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O amor segundo Bell Hooks
Foto: klebercordeiro
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Revendo os textos da Bell Hooks para uma aula, me deparei com a afirmação que dizia mais ou menos assim:

“o amor não é o cuidado, embora a cultura faça as mulheres acreditarem que esta é a dimensão mais importante do amor”.

E discorre como, em sua infância, se sentiu profundamente cuidada, mas não amada.

Falou de como era elogiada por ser inteligente e, quase no mesmo momento, colocada para baixo de maneira cruel, com seus cuidadores a dizendo que isso a levaria a ficar sozinha e isolada.

Diz que teve, na sua história, pessoas da família estendida que a faziam sentir amada na prática, e que isso envolvia as dimensões do afeto, da responsabilidade, do reconhecimento, do cuidado e da justiça.

O amor para Bell Hooks

Quando Bell diz que não há amor sem justiça, ela também está falando que muitos de nós não conseguimos imaginar uma definição de amor que não envolva também algum tipo de abuso, negligência ou violência.

Isso porque não podemos suportar uma definição desse sentimento que exclua o que recebemos na infância dos nossos primeiros cuidadores. É difícil lidar com a realidade sem mentir um pouco para si.

E fala que confrontar a visão iludida do que é o amor é o primeiro passo para se abrir realmente a ele. E, consequentemente, não reproduzir em nossas relações o adoecimento que porventura tenhamos recebido. O amor é ação e construção*, ela diz.

Se somos mulheres, o buraco é ainda mais embaixo. Ela continua dizendo que é muito comum acreditarmos que é um sinal de compromisso, uma expressão de amor, suportar grosseria ou crueldade, perdoar e esquecer.

Na realidade, sabemos que a resposta saudável e amorosa à crueldade e ao abuso é nos retirarmos do caminho dos danos.

Livro Tudo Sobre o Amor, de Bell Hooks.

Cuidar e amar são coisas diferentes

Muitas pessoas sabem cuidar, mas não sabem amar. Podemos cuidar de um morador de rua, de um vizinho, de uma criança na escola, e não necessariamente amar nenhuma destas pessoas. Afinal, amar é construir algo e se vulnerabilizar, e em última instância, perder: perder ilusão, narcisismo, perder espaço de idealização.

Em contrapartida, o trabalho do amor normalmente dá frutos, e não estou falando do amor romântico.  Estou falando de poder conhecer a alteridade, fazer conflitos sem violar o outro. De aprender a manejar uma relação porque o amor vinculado está presente.

Refiro-me a amizades, a pessoas que nos conectamos pela vida e que nem sempre são familiares sanguíneos ou parceiros sexuais.

O amor é o que faz a gente se interessar pelo outro sem saber exatamente o motivo. Mas podendo imaginar motivos e criar motivos novos toda vez que o ódio vem mostrar que não somos tão complementares assim, que somos formados de muitos outros e de nós mesmos. Afinal, o oposto do amor é a indiferença, e não o ódio.

Que possamos nos inspirar nas nossas autoras preferidas e nos nossos amores reais para continuar amando e desejando amar, para aprendermos também a sermos amados.

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