Liderança pelo exemplo: como culturas corporativas se constroem na prática
Para uma boa liderança, não basta saber falar bem. Transformar as palavras e valores em ação te transforma em um bom líder
Enquanto esperava para dar minha palestra para a Porsche Brasil, deparei-me com uma parede decorada, repleta de imagens de belos automóveis e, entre elas, uma frase que imediatamente chamou minha atenção: “Eu não conseguia encontrar o carro dos meus sonhos, então fui lá e fiz.” — F. Porsche.
Fiquei refletindo sobre as palavras de Ferdinand Porsche enquanto me dirigia à sala de café, pensando sobre o impacto que uma visão forte pode ter na construção de algo grandioso. Com uma viagem longa e cansativa de San Diego para São Paulo, meu dia tinha sido um turbilhão de deslocamentos.
Ainda assim, ali estava eu, prestes a subir ao palco para falar sobre bem-estar corporativo. E, antes disso, um pequeno momento no café da empresa me proporcionaria uma lição poderosa sobre cultura organizacional na prática. Ao pegar meu espresso, fui apresentado ao CEO da Porsche Brasil. Com um sorriso cordial e um aperto de mão firme, ele me cumprimentou e conversamos um pouco.
Assim que terminei de me servir, dei lugar para que ele também pegasse seu café. No entanto, ao tentar usar a máquina, algo inesperado aconteceu: ela não funcionou. A maioria dos líderes de grandes corporações poderia simplesmente chamar um funcionário para resolver o problema. Mas não ele.
Sem hesitar, o CEO percebeu que a máquina precisava ser limpa e esvaziada. Em vez de delegar a tarefa para as pessoas que estavam ali, ele próprio retirou as peças necessárias, lavou, reinstalou tudo e deixou a máquina funcionando perfeitamente. Só então preparou seu próprio café e seguiu com sua rotina.
Daquele pequeno ato, uma grande reflexão emergiu: ele não apenas tinha uma cultura de protagonismo escrita na parede, ele a vivia. O mantra estampado na entrada da empresa era mais do que um slogan bonito – era um comportamento refletido na liderança. E isso me fez perceber que eu estava exatamente no lugar certo para falar sobre bem-estar corporativo.
Para existir uma liderança forte, não basta as ideias estarem na parede
Quantas empresas propagam valores inspiradores em suas paredes, mas falham em colocá-los em prática? Frases motivacionais são fáceis de serem escritas, mas se não houver coerência entre discurso e ação, elas perdem todo o significado.
O que presenciei naquele episódio foi um exemplo claro de como a cultura organizacional deve ser vivenciada. O bem-estar corporativo não começa com mesas de pingue-pongue ou geladeiras de sorvete no escritório.
Ele começa com líderes que demonstram integridade e comprometimento com aquilo que pregam. Quando os funcionários veem um CEO disposto a resolver um problema simples com as próprias mãos, isso transmite uma mensagem poderosa: ninguém está acima do funcionamento coletivo da empresa.
E essa consistência entre discurso e prática é o que constrói segurança psicológica dentro de uma organização.
Construir um ambiente com segurança psicológica é a base para a confiança
Segurança psicológica significa criar um espaço onde os colaboradores sentem que podem ser autênticos, expressar suas opiniões e aprender com os erros sem medo de retaliação. Esse tipo de ambiente não surge espontaneamente; ele é construído por meio de uma liderança coerente e presente.
Quando um líder assume a responsabilidade em vez de delegar problemas triviais, ele estabelece um padrão de comportamento que inspira toda a organização. Essa abordagem reduz barreiras hierárquicas desnecessárias e promove um ambiente onde todos se sentem parte do processo.
O que aconteceria se todas as lideranças adotassem essa postura? Provavelmente, veríamos menos burocracia e mais eficiência, menos isolamento organizacional e mais colaboração. Funcionários que sentem confiança para agir também tendem a ter mais autonomia, engajamento e satisfação no trabalho.
O papel dos líderes no bem-estar corporativo
Falar sobre bem-estar corporativo significa entender que não são apenas os programas de saúde mental ou as iniciativas de qualidade de vida que fazem a diferença. A verdadeira transformação acontece quando o bem-estar se torna parte da cultura organizacional.
Líderes que praticam o que pregam influenciam diretamente o nível de satisfação e motivação de suas equipes. Pequenos gestos, como o que presenciei na Porsche Brasil, criam um efeito cascata que impacta toda a estrutura corporativa.
Isso significa que bem-estar no trabalho também está ligado à transparência, à justiça organizacional e à clareza de expectativas. Quando um CEO mostra que não existe trabalho pequeno demais, ele ensina que todos devem contribuir para um ambiente melhor.
Liderança: o exemplo vem de cima
O episódio na Porsche Brasil me fez perceber algo fundamental: a liderança pelo exemplo é a base de uma cultura corporativa forte. Uma empresa pode investir milhões em iniciativas de bem-estar, mas se seus líderes não estiverem alinhados com os valores que defendem, o impacto será mínimo.
Empresas que desejam promover um ambiente de bem-estar genuíno precisam ir além dos discursos e transformar valores em ações diárias. O bem-estar organizacional começa com pequenas atitudes que demonstram respeito, compromisso e empatia. Se queremos ambientes de trabalho mais saudáveis, precisamos começar pela liderança. E, como mostrou o CEO da Porsche Brasil, se algo precisa ser feito, o melhor caminho é levantar e fazer.
Se você quiser conversar sobre esse tema comigo, meu LinkedIn.
Os comentários são exclusivos para assinantes da Vida Simples.
Já é assinante? Faça login