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Os encontros (e desencontros) da comunicação a distância
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O mestre Reinaldo Polito, especialista em Comunicação Oral, estreia-se como colunista na Vida Simples e fala sobre as melhores práticas no Zoom, Teams e outros “terrenos” do encontro virtual.

Era o início da pandemia. As pessoas ainda não sabiam bem do que se tratava. Alguns, mais assustados, se impuseram um isolamento rigoroso, independentemente das exigências governamentais. Outros, mais céticos, encaravam como uma onda passageira, como tantas outras que enfrentamos.

As autoridades médicas e políticas iam para as emissoras de rádio e televisão dar sua opinião a respeito da situação. Quase todos tentavam acalmar a população dizendo que não seria preciso cancelar o Carnaval, nem se privar das atividades normais. Bastava que tivessem um pouco de cuidado, que usassem máscara, lavassem as mãos com água e sabão — ou com álcool em gel — e estaria tudo controlado.

A situação era mais grave

Não demorou muito para que descobrissem que a condição era muito mais complexa e grave do que imaginaram num primeiro momento. Pessoas próximas morreram e outras ficaram dias internadas sem muitas chances de sobrevivência. As autoridades, perdidas, davam orientações desencontradas. Alguns diziam para que ficassem em casa, e só procurassem o hospital quando estivessem com dificuldade para respirar. Outros, ao contrário, alardeavam que era preciso esperar um pouco até que muitos fossem contaminados, pois dessa forma, assim como acontece com as gripes, em pouco tempo criariam anticorpos e o problema seria superado.

Mas a vida precisava continuar. Rafaela, por exemplo, uma menina de apenas cinco anos, assim como seus coleguinhas, tinha de seguir seus estudos, só que não podia ir à escola. Era preciso encontrar soluções para que aquele caso fosse contornado. Assim como acontece com quase todas as crianças hoje em dia, sua familiaridade com celulares e computadores foi a salvação. Os pais se reuniram, a distância, com os professores e diretores e decidiram que as aulas poderiam ser ministradas pela plataforma Zoom.

comunicação a distância

No início foi mais complicado

No início tudo pareceu muito difícil e complicado, mas em poucos dias lá estava Rafaela e seus coleguinhas fazendo as lições como se sempre tivessem agido assim. Um ano depois, Rafaela sente falta da convivência presencial com a turma da escola, mas enquanto a pandemia não passa, continuou aprendendo com as orientações remotas.

Não só os alunos tiveram de se adaptar, mas também, e principalmente, os professores. Descobriram com erros e acertos que para serem atraentes as aulas on-line deveriam ser diferentes das presenciais. Diante das câmeras, as crianças ficavam mais dispersas de quando estavam na escola. Perceberam que a interatividade precisaria ser mais intensa, que os momentos de pausa também tinham de ser modificados. Já que para não cansar excessivamente os pequerruchos, os intervalos teriam de ser mais frequentes. E dessa forma, todos aprenderam, alunos, professores e os pais.

E os encontros sociais?

Falando em pais, alguns já estavam mais ou menos acostumados com as reuniões a distância. A vida profissional já passava por essa adaptação havia um bom tempo. Ocorre que nem só de trabalho vivem as pessoas, elas tinham de continuar com suas atividades sociais. Como não podiam sair de casa, os aniversários, casamentos, festas de final de ano e outras comemorações — até funerais — agora eram feitos virtualmente.

E aí, como se comportar nessas ocasiões? Que roupa vestir? Afinal, como estavam dentro de casa, será que poderiam usar trajes mais simples, ou deveriam se comportar como se estivessem no evento, e por isso também com roupas adequadas à ocasião?

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Pode parecer banal para alguns, mas muita gente recusou convite para participar desses encontros porque havia dúvida com relação à etiqueta. Preferiam esperar um pouco mais, acompanhar como os outros se comportavam, e depois, já com os exemplos a serem seguidos, participar de maneira mais confortável. Por isso, se você convidar alguém para um encontro virtual e a pessoa recusar, não fique magoado, nem se sinta rejeitado. Provavelmente ela ainda se sente insegura para esses momentos.

Situações hilárias

Aconteceu de tudo nessas reuniões. Alguns, sem se dar conta de que o que faziam em casa poderia ser visto na tela por todos os participantes, entravam e saiam da sala trajando apenas roupas íntimas. E, em certos casos, até sem nenhuma roupa. Embora muita gente se divertisse com o fato, o certo é que o constrangimento era muito grande. Estou me referindo ao passado, mas ainda hoje essas cenas se repetem, até com alguma frequência.

É evidente que ninguém precisa se esmerar demais para participar on-line de uma reunião familiar, mas é bom pensar sempre como gostaria que os outros o vissem. Se tivesse de ir à casa de alguém para um evento semelhante, como se vestiria? Embora não existam regras, essa reflexão poderá dar a cada um a resposta de que precisa.

Como conversar nas reuniões a distância

Se fosse presencial, naturalmente conversaria com algumas pessoas separadamente, mudando de parceiros vez ou outra, para assim dar atenção e se relacionar com o maior número de participantes. Nas reuniões on-line isso é mais difícil. Se todos resolverem conversar com todo mundo, ninguém vai se entender.

O ideal é esperar certos momentos de silêncio e fazer perguntas a uma ou outra pessoa sobre um tema que possa interessar aos outros. Ou, se não quiser perguntar, tomar a inciativa de relatar uma história curta, interessante que também possa envolver o maior número de pessoas. Dessa forma, irá marcar presença, sem atrapalhar a conversa, e sem dar a impressão de que deseja ser o rei da festa.

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Empresas especializadas

Algumas empresas se especializaram em encontros virtuais. A minha filha Rebeca, por exemplo, diretora de marketing de uma empresa multinacional, contratou um desses buffets. Enviaram com antecedência para a casa de cada um dos convidados quatro garrafas de vinho e uma bandeja de charcutaria. O Ed Motta — que além de cantar, se especializou em vinhos — durante a degustação, explicou com detalhes as características de cada vinho e depois cantou algumas músicas. Foi um tremendo sucesso. Essa solução também pode ser dada com pratos e bebidas distribuídos antecipadamente e, num determinado momento, todos comemoram e apreciam a mesma refeição.

Esses encontros, de maneira geral, são cansativos. Por isso, se resolver fazer, promova tudo em tempo bastante curto para que todos se sintam bem.Já que mencionei os velórios, posso dizer que esses talvez sejam os momentos mais difíceis. Não é tão comum: a maioria prefere não se submeter a esses episódios tão constrangedores. Mesmo assim, alguns estão fazendo porque querem que todos os familiares e amigos mais próximos façam parte da despedida. Se presencialmente já não é simples, dá para imaginar como fica mais complicado on-line.

Até velório virtual

E não tem jeito. Como as aglomerações não são permitidas por causa do risco do contágio, a participação deve ser mesmo a distância. Se tiver oportunidade de ir a um velório virtual, saiba que, se nos momentos festivos a participação deve ser mais discreta que nas situações presencias, nos velórios, então, essa discrição precisa ser ainda maior. Quem vai a um velório virtual, precisa respeitar o silêncio. Ao entrar na reunião deve cumprimentar sem muito alarde as pessoas mais conhecidas, e dizer algumas palavras de conforto aos parentes. Tudo bastante rápido e bem conciso. Aconselho até a preparar esse discurso com antecedência para garantir a objetividade. Depois disso, basta permanecer alguns minutos e sair sem a necessidade de se despedir.

São os novos tempos. Há muita novidade, mas é possível se adaptar rapidamente a essa circunstância. Observe como as pessoas têm se comportado e vá acompanhando o que é feito pela maioria.


Reinaldo Polito é mestre em Ciências da Comunicação, palestrante, professor nos cursos de pós-graduação em Marketing Político e Gestão Corporativa na ECA-USP e autor de 34 livros que já venderam 1,5 milhão de exemplares em 39 países. Sua obra mais recente é “Comunicação a Distância – o que não fazer”. @polito

*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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