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Companheiros literários: 10 livros inspiradores para ler em viagens
July Brenda Gonzales Callapaza
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Quando este texto for publicado eu provavelmente estarei em algum aeroporto ou estação de trem lendo enquanto espero pelo próximo destino. Dessa vez, o texto não vai ser sobre como viajar sem sair de casa, mas sobre livros para ler em viagens. Aliás, eu costumo dizer que a viagem em si é só uma parte de tudo que vem na esteira.

Começa com o sonho, depois as passagens e o melhor: pensar em cada detalhe do roteiro, anotar tudo, pedir dicas, abrir mil abas no computador, encher o mapa de pontinhos a serem visitados. E, durante essa etapa, por que não investir em uma leitura sobre o local de destino? E não estou falando aqui de guias de viagem ou reportagens com dicas de passeios. É permitir que um personagem te guie pelas ruas, que uma guerra te leve ao museu e que histórias de amor façam você suspirar ao ficar frente a frente com um rio.

Companheiros literários para a sua viagem

Pela primeira vez, nesses bons anos de coluna, deixarei vocês com duas listas: a de livros que podem ser excelentes companheiros em qualquer viagem, aqueles de leitura ágil, descomplicada e envolvente, do tipo que ajudam a passar o tempo em filas longas, a evitar conversas indesejadas ou diminuir a solidão de quem está numa poltrona em que as pernas mal cabem.

Já a segunda lista é bem pessoal – e talvez por isso não interesse ninguém a não ser os que planejam um roteiro parecido com o meu. Foi uma lista construída não só por mim – e pelo grande oráculo de Google – mas com a ajuda de bons amigos leitores que deram sugestões preciosas.

Por isso eu insisto: falem de livros! Gente lendo gera gente lendo. Vamos normalizar as conversas literárias e o ato de presentear com livros.

As listas completas, com todas as informações sobre os livros, estão no final do texto.

Uma autobiografia para ninguém botar defeito

Nada contra as séries, inclusive vejo várias, mas me incomoda pensar que todos falam sobre Lupin, mas raras vezes alguém se anima a ler quem influenciou a série. O universo de adaptações literárias – e alerta de spoiler, vem coluna sobre isso por aqui em breve – é infinito. Basta normalizar a leitura, como já fizemos com filmes e séries, e tornar pauta de conversas de bar, de sala de aula, reunião de família, confraternização dos amigos e até aquela fofoquinha com o par.

Agora, direto ao ponto: quer sofrer com a história real de uma mulher judia que vendia livros? “Sem lugar no mundo” é o seu livro. Uma autobiografia para ninguém botar defeito.

Necessária para reacender a fagulha do amor aos livros, tão necessários em tempos de crise, para fazer pensar sobre as origens do antissemitismo no mundo – e outros movimentos xenófobos igualmente insanos – e para torcer por personagens reais, mesmo sabendo que nossas boas energias não podem mudar o curso da história, embora ensinem grandiosas lições.

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Leituras relaxantes para viagem

Já sei, não quer chegar ao seu destino com o coração apertado e prefere ler para relaxar, certo? Pois bem, aqui vai um antídoto para todo tipo de ansiedade: “Bem-vindos à livraria Hyunam-dong”. Nem os nomes coreanos que confundem os menos familiarizados com doramas e bandas de K-pop são páreo para diminuir a minha empolgação com a fofura dos personagens e da capa perfeita.

E não venha revirar os olhos, eu sei que você também compra livro pela capa.  O fato é que dá para realmente sentir cheiro de café quentinho, de livro novo e a excitação de abrir as janelas para o sol da manhã entrar, em um daqueles dias lindos de céu sem nuvens. Juro! É quase como um livro sensorial, que também poderia ser um abraço.

Livros para despertar o paladar

Quem acompanha meus textos por aqui deve ter visto minha obsessão recente por livros que falassem de gastronomia. Foi na ressaca literária de um livro indicado na coluna passada (ficou curioso? Dê o seu palpite nos comentários ou no meu Instagram @rayzagfontes e a gente conversa por lá) que eu cheguei até “Uma questão de química”.

