Esses livros farão você repensar o significado de envelhecer
Nossa colunista Rayza Fontes reuniu referências literárias (ficcionais e não ficcionais) que abordam o processo de envelhecimento. Em cada uma, um olhar belo e delicado que nos faz refletir sobre o que significa dar mais uma volta ao redor do Sol.
“Do pó viemos, ao pó voltaremos”, já diz o ditado inspirado no famoso versículo da Bíblia. Mas, o que você faz nesse interim é a própria vida. Na infância e adolescência somos guiados pela família, moldados pela escola e várias outras influências. Já na fase adulta, o trabalho é rei. Entre a vida adulta e a velhice, durante o processo de envelhecimento, como é que fica? Bom, embora eu ainda seja uma jovem senhora de 32 anos, ao observar a forma como meus avós lidam com a velhice e beber a água da sabedoria infinita vinda dos conselhos prudentes deles, me peguei pensando sobre o quanto a gente planeja tanto, de tudo, mas pouco pensa ou fala sobre o envelhecimento. Eu poderia falar sobre dinheiro, aposentadoria ou algum outro viés mais convencional. No entanto, o que será que podemos aprender com a ficção e personagens passando pelo processo de ver o corpo físico lentamente decair, a mente pregar peças e o mundo mudar na velocidade de um estalar de dedos?
Com Missy, Sr. Doubler e Ove eu aprendi muito, muito mesmo, sobre empatia, sobre compreender que o corpo e a mente vão, obrigatoriamente, mudar demais com a idade, mas nem por isso vamos deixar de ser nós mesmos. Ou ainda, que as mudanças causadas pelo tempo não necessariamente vão ser ruins. São livros bonitos, comoventes e simples. No entanto, cada diálogo, as reviravoltas e todos os ensinamentos levam a reflexões capazes de fazer o leitor vivenciar décadas de experiências em apenas algumas páginas. E no fim das contas, eu leio também para isto: aprender com erros e acertos dos personagens, sonhar junto com eles, viver uma vida diferente da minha e sentir todo tipo de emoção.
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Mas, como nem só de ficção vive um bom leitor, vamos falar também da parte prática da coisa: é possível envelhecer de forma saudável e sem doenças? Existe muita ciência sendo produzida ao redor do mundo. E grande parte das pesquisas trata justamente do envelhecer. Em “O segredo dos telômeros” e “Tempo de vida” nos deparamos com perguntas que afligem a humanidade há séculos: Por que envelhecemos de formas diferentes? Existe uma idade limite para as nossas células? O que seria capaz de retardar ou impedir o envelhecimento? É fato que muitas delas ainda não têm reposta.
Só que o simples fato de fazermos perguntas e nos aproximarmos de respostas já é um enorme passo. Confesso que, inicialmente, pensei estar lidando com mais uma dupla de livros enfadonhos que poderiam ser resumidos em: beba água, durma direito, pare de comer besteira e vá logo mexer esse esqueleto. Sim, os conselhos seguem os mesmos, agora com variações que incluem “menos tela e mais natureza”. Mas, entender o motivo pelo qual eles são repetidos a exaustão foi o que me convenceu a voltar para a academia – possivelmente pela quinta vez só este ano – tomar mais cuidado com o que eu ando comendo e trocando uma noite reparadora de sono por muita gente.
E para quem quiser, além dos livros, assistir alguma coisa sobre o tema, sugiro fortemente a série da Netflix “Down to Earth”, traduzida sabe Deus o motivo por “Curta essa”. Nela o ator Zac Efron e o especialista em bem-estar Darin Olien correm o mundo retratando estilos de vida saudáveis e sustentáveis. Preste uma atenção especial ao episódio sobre a Sardenha, na Itália, um dos lugares com o maior número de centenários no mundo, compondo a chamada “Zona Azul” (Okinawa, no Japão, Loma Linda, nos Estados Unidos, Icária, na Grécia, Península de Nicoya, na Costa Rica, e a Sardenha, na Itália, são as cinco regiões do mundo reconhecidas como Zona Azul, e consequentemente, pelas altas taxas de longevidade). É difícil não se emocionar com a forma natural, saudável e respeitosa que os idosos são tratados. Ou melhor, mais do que aceitos e bem integrados, eles são também valorizados.
