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Como limitar as telas da criança de forma honesta
Veja dicas para reduzir o uso de telas em família de forma honesta e digna para a família toda (Foto: Ludovic Toinel/Unsplash)
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O debate sobre os malefícios das telas para as crianças e adolescentes tem crescido no Brasil. Já há muitas iniciativas partindo de famílias e escolas que pretendem conscientizar os adultos.

O Movimento Desconecta, por exemplo, defende a ideia de que não devemos oferecer smartphones para crianças até os 10 anos e apenas permitir que os adolescentes tenham acesso às redes sociais no ensino médio.

No Rio de Janeiro, a prefeitura decretou, desde fevereiro de 2024, que os celulares estão proibidos nas escolas públicas municipais.

Os dados das pesquisas são realmente alarmantes. As telas expõem crianças e adolescentes a um comportamento altamente viciante, utilizando recursos como a rolagem automática, os algoritmos, os comentários e as curtidas.

Cada vez mais cedo, as pessoas desenvolvem problemas de cognição e sofrem com a comparação excessiva e tóxica. Isso faz com que também desenvolvam questões de saúde mental como a depressão e a ansiedade, além de transtornos alimentares e de distorção de imagem.

Fora isso, ainda temos questões graves como o cyberbullying, as fake news e os perigos da exposição excessiva. Ou seja, nada mais justo do que pensarmos em formas de combater algo tão prejudicial em tantos sentidos.

Apenas tirar o celular não é o suficiente

Como educadora e, acima de tudo, eterna estudante, acredito que a abertura de espaço e o alcance dessa discussão são excelentes movimentos iniciais. No entanto, como mãe de um adolescente de quase 16 anos e professora de tantos outros das mais variadas idades, sei que esse é um desafio ainda maior do que parece.

De forma alguma, não me entendam mal, minha constatação aponta para a desistência ou a conformidade, mas é preciso pensar em formas objetivas de fazer isso acontecer. A pressão social para oferecer o celular a uma criança ainda é muito forte e sabemos que o vício já é uma realidade para a maior parte das crianças e adolescentes hoje. Assim, deixo algumas reflexões que podem contribuir para que o nosso objetivo seja mais facilmente alcançado:

Ofereça tempo de qualidade

É clichê, mas os clichês frequentemente carregam grandes verdades. É preciso oferecer tempo de qualidade aos nossos filhos. Muitas vezes, o celular se torna uma companhia para crianças que passam o dia afastadas dos pais e cuidadores.

Antes da internet, a responsabilidade da presença recaía quase exclusivamente sobre as mulheres, que não estavam tão inseridas no mercado de trabalho. Hoje, embora tenhamos avançado, esse espaço não veio acompanhado de medidas que nos permitam tempo com nossos filhos. Por isso, a culpa por não estarmos tão presentes no cotidiano deles ocupa um espaço significativo em nossas vidas. Então devemos escolher entre a maternidade e a carreira? De forma alguma. Mães felizes e realizadas tendem a criar crianças felizes.

É possível adaptar a rotina, reorganizar prioridades na forma de cuidar e ainda assim manter uma carreira sólida. Dedicar uma hora diária totalmente aos filhos, sejam crianças ou adolescentes, pode ser suficiente para que a companhia do celular comece a se tornar menos necessária. E aqui falo de mães porque histórica e estatisticamente são as que mais sofrem com a autocobrança, mas os pais podem e devem dividir o cuidado de reservar um tempo diário com as crianças.

Seja o exemplo

Recentemente, escrevi um artigo para a Vida Simples em que relatei minha conversa com pré-adolescentes durante um encontro de educação socioemocional. O tema era família, e muitos deles expressaram frustração por fazerem perguntas ou comentários aos pais que são respondidos desatentamente, muitas vezes sem ao menos levantar os olhos do celular.

Depois desse dia, comecei a propor especificamente esse tema em sala de aula e fiquei impressionada com quantos se ressentem aberta e conscientemente.

A base da empatia é a conexão. Se nosso filho se sente desconectado quando fala conosco, isso provavelmente afetará sua autoestima e percepção de importância. Tente deixar o celular de lado nesses momentos e responder sem irritação por ser interrompido.

