COMPARTILHE
FELICIDADE: “substantivo feminino, qualidade ou estado de feliz…
Siga-nos no Seguir no Google News

…Sensação real de satisfação plena, estado de contentamento; condição de pessoa feliz, satisfeita, alegre, contente.”

Para o filósofo Aristóteles, a felicidade diz respeito ao equilíbrio e harmonia; para Epicuro, a felicidade ocorre através da satisfação dos desejos.

Nas primeiras semanas da pandemia, eu, você e quase todo mundo nos mantivemos isolados em nossas próprias casas. Não sei o que se passava no seu coração, mas no meu, o medo do incerto e do desconhecido me impossilitou de sorrir livremente; demorei a mostrar os dentes, no máximo saía um sorriso cheio de insegurança, com a boca fechada.

Diariamente, naquela zapeada matinal, mais insegura eu me sentia; havia uma profusão de pessoas felizes desfilando pelas timelines, em altíssimos níveis de plenitude e alta performance; lendo 3 livros por semana (eu mal conseguia passar da página 10 do primeiro), maratonando séries (eu sem forças pra assistir a sessão da tarde), malhando em disciplina rigorosa (enquanto eu bebia algo alcóolico noite sim, noite também). Resolvi não me autocobrar resultados, eram tempos de coração apertado  e nem as notícias sobre o Covid ao redor do mundo eu conseguia acessar.

Em alguns momentos, respirava e mentalizava “calma, cada um tem seu fluxo, e talvez e vida de verdade não tenha tantos filtros de perfeição”.

Já que o papo hoje nasceu de observações cotidianas de redes sociais, convido você, querido leitor, a puxar em sua memória se nos dias seguintes ao Natal e Ano Novo, você por acaso observou a grandiosidade da felicidade virtual. A felicidade coletiva nessas datas é tamanha que, quem está do outro lado, chega a sentir tristeza (atire a primeira pedra quem, nas festas, não foi protagonista ou presenciou algum perrengue ou saia justa familiar…). As grandes famílias, quando se reúnem, não têm manual com regrinhas de convívio, e como dizia Clarice Lispector, “cada pessoa é um mundo”. A verdade é, a gente prioriza compartilhar os momentos incríveis, lindos, as cenas perfeitas.

Possivelmente ninguém tenha conhecimento de que o arroz com passas tenha queimado em alguma panela, pelo simples e divertido fato de que o cozinheiro bebeu umas cervejinhas extras e esqueceu de desligar o fogo…

A simples e pura verdade é que todos, contexto no qual me incluo, têm dificuldade em se mostrar vulneráveis, e, por isso, vivemos com a sensação constante de que a grama do vizinho é sempre mais verde.  A cada milésimo de segundo alguém vive um momento muito feliz nas redes sociais. A felicidade se tornou uma obrigação nas redes sociais, o que, visivelmente, aumenta o índice de depressão.

Têm manhãs em que acordo e nem o Fred, meu querido e devoto cão, me olha com admiração. Há dias, aliá, que ele nem o rabo abana quando me vê, o cabelo virado do avesso, olhos inchados de dormir muito (ou pouco), sinais de apatia. Ai… desculpa aí, mas há momentos em que dá cansaço de acompanhar essa vida perfeitinha, hein…

Um último e verdadeiro exemplo: o glamour do inverno. Alguns dizem “o inverno é a estação mais linda, as pessoas se vestem bem, é um tal de glamour desfilando pelas ruas”. Se você, por acaso, reside em lugares quentes, eu, moradora do sul, onde as temperaturas são mínimas nessa época do ano, já aviso: por baixo do falso glamour há corpos tremendo de frio, com calça de malha por baixo do jeans, com 5 blusas debaixo do casado, com manta e cachecol quase cobrindo o rosto. A pessoa parece chique, mas na verdade mal consegue se mexer de tanta roupa – mobilidade reduzida ao extremo.

P.S: eu a-do-ro o inverno, mas se não puder ostentar o desglamour do pijama de flanela ou do chinelo com meia, nem apareço na selfie!!!

Então pense aí, com todo seu carinho: a felicidade de verdade não tem filtro, mas tem lá seus encantos e pequenos prazeres!! Faça o exercício, mostre-se vulnerável se um dia for possível, e avalie os resultados!

Beijos meus


Lu Gastal trocou o mundo das formalidades pelo das manualidades. Advogada por formação, artesã por convicção. É autora do livro “Relicário de afetos” e participa de palestras por todos os cantos. Desde que escolheu tecer seus sonhos e compartilhar suas ideias criativas, não parou mais de colorir o mundo ao seu redor. Seu instagram é @lugastal.

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário