nesta minha fase de mochila mais leve, tenho procurado sutilizar um pouco a vida e a melhor maneira que encontro para isso é estar mais próximo da natureza. É incrível como ela nos ensina a operar em uma outra frequência.

Semana passada, aproveitei o feriado de Tiradentes e caí na estrada. Foram dias deliciosos em Carrancas, no sul de Minas Gerais.

Um dia antes de retornar, quase lamentando que a viagem estava chegando ao final, sentei-me de tardezinha em frente ao chalé em que estava hospedado, cuja vista se estendia num degradê de verde para um vale de vegetação rasteira. Cenário lindo. O sol estava quase se pondo.

Em segundos, minha atenção foi capturada por dois enormes pássaros que flanavam no horizonte.

Eles riscavam o céu numa lentidão perfeita, ora pra um lado, ora pro outro, como se cada movimento surgisse naquele exato instante. Não havia caminho, nem rota: apenas o bater das asas num céu a perder de vista.

Fiquei observando-os por um tempo e não tive como não contemplar aquele momento.

Algo soprou no meu ouvido: “O tempo é agora. Só existe o agora”.

Leia todos os textos de Patrick Santos em Vida Simples.


PATRICK SANTOS (@patricksantos.oficial) é jornalista, escritor e apresentador do podcast 45 Do primeiro tempo que semanalmente traz histórias de pessoas que se reinventaram. Depois do sabático em 2018, tem procurado sutilizar mais a vida.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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