Aquele vídeo de gatinho ou a viagem espetacular do seu influencer preferido também são confortáveis para o seu cérebro, então a reação natural é demonstrarmos insatisfação quando somos retirados desse estado de conforto.

Logo, é preciso se vigiar até que o exercício diário vire hábito. Evite usar o celular durante as refeições, especialmente em casa, procure não levar o celular para a cama. Quanto mais eles nos veem sem telas, mais naturalmente deixarão de recorrer a elas.

Permita que os filhos explorem possibilidades

Não é incomum perceber que muitas pessoas de gerações passadas – inclusive nós mesmos – lembramos nostalgicamente de mais brincadeiras na rua, de passeios com amigos. Temos a nítida sensação de que nos comunicávamos mais e melhor com as pessoas à nossa volta. Essa não é apenas uma percepção nostálgica, é uma constatação bem real.

É fato que a dinâmica da nossa infância e adolescência não é a mesma de hoje em dia. Estamos mais ocupados – a cultura da produtividade a qualquer custo está bem evidente. Além disso, temos mais medo (ou mais consciência?) da violência. E assim, nos sentimos mais tensos e preocupados com a segurança dos nossos filhos do que a maioria dos pais de antigamente.

Temos acesso a todo tipo de notícias e tragédias, muitas vezes relatadas de forma sensacionalista. O mundo mudou e a presença massiva das telas não deixa de ser uma consequência dessa mudança.

Por isso, especialmente para quem já ofereceu o celular aos filhos, é preciso encontrar formas de reduzir a dependência gradualmente. Um curso que desenvolva algum talento ou habilidade que eles ainda não tiveram tempo ou vontade de explorar, uma oficina, um esporte, uma dança.

Também funcionam novas dinâmicas e acordos em casa, como por exemplo vocês combinarem de ler o mesmo livro juntos para depois fazer comentários. Ou até encontrarem um tema de interesse comum durante a semana para pesquisarem juntos, fazendo comentários e observações. Quanto mais diálogo e interação propusermos, mais receptividade tendemos a alcançar.

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Explique as consequências das telas

Como é possível que, após tantos anos de consumo e dados precisos sobre esse tema, ainda não falemos obrigatoriamente nas escolas sobre comportamento na internet, crimes virtuais e as consequências do uso excessivo do celular? Como não explicamos os efeitos possíveis no corpo e no cérebro causados pelo vício em telas?

No ano passado, atendi a pelo menos cinco casos de adolescentes envolvidos em manipulação de imagens com inteligência artificial. Até quando vamos remediar apenas quando o problema surgir? Muitas famílias não têm recursos ou não buscam informações para orientar os filhos. Por isso, é essencial que as escolas atuem de forma ostensiva na abordagem desses temas. Apenas proibir não é eficaz.

Os estudantes colaboram muito mais quando entendem os motivos das proibições. A maneira mais efetiva de educar para o autocuidado digital é promovendo a consciência em crianças e adolescentes.

Verifique se a escola dos seus filhos aborda o tema. Se há palestras, workshops ou um programa socioemocional que trate especificamente das posturas adequadas e dos perigos da internet, redes sociais e telas em geral. Tanto para os professores e funcionários quanto para os estudantes.

Excesso de telas é um problema de todos

O vício em telas não é um problema apenas da infância e da adolescência, também estamos sofrendo os prejuízos do mau uso dessa tecnologia. No ano passado, voltei à universidade para um curso de extensão e me surpreendi com a quantidade de vezes em que tive o ímpeto de pegar o celular na bolsa, mesmo quando estava interessada no assunto da aula.

Somos o país mais ansioso do mundo, o mais deprimido da América Latina, um dos campeões em cirurgias plásticas. Estamos profundamente afetados pelas consequências do excesso de dopamina, da comparação, da solidão, da falta de conexões reais.

A culpa não é “dessa geração”, principalmente porque a única forma de ter acesso a um celular na infância é quando um adulto oferece. Ainda assim, a culpa também não é nossa.

Tivemos acesso a recursos tecnológicos muito avançados de maneira brusca e sem o mínimo de informação sobre os possíveis efeitos.

A boa notícia é que podemos, juntos, começar a transformar esse cenário. Com informação e boa vontade, é possível (e urgente!) buscar formas de melhorar a saúde mental de todos nós.

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