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Dicas práticas para melhorar o diálogo com filhos adolescentes
Comunicação aberta pode melhorar relação entre pais e filhos. Bence Halmosi/ Unsplash.
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Neste artigo:

Outro dia li o livro “Cartas a um jovem terapeuta”, do maravilhoso Contardo Calligaris. Em um dos capítulos, ele fala sobre como acabamos tentando educar nossos filhos para serem os indivíduos que nossas próprias famílias idealizaram para nós. Logo, estaríamos constantemente (e talvez inconscientemente) forçando a barra para que nossas crianças fossem aquilo que não conseguimos ser para nossos pais. Complexo, eu sei, mas pensando nos cenários que encontro hoje nas palestras e atendimentos às famílias dos meus estudantes, faz muito sentido.

Os adultos de hoje em dia, de forma geral, não foram educados com a percepção de que suas opiniões, gostos e vontades deveriam ser levados em consideração. A lógica era apenas (des)obedecer aquilo que os pais e professores impunham ou consideravam melhor. Assim, crescemos acreditando que não tínhamos e não deveríamos ter voz enquanto não nos tornássemos adultos. Dessa forma, qualquer coisa que escolhíamos fazer que fosse diferente das projeções, seria motivo de frustração e vergonha para nossas famílias, ainda que fôssemos bem sucedidos.

Ano passado palestrei para famílias dos alunos do ensino médio de uma escola sobre educação respeitosa. Esse é um tema que sempre me deixa apreensiva antes de qualquer apresentação, porque o risco de rejeição é grande. O engraçado dessa rejeição é que a maioria das pessoas concorda que os diálogos e relações devem ser baseados no respeito, mas quando se trata de crianças ou adolescentes, a coisa muda de figura. Como explicar isso? Minha hipótese envolve dois aspectos principais: trauma e senso comum. Os traumas que reproduzimos na nossa vez de educar e o senso comum de acreditarmos que o antigo “quem manda nessa casa sou eu” será eficaz. E, ressalva importante: é você que manda mesmo na casa, mas a sua autoridade não precisa ficar sendo repetida aos gritos, e sim demonstrada com respeito.

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Um problema de comunicação entre mãe e filha

Nesse dia, especificamente, tive um diálogo que transformou minha percepção sobre a comunicação com adolescentes. Uma mãe passou toda a palestra bastante incomodada com o que eu falava sobre educar de forma respeitosa. Me interrompeu algumas vezes para dizer que não via razão naquilo, já que ela tinha sido mãe aos 40 e já não tinha nenhuma paciência para dialogar com a filha, de 17 anos. Acreditava que a menina deveria acatar tudo o que ela dizia e não reclamar, já que era mais velha e sabia como o mundo funcionava.

Ao fim, surpreendentemente ela me abordou e pude compreender melhor a rejeição inicial. Me explicou que não conseguia dialogar com a filha, que a relação estava desgastada e que elas já tinham até vivido episódios de violência física. Isso tudo porque a menina queria “mudar de sexo”. Esse não é um assunto que domino tanto quanto gostaria, mas me restava acolher a mãe e entender como ela se sentia diante da revelação. Ela disse que não entendia, que achava que a filha falava aquilo com o único intuito de afrontar, chocar a mãe. Se lamentou por não ter um marido ou que o pai fosse presente, já que, na percepção dela, “talvez uma figura masculina teria evitado esse comportamento”.

Antes que eu pudesse responder, a filha aparece:

– Oi, mãe (sem muita vontade de dar esse oi)
– Olha, já falei tudo pra professora, viu?
– Tudo o que, mãe? (visivelmente irritada)
– Essas suas coisas e problemas…
– Que coisas e problemas? (ela já estava gritando)
– Que você quer “virar homem”!
– Mãe! Eu não quero virar homem, eu sou bissexual!

Eis que a mãe olha para mim, ignorando a filha, e me pergunta: “qual é a diferença?”

Expliquei rapidamente a diferença entre identidade de gênero e sexualidade – sob o olhar impaciente da adolescente – e a mãe fala: “era só isso?”. A filha, já enfurecida, respondeu:

– Eu estou tentando te explicar isso há três anos!

O respeito deve ser uma via de mão dupla na relação entre pais e filhos

De uma forma mágica, a mãe me abraçou, me agradeceu, abraçou a filha, prometeu mais paciência, disse que ia tentar conversar mais, escutar mais e ter mais respeito pelo que ela dizia. Com lágrimas nos olhos, pediu desculpas à filha pelos últimos anos e, a mim, pela forma como havia agido antes. A transformação no rosto, na postura e na percepção dela foram tão rápidas que eu me sentia em um filme.

Ainda consegui alertar a menina sobre o fato de que ela também poderia ter mais paciência e didática com a mãe nos momentos em que elas estivessem conversando. Deram as mãos e foram para casa. A mim, coadjuvante ali naquela cena, só me restou a satisfação e a felicidade de ter contribuído minimamente para que uma adolescente conseguisse mais voz em sua própria casa e uma mãe tenha agarrado a chance de reconstruir o diálogo com a própria filha.

Como melhorar a comunicação com filhos adolescentes

Por isso, hoje, gostaria de deixar algumas dicas para que a comunicação com adolescentes seja mais harmoniosa e produtiva:

  1. Pratique a escuta ativa: se possível, escolha momentos mais calmos e relaxados para conversar. Sem celulares ou distrações, esteja presente de verdade quando seus filhos estiverem falando. Demonstre interesse genuíno pelo que estão dizendo e faça perguntas abertas para entender melhor seus pensamentos e sentimentos. Evite interrompê-los ou julgá-los prematuramente.
  2. Estabeleça momentos regulares para as conversas: reserve tempo regularmente para conversar com seus filhos, seja durante as refeições, em caminhadas ou antes de dormir. Dessa forma, elejam, juntos, a periodicidade e os dias em que farão isso. Ter momentos previsíveis para conversar pode ajudar a construir confiança e abrir canais de comunicação mais facilmente.
  3. Valide os sentimentos deles: reconheça e valide os sentimentos de seus filhos, mesmo que você não concorde com eles. Essa validação mostra que você os respeita e os aceita, o que pode fortalecer seu relacionamento e abrir espaço para uma comunicação mais efetiva. Claro que, eventualmente, eles podem falar e fazer coisas apenas para testar ou avaliar sua reação, mas isso está no pacote da adolescência; os adultos somos nós, então precisamos entender como faremos para que eles sintam cada vez mais que isso é desnecessário.
  4. Peça desculpas: não é sinal de fraqueza e não há nada de errado em se desculpar com nossos filhos quando sentimos que erramos. Pelo contrário, essa postura honesta de vulnerabilidade tende a fazer com que a confiança em você aumente, mesmo que eles não demonstrem isso imediatamente.
  5. Exercite a paciência: lembre-se de que a comunicação eficaz leva tempo e prática, especialmente com adolescentes. Então, esteja disposto a ser paciente e compreensivo, e esteja aberto a aprender com seus erros ao longo do caminho. Não desista mesmo quando a comunicação parecer difícil, mas tome seu tempo e peça alguns minutos antes de continuar uma conversa difícil ou complexa.

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