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Como está a sua energia para a vida hoje?
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Desde que o homem pensa, ele tenta definir o que é essa força que move todos os seres vivos. De onde vem e o que é essa energia que faz com que levantemos da cama todos os dias? O que é esse impulso que anima, que dá vida ao nosso corpo? Em todos os tempos essas perguntas foram feitas. Os estoicos chamaram de ímpeto; Espinosa, de esforço; Nietzsche, de vontade de potência; Freud, de libido; Bergson, de elã vital.

Porém foi Baruch Espinosa que fez desse “desejo de viver” a espinha dorsal de toda a sua filosofia e denominou-o de conatus (em latim, sinônimo de esforço, impulso, inclinação). Para ele, o conatus está presente em qualquer organismo vivo, em suas palavras “cada coisa, à medida que existe em si, esforça-se para perseverar em seu ser “. Para se ter uma ideia do vigor desse ímpeto, veja o exemplo da flor que surge num fio de terra entre duas pedras (e sabendo-se que a flor é o ápice da maturidade de uma planta, imagine a força do conatus desse ser do reino vegetal).

Conceito assimilado, chegamos a parte que interessa: essa energia não está sempre em potência máxima. Ela oscila, tem altos e baixos e… quedas vertiginosas. E por quê? Porque estamos vivos, interagindo com o mundo e nele temos encontros, afetamos e somos afetados. E diz Espinosa: há encontros que nos alegram e temos um aumento da nossa potência de viver e há encontros que nos entristecem e temos uma queda de potência de viver.

E não somos indiferentes, identificamos imediatamente essas oscilações. Quando acordamos em que nível está a nossa potência? Depende da pessoa, depende do dia. Há pessoas que acordam com um nível elevadíssimo de potência, outras, em estado quase comatoso. Aqui entramos no terreno da singularidade humana, afinal, você já deve ter visto bebê sorridente e bebê carrancudo e, certamente, já conviveu com pessoas em que a alegria e a capacidade de alegrar estão sempre no topo e com pessoas em que a vida é uma sucessão de coisas que faltam.

O que é comum a todos é a busca incessante do aumento da potência. Você acorda em estado letárgico ­— 20% é o teu nível de potência — e só fala depois de tomar a primeira xícara de café porque já aprendeu que a cafeína aumenta a sua potência. Você vê aquela amiga depressiva estacionando em frente a sua casa e, antevendo uma brutal queda de potência, começa a baixar as persianas. Você não está em casa.

A maioria das razões que aumenta a nossa potência é de senso comum: um café com o melhor amigo, brincar com os filhos, a comida favorita, uma massagem relaxante, uma viagem. Dentre os inibidores de potência estão as decepções nas relações, um chefe maldito, os acidentes, as doenças…

Olhando desse ângulo, você teve um insight e pensa em fazer uma lista com tudo o que aumenta a sua potência e, a partir de agora, vai perseguir esses itens. Você não é o único.

Muitos autores de autoajuda já tentaram fazer essa lista. Não dá. E por muitas razões. Uma delas é o ineditismo da vida: é impossível saber ou se preparar para o que você pode encontrar ao longo do dia. Você também não é sempre o mesmo, o que te alegra hoje, pode não te alegrar amanhã. E quantas vezes você não é surpreendido pela constatação de que algo te afetou muito mais do que você imaginava?

Sabemos como determinado alimento afeta o nosso corpo, mas não é fácil saber os efeitos de uma experiência nova (às vezes só com muitas sessões de terapia). Grande parte do que nos afeta esta à margem da nossa consciência (o homem dificilmente tem percepção da gênese dos seus traumas, fobias e cacoetes, por exemplo).

Mas a vida é isso: a busca do que eleva e a fuga do que diminui a vontade de viver. Preste atenção aos seus encontros. Não se trata apenas de caprichos de bem-estar. Essa é a missão de quem vive. Seja um obstinado caçador de tudo o que aumenta a sua potência, por mais insignificante que seja: um café com alguém interessante, um hobby, a água fresca quando se tem sede, a comida conforto, a música que alcança a alma… Não deixe nada escapar.

MARGOT CARDOSO (@margotcardoso) é jornalista e pós-graduada em filosofia. Mora em Portugal há 16 anos, mas não perdeu seu adorável sotaque paulistano. Nesta coluna, semanalmente, contará histórias de vida e experiências sempre à luz dos grandes pensadores.

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