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O efeito medicinal de cuidar das plantas e do jardim
Estar em contato com plantas tem um efeito curativo e nos faz lembrar dela, a terra (Foto: Julian Paolo Dayag/Unsplash)
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Neste artigo:

Minha avó Esther tinha o dedo verde. Para quem não conhece a expressão, ela é usa­da para dizer que alguém é bom em mexer com as plantas.

A casa de vó Esther, no Re­cife, tinha um quintal enorme, com muita vegetação. Entretanto, quando ela vinha para São Paulo passar um tempo com a gente, detestava fi­car no apartamento onde morávamos.

Vovó nunca suportou uma existência de passari­nho na gaiola. Pois ela queria mesmo era ficar no sítio que temos no interior de São Paulo. Lá, ela criou vários pequenos jardins com suas plantas.

Vovó – a única que tive – era mãe da mi­nha mãe. Mas meu pai a admirava demais. E herdou dela a paixão – e o jeito – pelas verdinhas. Ele passava os finais de sema­na no sítio, indo e vindo com o carrinho de mão.

Plantava, replantava, carregava terra e adubo de um lado para o outro. Por con­ta disso, temos muitos cantos de jardins.

A questão é que, com o envelhecimento dos meus pais e a perda da mobilidade dele, as plantas do sítio foram ficando cada vez mais abando­nadas.

Temos um caseiro que mantém mi­nimamente a vida por lá. Mas aquilo que sempre fez do lugar nosso refúgio foi se tornando um reflexo das décadas vividas impregnadas nos meus pais.

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Mexer com plantas para pensar na terra

Vasos quebrados jogados pelos cantos, alguns vazios e outros com terra, mas sem nada. Tudo desorganizado, teimando em não ceder a uma breve existência.

Este fi­nal de semana fui até o sítio com o Marcos, companheiro de vida. Podamos plantas, retiramos folhas secas, separamos os vasos partidos para serem descartados.

Entre colocar a mão na terra, adubar e recuperar, eu e o Marcos conversamos, silenciamos, bebemos cerveja gelada – fazia mais de 30 graus – e aproveitamos os minutos, um por um. Ainda há muito o que fazer, entretanto.

Aliás, já planeja­mos a próxima ida e os passos seguintes. Minha lombar doeu no final do dia. Es­távamos cansados, sujos, ostentando uma coleção de arranhões e picadas de insetos. Mas felizes.

Ao anoitecer, uma brisa fresca invadiu a casa. Deitamos no sofá abraçados à meia-luz. Colocamos as músicas que gos­tamos. Às vezes nos perdíamos nos pró­prios pensamentos, às vezes dividíamos com o outro.

E seguíamos contentes. Com a vida. Com nossos passos. Finalmente, uma antítese dos últimos tempos, em que os problemas nos afogaram em pensamentos negativos, mágoas e descrença em relação ao futuro.

A terra. Ah, a terra. Esse lugar que nos aterra. Descarrega e nutri. De ideais. De amor e esperança. Por nós e pelo mundo.

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Conteúdo publicado originalmente na Edição 268 da Vida Simples

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