O efeito medicinal de cuidar das plantas e do jardim
Cuidar das plantas, adubar e podar são tarefas simples de jardinagem, mas que têm efeito renovador para o corpo e para a alma
Minha avó Esther tinha o dedo verde. Para quem não conhece a expressão, ela é usada para dizer que alguém é bom em mexer com as plantas.
A casa de vó Esther, no Recife, tinha um quintal enorme, com muita vegetação. Entretanto, quando ela vinha para São Paulo passar um tempo com a gente, detestava ficar no apartamento onde morávamos.
Vovó nunca suportou uma existência de passarinho na gaiola. Pois ela queria mesmo era ficar no sítio que temos no interior de São Paulo. Lá, ela criou vários pequenos jardins com suas plantas.
Vovó – a única que tive – era mãe da minha mãe. Mas meu pai a admirava demais. E herdou dela a paixão – e o jeito – pelas verdinhas. Ele passava os finais de semana no sítio, indo e vindo com o carrinho de mão.
Plantava, replantava, carregava terra e adubo de um lado para o outro. Por conta disso, temos muitos cantos de jardins.
A questão é que, com o envelhecimento dos meus pais e a perda da mobilidade dele, as plantas do sítio foram ficando cada vez mais abandonadas.
Temos um caseiro que mantém minimamente a vida por lá. Mas aquilo que sempre fez do lugar nosso refúgio foi se tornando um reflexo das décadas vividas impregnadas nos meus pais.
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Mexer com plantas para pensar na terra
Vasos quebrados jogados pelos cantos, alguns vazios e outros com terra, mas sem nada. Tudo desorganizado, teimando em não ceder a uma breve existência.
Este final de semana fui até o sítio com o Marcos, companheiro de vida. Podamos plantas, retiramos folhas secas, separamos os vasos partidos para serem descartados.
Entre colocar a mão na terra, adubar e recuperar, eu e o Marcos conversamos, silenciamos, bebemos cerveja gelada – fazia mais de 30 graus – e aproveitamos os minutos, um por um. Ainda há muito o que fazer, entretanto.
Aliás, já planejamos a próxima ida e os passos seguintes. Minha lombar doeu no final do dia. Estávamos cansados, sujos, ostentando uma coleção de arranhões e picadas de insetos. Mas felizes.
Ao anoitecer, uma brisa fresca invadiu a casa. Deitamos no sofá abraçados à meia-luz. Colocamos as músicas que gostamos. Às vezes nos perdíamos nos próprios pensamentos, às vezes dividíamos com o outro.
E seguíamos contentes. Com a vida. Com nossos passos. Finalmente, uma antítese dos últimos tempos, em que os problemas nos afogaram em pensamentos negativos, mágoas e descrença em relação ao futuro.
A terra. Ah, a terra. Esse lugar que nos aterra. Descarrega e nutri. De ideais. De amor e esperança. Por nós e pelo mundo.
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Conteúdo publicado originalmente na Edição 268 da Vida Simples
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