Isolamento social era a forma como vivíamos
Agora estamos juntos e assim, acredito, passaremos por essa ameaça invisível e pela porta que nos leva a um novo jeito de ser. Mais próximos, mais conscientes e focados no presente
Agora estamos juntos e assim, acredito, passaremos por essa ameaça invisível e pela porta que nos leva a um novo jeito de ser. Mais próximos, mais conscientes e focados no presente
O mundo já tinha mudado, nós é que não havíamos percebido. Não tínhamos tempo para isso. Os dias atribulados e com diversas tarefas, das domésticas às corporativas, não nos permitiam parar, reparar e entender que a imagem que guardávamos da realidade era como uma foto desbotada. Mirávamos o retrato pendurado na parede como se fosse uma janela. E agora sabemos que não era. Importa respeitar e reverenciar o passado, dele guardar as lembranças e tirar as lições, para podermos seguir em frente. E na impossibilidade de olharmos para o futuro, graças à névoa de incertezas ali no horizonte, nos focamos no agora. Como num exercício compulsório de mindfulness.
Quantas escolhas e decisões, das grandes às ordinárias, você tirou do modo automático? A realidade não comporta mais “do jeito que sempre foi” ou “estamos acostumados a fazer assim”. Tudo precisa ser revisto. E você pode estar se perguntando se isso não é cansativo e exige muito esforço. Sim, para ambas as questões. Por outro lado, é a nossa oportunidade, para rever o que não funciona mais, desapegar de hábitos e acolher a mudança. Acredite, mudar está mais fácil, porque a resistência ao novo diminuiu e a justificativa está clara para todos.
As justificativas
E são justamente elas, as mudanças, que estão nos enchendo de esperança. Vizinhos se descobrem, se aplaudem, fazem atividades físicas e sorriem uns para os outros nas janelas. Grupos são formados para estender a mão a trabalhadores informais e comunidades carentes. Cientistas trabalham colaborativamente, mergulhados em seus laboratórios, sem se verem, mas olhando numa mesma direção. Makers se organizam pra produzir respiradores artificiais, máscaras e outros equipamentos de proteção.
Essas coisas aconteciam antes? Acredito que não. Pelo menos não com tanta intensidade, impacto e beleza, através de uma rede que se expande por todo o planeta. Olho para os lados agora e não vejo ninguém. Estou eu, o computador e essas palavras. Mas não me sinto sozinho, nem em isolamento. Porque isolados era como vivíamos antes. Agora estamos juntos e assim, acredito, passaremos por essa ameaça invisível e pela porta que nos leva a um novo jeito de ser. Mais próximos, mais conscientes e focados no presente.
Tiago Belotte é fundador e curador de conhecimento no CoolHow – laboratório de educação corporativa que auxilia pessoas e negócios a se conectarem com as novas habilidades da Nova Economia. É também professor de pesquisa e análise de tendências na PUC Minas e no Uni-BH. Seu instagram é @tiago_belotte. Escreve nesta coluna quinzenalmente, aos sábados.
Os comentários são exclusivos para assinantes da Vida Simples.
Já é assinante? Faça login