Como o acaso, para quem acredita em coincidências, costuma não falhar, dias antes um amigo havia comentado da série homônima, sem que eu ou ele soubéssemos da existência do livro. Comecei a leitura – e mal consigo desgrudar das páginas para viver no mundo real – e já ansiosa para ver também a série.

Penso que um livro que cativa logo nas primeiras páginas não pode ser um companheiro de viagem ruim, especialmente para os menos afortunados que sofrem com a falta de sono, as pernas inquietas ou o mais temido celular/fone descarregado. É a companhia perfeita, pode acreditar, melhor que muita gente, inclusive.

Literatura para viagens curtas

Se a viagem ou o tempo de espera não for grande, deixo vocês, mais uma vez, com a ganhadora do Nobel do ano passado – e do meu coração – Annie Ernaux. Em “A Vergonha”, a francesa consegue a proeza de destrinchar uma tragédia familiar da infância em apenas 88 páginas (o que vamos combinar, não deve durar 100 km).

É fato que a Ernaux é um dos grandes nomes da autoficção, e eu não consigo imaginar ninguém capaz de começar um livro dizendo que o pai tentou matar a mãe, sem fazer com que toda a narrativa se transforme em uma grande tragédia piegas, a não ser ela.

Um livro para inspirar durante a viagem

Para finalizar a primeira lista de forma equilibrada, um livro que flui bem, não é um calhamaço difícil de carregar, traz conforto, esperança e incita alguns sentimentos mais primitivos e intensos, fiquem com “Se adaptar”.

Não está convencido? Deixo aqui a forma brilhante como a editora resumiu a obra (obrigada, Dublinense, por mais esse acerto): “Um livro magnífico e luminoso, sobre o laço infinito entre irmãos e a inesgotável capacidade humana de se adaptar.”

Minha lista pessoal de viagem

Se você chegou até aqui, imagino que a motivação não tenha sido meu estilo de escrita ou as indicações anteriores, mas a boa e velha curiosidade em conhecer a lista pessoal, que é também um resumo do meu paradeiro pelos próximos 20 dias. Isso posto, digo que embora Espanha, Inglaterra e França sejam países de grande e conhecidos autores, e que nos são relativamente conhecidos e acessíveis, não foi fácil filtrar o que eu gostaria de ler na busca por conhecer um pouquinho mais de Madrid, Londres e Paris.

Talvez o excesso de oferta até tenha sido um problema. Sabe um restaurante com tantos pratos, tantos sabores, que escolher parece mais uma tortura e o cérebro o tempo todo tente te sabotar perguntando se não era melhor manter o tradicional, logo, certeiro e confortável, ao invés de arriscar algo novo, que pode ser frustrante no lugar de surpreendente? Quando isso acontece eu peço uma pizza de dois sabores.

Leituras personalizadas por destino

Sendo assim, temos a previsível, e igualmente deliciosa, Maria Dueñas representando Madri com a personagem Sira, que também dá nome ao livro. Seguida do meu queridinho Ian McEwan trazendo “Lições” e uma Londres pouco conhecida por turistas.

E para finalizar a primeira metade, o clássico, porém nunca lido antes por mim, Edgar Morin e sua história de amor por Paris muito bem detalhada em “Minha Paris, minha memória”.

O mercado editorial é uma benção, mas às vezes também uma maldição. Livros são bens de consumo que seguem uma lógica comercial e são pautados por uma indústria cultural, assim como pelo interesse do público. Sendo a outra metade da viagem um pouco menos explorada por turistas brasileiros, há de se esperar que os outros destinos foram como um restaurante de três pratos e sobremesa única. Afinal, quantos autores búlgaros, húngaros e eslovacos você conhece?

Para não mentir, eu conhecia Budapeste, o maravilhoso livro do Chico Buarque. E conhecia, de nome, o Elias Canetti, só por ter sido um vencedor do Nobel de Literatura em algum ano remoto em que eu provavelmente não era sequer um projeto de gente. Não fossem os amigos e as alegrias de viver em um mundo conectado, a lista provavelmente não seria concluída.

