Escolha a compaixão no lugar do julgamento
A necessidade de julgar os outros se desfaz quando nos sensibilizamos frente às batalhas invisíveis de cada um
Existe uma espécie de consenso em relação a algumas características da natureza humana que nos conduzem a uma espécie de dança inconsciente, uma coreografia sutil e sedutora, que é a tendência irresistível de julgar o próximo.
Um olhar de relance, um jeito torto, um comentário mordaz disfarçado de observação inocente. Outras vezes, é um suspiro velado, como se nossa aprovação ou desaprovação fosse fundamental para a estabilidade do Universo.
Mas por que é tão difícil resistir a essa dança de julgamento? Talvez seja uma necessidade inata de nos sentirmos superiores, uma tentativa desajeitada de validar nossas próprias escolhas e existência.
Enquanto nos encontramos presos em um turbilhão de decisões diárias, desde a escolha do café da manhã até as complexidades da vida profissional e pessoal, julgar os outros parece ser uma maneira infantil de afirmar que não estamos no caminho certo.
Cada pessoa carrega batalhas invisíveis
No entanto, essa dança é traiçoeira, pois se disfarça de inocência. Julgamos sem ponderar sobre as histórias que não conhecemos.
Esquecemos que cada pessoa carrega um fardo invisível, uma coleção de experiências e cicatrizes que moldam suas escolhas e trajetória.
No meio dessa dança, perdemos a oportunidade de empatia, de nos conectar verdadeiramente com a complexidade humana.
Cada olhar de desaprovação é uma barreira que construímos, uma ponte que queimamos. Julgar torna-se um escudo que nos protege da vulnerabilidade de sensibilidade.
Protege da constatação de que, na verdade, não sabemos nem controlamos tudo. E, assim, continuamos a dançar, atraídos pela melodia do julgamento.
Leia mais
– Só empatia não basta: é preciso mais compaixão
– Educar uma criança com compaixão é um ato revolucionário
– Quer uma vida mais leve? Pratique a autocompaixão
Que tal dançar sem julgamento?
Mas e se, por um momento, optássemos por algo diferente?
Uma dança na qual a compaixão é a coreografia principal, em que cada passo é uma oportunidade de compreender, de aprender.
Uma dança em que as máscaras superiores do julgamento são substituídas pelas acessíveis, e o ritmo é indicado pela harmonia da diversidade.
Que possamos, em nossa jornada, resistir à tentativa do julgamento fácil, que desconsidera as batalhas alheias.
Que possamos escolher dançar ao ritmo da compaixão, abrindo espaço para o acessível e celebrando a incrível diversidade que compõe o espetáculo da vida.
Pois, no final, é essa dança que verdadeiramente enriquece a trama das nossas histórias.
Mais de Kaká Werá
– Auto-observação é a semente para a sabedoria
– Diversos “eus” nos habitam: como ouvir as partes que nos compõem
– Como rever nossas histórias nos conduz ao autoconhecimento
Conteúdo publicado originalmente na Edição 263 da Vida Simples
Os comentários são exclusivos para assinantes da Vida Simples.
Já é assinante? Faça login