É preciso abandonar a culpa para se reconectar
Se perdoar é difícil, mas esquecer a culpa sobre si é a primeira coisa a ser feita para restaurar relacionamentos.
Neste mês, nosso conselheiro anônimo responde à carta de Ester, uma mãe que sente muita culpa pela falta de conexão com o filho mais velho. Ainda adolescente, ela se casou e se tornou mãe. Pouco tempo depois, seu relacionamento terminou. Após dois anos, ela iniciou outro relacionamento e teve mais duas filhas. Entretanto, seu primeiro filho não a acompanhou nessa nova fase, sendo deixado aos cuidados da avó.
Em sua resposta, Caro Estranho aconselha Ester a se perdoar e esquecer a culpa para recuperar a conexão com seu filho.
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Uma carta sobre culpa
Caro Estranho,
Casei muito nova e, aos 16 anos, tive um filho desse relacionamento que não deu certo. Aos 18, conheci outra pessoa, com a qual convivo até hoje, e tive mais duas filhas. O problema é que deixei aquele primeiro com a minha mãe. Ou seja, ele foi criado por ela.
Hoje, com mais maturidade, sinto um imenso vazio por ter feito isso. Um sentimento de culpa por não tê-lo criado. Tenho a impressão de que tudo que não dá certo na vida dele, ou até na minha, é por causa desse afastamento. O que devo fazer para lidar com isso?
Obrigada,
Ester
É preciso se perdoar e esquecer a culpa
Cara Ester,
A vida nem sempre acontece conforme o esperado. Ou melhor, quase nunca. Acho que, a esta altura, você já deve ter compreendido isso, não é mesmo? Antes de tudo, quero dizer que sinto muito por você e por esse filho que, por algum motivo, você não teve como criar. Afinal, essa situação não deve ter sido fácil para ninguém. Nem mesmo para a avó dele, que o criou. De fato, você foi mãe muito nova, minha cara. Jovem demais. Não apenas por isso, prefiro acreditar que você fez o melhor que pôde naquele momento. E não cabe a mim, nem a ninguém, julgá-la por isso.
Na verdade, esta é uma carta sobre a culpa. Você tomou uma atitude no passado e agora sente esse “imenso vazio”, como você colocou. No entanto, peço-lhe que não se sinta assim, Ester. Como sempre digo aqui, isso não vai ajudá-la em nada. “Desista de se sentir culpado.” Era o conselho que eu costumava ouvir de uma terapeuta, e repasso a você. Se conseguir isso, já será uma grande vantagem. Então, vem o segundo passo. Perdoar-se. Você alguma vez tentou fazer isso? Olhar para trás e acolher aquela menina que foi mãe aos 16 anos e não soube bem ao certo o que fazer?
O próximo passo é estabelecer conexão
Como você pode ver, há bastante trabalho pela frente, certo? Livrar-se da culpa e perdoar-se. Já adianto que não será nada fácil. Contudo, isso será necessário para que você execute a próxima tarefa. Conversar com esse filho. Enfim, sentar-se com ele e explicar o porquê de você ter agido dessa forma no passado. Contar para ele tudo que se passava com você na época. Ele também deve sofrer com isso, concorda? É natural que ele guarde certa mágoa, mas talvez ele se interesse por saber o que você tem a dizer. Talvez, não. De qualquer forma, minha cara, acho que tentar vale a pena.
“Tenho a impressão de que tudo que não dá certo na vida dele, ou até na minha, é por causa desse afastamento.” Foi o que você disse, na carta que me escreveu. Portanto, quero que você esqueça essa conexão que fez, Ester. Ela também não vai ajudá-la. Torno a dizer que a vida nem sempre acontece como o esperado. É algo que vale para ele, para você e para mim. Ou seja, você não tem qualquer controle sobre o que acontece com ele, combinado? Por fim, esqueci de um detalhe. Agradeça a pessoa que o criou. Converse também com ela. Ela deve ter muito a lhe dizer.
Um grande abraço,
Estranho.
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