Explorando a literatura dos destinos menos conhecidos

Apesar dos pesares, vencemos, e veio aí para dar o nome da Hungria, Magda Szabó, que vem dando o que falar com o livro “A porta”, uma mistura de romance ligeiramente autobiográfico que trata de questões sensíveis para os húngaros no pós-guerra, como as ameaças externas e insatisfações internas, agravadas por um povo machucado e dividido.

O Elias Canetti não poderia ficar de fora, afinal já estava na minha lista há tanto tempo que o papel em que ela foi escrita já nem existe mais. Então, representando a Bulgária, “A Língua absolvida”, um romance de formação que narra a infância e adolescência do autor em sua terra natal, ao mesmo tempo que reflete sobre os horrores da Primeira Guerra Mundial e seus frequentes deslocamentos pela Europa, em busca de melhores condições de vida.

Sobre a Áustria, escolhi a escrita leve, até para tratar de assuntos complexos como guerras, golpes, mortes e criação de estados, de Paulo Rezutti e Cláudia Witte em “Sissi e o último brilho de uma dinastia”. Sim, eu sei que existem séries e filmes sobre ela aos montes. Mas, vou resistir e me manter fiel, ao menos até ver pessoalmente o tal castelo bonito, a esse relato escrito – e muito bem detalhado – que joga as loucuras dos Habsburgo (e pasme, também da nossa querida rainha Leopoldina, esposa de D. Pedro I) no ventilador.

Livros e viagem: duas paixões que se completam

Em suma, viajar, além de tudo, é também uma oportunidade de aprender! Sobre a cultura, a geografia, o clima, a economia do local visitado. E aproveitar o ensejo para conhecer quem faz literatura naquele lugar, fazer amigos – ou apenas conhecidos simpáticos -, comprar lembrancinhas inúteis e cafonas para os mais chegados, ouvir músicas diferentes que despertem áreas do cérebro adormecidas pelos pastiches que andamos ouvindo aqui pelo Brasil ou enlatados dos EUA, provar sabores novos que façam a gente pensar que existia de fato uma razão para que os portugueses atravessassem o mar em busca de especiarias.

E se ainda não for possível entrar em um avião, te convido a viajar comigo e alimentar o seu sonho até que ele se torne realidade. Os livros sempre vão nos ajudar a sair do lugar.

E eu posso garantir que o meu sonho realizado hoje só foi possível graças aos livros, que nos momentos em que sair do lugar não era uma opção, continuaram me provando, com histórias incríveis de todos os cantos, que não estamos sozinhos e que ainda há muito para ver e viver por aí.

Confira 5 livros para ler em viagens 

Sem lugar no mundo: Relato de uma livreira judia em fuga na Segunda Guerra Mundial – Françoise Frenkel

Bazar do Tempo – 256 páginas

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Bem-vindos à livraria Hyunam-dong – Jae Hyung Woo

Intrínseca – 272 páginas

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Uma questão de química – Bonnie Garmus 

Arqueiro – 481 páginas

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A Vergonha – Annie Ernaux

Fósforo – 88 páginas

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Se adaptar – Clara Dupont-Monod 

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Dublinense – 144 páginas

5 livros da minha lista de viagem

Para Madri: Sira – Maria Dueñas

Planeta – 480 páginas

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Para Londres: Lições – Ian McEwan

Companhia das Letras – 568 páginas

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Para Paris: Minha Paris, minha memória – Edgar Morin

Bertrand Brasil – 224 páginas

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Para Sófia: A Língua absolvida – Elias Canetti

Companhia de bolso – 344 páginas

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Para Budapeste: A Porta – Magda Szabó

Intrínseca – 256 páginas

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Para Viena: Sissi e o último brilho de uma dinastia: Uma breve história não contada dos Habsburgos – Paulo Rezzutti e Cláudia Thomé Witte

Leya – 264 páginas

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