Leiam sem moderação e aproveitem a jornada. Desejo que, além de bons livros, tenhamos todos uma boa vida: simples e leve.
A Segunda vida de Missy – Beth Morrey
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Não consigo descrever melhor o livro: “Um retrato emocionante e reflexivo sobre a vida adulta e o envelhecimento, A segunda vida de Missy é uma celebração de como os dias comuns podem ser extraordinários quando estamos cercados de pessoas queridas e do poder de perdoar a si mesmo, em qualquer idade.” Se eu pudesse colocar o livro em alguma outra categoria, provavelmente seria: “livros para dar de presente e acerta na mosca”. Dê uma chance para Missy e ganhe um coração quentinho e uma boa dose de reflexão para se inspirar e levar a vida de uma forma mais descomplicada.
Uma nova chance para o Sr. Doubler – Seni Glaister
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O que um velhinho solitário e obcecado por batatas pode ensinar? Muito! Com o Sr. Doubler eu aprendi a importância de cultivar o amor-próprio e saber aproveitar a própria companhia. Entendi também que envelhecer pode ser duro, mas nem de longe é motivo para decretar o fim antes da hora ou viver de amargura. Ah, também passei por difícil período de querer fazer as malas e trocar tudo por um tempo no meio do mato. Já fica o alerta de gatilho para quem está cansado de correria, poluição e concreto.
Um homem chamado Ove – Fredrik Backman
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“Mesquinho, teimoso, cheio de manias e com um temperamento ruim, ele acredita estar cercado por idiotas”. Se você leu isso e lembrou de alguém, cuidado! É possível que o velhinho ranzinza de “Um homem chamado Ove” faça você se lembrar de muita gente. A parte boa é que o livro, ao contrário do filme recém-lançado “O pior vizinho do mundo, estrelado e produzido por Tom Hanks.” faz com que você se apaixone aos poucos pela personalidade peculiar do protagonista. Em poucas páginas você vai exercer a incrível capacidade de odiar muito e amar profundamente a mesma pessoa. E garanto, vai amar a experiência! Sem dúvida uma prova de que os livros podem nos fazer melhores, mais empáticos, criativos e capazes de refletir sobre o que nos cerca a partir das provocações dos personagens.
O segredo está nos telômeros – Elissa Epel e Elizabeth Blackburn
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A editora, na sinopse, caracteriza o livro como: “Um mergulho fascinante no coração genético das células os cromossomos e leitura imprescindível para quem deseja combater o envelhecimento prematuro, revertê-lo ou simplesmente agir na manutenção de sua vitalidade.” Eu, enquanto leitora, digo que até mesmo quem não ideia do que seja um telômero vai ficar maravilhado. Os exemplos são simples, embora as pesquisas por detrás das recentes descobertas estejam longe disso. Em uma primeira análise pode parecer mais um livro que fala mal de alimentos industrializados e praticamente obriga o leitor a sair do sedentarismo. Mas dê uma chance à leitura e se surpreenda. Só tenha cuidado: é bem possível que antes da metade do livro você já esteja revendo alguns hábitos e falando coisas como “melhor não tomar isso aqui, pelo bem dos meus telômeros.”
Tempo de vida: por que envelhecemos – e por que não precisamos – David A. Sinclair e Matthew D. LaPlante
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Escrito pelo aclamado cientista da Harvard Medical School e uma das pessoas mais influentes segundo a revista TIME, o livro aborda o envelhecimento como uma doença tratável. Acho que assim como eu, você também nunca pensou nisso, certo? O livro é um trabalho revelador e extremamente provocativo, que expõe às linhas de frente das pesquisas mais modernas e evidencia avanços incríveis. Uma delas é a possibilidade de desacelerar, ou até mesmo reverter, o relógio genético. Por meio de sua narrativa empolgante, Sinclair convida o leitor a embarcar no processo de descoberta científica, revelando as tecnologias emergentes e as simples mudanças de estilo de vida que têm sido demonstradas para nos ajudar a viver mais jovens e saudáveis por mais tempo. Leia com olhos de crítico, pense como um cientista, assuma uma postura aberta e esqueça a alcunha de autoajuda que geralmente vem conectada a esse tipo de livro. Por puro preconceito, como eu já tive inúmeras vezes, podemos deixar passar uma leitura realmente relevante.
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