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O mundo precisa da sua originalidade – e você também
Candice Picard
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O século digital tem deixado a criatividade cada vez mais algoritimizada. Nos tornarmos uma cópia piorada de nós mesmos, e esquecemos do óbvio: o nosso valor intrinseco único, e não replicável. A nossa originalidade. 

A palavra alemã Zeitgeist insinua que somos afetados – ou até mesmo assombrados – pelo espírito do tempo em que vivemos. Esse “fantasma” dá o tom do nosso ambiente cultural e intelectual, e sobretudo das nossas escolhas. O tempo seria uma espécie de molde que torna impossível o exercício pleno da originalidade. E na contemporaneidade isso tem se tornado ainda mais agudo. Fórmulas prontas nos levam a crer que o visível, o recorrente e o seguro são o mesmo que “sucesso”. Padrões de comunicação, de estética, de mentalidade política, de gestão e de auto-produtização apostam cada vez mais na previsibilidade anti-cancelamento, asfixiando o pioneirismo e a criatividade. Estamos, afinal, perdendo a capacidade de ser originais?

Sendo uma exímia voyer digital, venho notando há alguns anos certos modelos se cristalizando. Postar fotos com o date, por exemplo, virou o novo anel de compromisso. Estudos, refeições, férias, mudanças de trabalho, e até mesmo malhação – outrora aspectos naturais da existência – tornaram-se extraordinários (uma vez publicados, claro). A espetacularização permanente de quase tudo virou uma espécie de “prova de vida” do INSS. Uma vibe na linha de “mãe, olha o desenho que eu fiz!”. Dando uma de Analista de Bagé, parece que o silêncio (digital) virou sinal de que as coisas, enfim, vão bem.

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Seja você mesmo

Internet tira a originalidade?

Falando da nossa realidade analógica, somos fruto de um momento de inspiração original dos nossos pais. Digitais, DNA e voz comprovam a nossa singularidade estrutural, nossa gênese inquestionável. Originalidade, por este prisma, é um bem democrático, já que a única coisa que não pode ser copiada é justamente você. Se irá aproveitar isso ou não, é outra história. Fato é: o esquecimento deste ativo  que é a singularidade nos distancia não apenas de nós mesmos, mas de compor o todo de uma comunidade diversa.

Certa vez, após palestrar numa empresa super formal, fui surpreendida pelo conselho original do cliente contratante. Após analisar meu modus operandi, ele havia concluído que a minha personalidade “de fábrica” – aparentemente controlada e controladora – poderia ser aprimorada. Afirmou categoricamente que me faria muito bem usar drogas. Fui pega de surpresa, e jamais esqueci daquela inusitada recomendação, repleta de simplicidade, coragem, autenticidade, e até mesmo certa irresponsabilidade. Virtudes que são, em suma, dimensões da originalidade em movimento.

Pensar diferente leva a autorrealização

Ao seguir hábitos e padrões de forma irrefletida, indivíduos e negócios vão se tornando muito mais objeto do que sujeito de suas ações. Abatidos pelo Zeitgeist e pela autoconsciência anêmica, fica cada vez mais difícil surpreender. Parece, inclusive, que foi em outra vida que o mote “Pense Diferente”, da Apple, teve algum valor. Estamos cada vez menos originais, viciados em benchmarks, engajamentos e teses de investimento que trazem supostas garantias. Paradoxalmente, nunca precisamos tanto da originalidade para enfrentar os problemas complexos e inéditos que temos vivenciado coletivamente. E também para a autorrealização individual.

O tópico da autorrealização me faz lembrar que, por muito tempo, acreditei que ser acessível era ser comprometida, sobretudo profissionalmente. À luz disso, me viciei em um “Crackberry” como instrumento de trabalho. Na época, achava natural que aquele aparelho fosse uma extensão minha, sem me dar conta dessa perigosa simbiose. Durante um autoexperimento de mudança, em que fiquei quase 1 ano sem celular, tive o melhor e mais transformador período da minha vida. Desde então, cultivo uma comunicação ecológica, fora da WhatsApplândia e afins. Sua suposta conveniência jamais me convenceu, e a vida semi-offline segue trazendo bons frutos, apesar de todas as reclamações, controvérsias e perdas que conscientemente enfrento. O que muitos denominam de loucura, aprendi a chamar de originalidade.

Encontrar o próprio caminho original não é fácil, mas certamente é mais interessante que o consumo irrestrito de clichés e benchmarks. Ser original é trabalhar na margem de manobra entre o espírito do tempo que nos influencia, e o que é de alcance consciente. É entender que destino é também – mas não só – origem. É expressar a essência na existência através de escolhas corajosamente autênticas. É ser subversivo, fazer algo que ainda não foi imaginado. E pagar os eventuais pedágios com um discreto sorriso de Monalisa no rosto.

Convite para um curso original

Partindo do questionamento sobre Originalidade, fiz um mergulho profundo no tema e criei um curso online em parceria com o André Tanesi da Descola. Tanto processo criativo quanto resultado foram bastante originais (ao menos para nós).

Não traremos Originalidade em 3 dias ou seu dinheiro de volta. Se ainda assim quiser arriscar, aqui vai o link para inscrição: descola.org/originalidade

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