Como devemos responder frente ao sofrimento humano?
Devemos negar a dor do mundo pra nos preservar ou mergulhar de cabeça e tomar as dores do mundo com nossas?
Devemos negar a dor do mundo pra nos preservar ou mergulhar de cabeça e tomar as dores do mundo como nossas?
Teoricamente o que os olhos não veem, o coração não sente.
Mas, o que fazer quando estamos conscientes da dualidade do mundo em que vivemos?
Como lidar com a dor do mundo sem sermos sequestrados por ela?
Por muito tempo esse dilema parecia sem resposta e me sentia culpada por não ter forças para ir pra linha de frente lutar por um mundo melhor.
O fardo do mundo parecia ser pesado demais para uma menina frágil, vulnerável e que mal conseguia sustentar o peso das suas próprias dores.
Porém a empatia não me permitia viver o romantismo e a negação da realidade.
Eu estava em uma sinuca de bico, negar a dura realidade pra me preservar ou mergulhar de cabeça e tentar salvar o mundo sem sequer um salva vidas?
As duas opções iriam me destruir, me levar a culpa e ao sofrimento pois ambas as escolhas permaneciam enraizadas justamente no mesmo solo que o sofrimento humano: a dualidade, o medo e a separação.
O que exatamente quero dizer com separação?
Separação parte do principio que existem duas partes opostas: eu e o mundo, o lado certo e o lado errado, a espiritualidade e a materialidade, o mocinho e o bandido, o ativismo ou a alienação. É quando entendemos que precisamos escolher um e excluir o outro: é uma coisa OU outra.
Um conceito que veio junto com a minha liberdade, maturidade emocional e espiritual é a não-dualidade.
A compreensão deste conceito simples e profundo mudou minha vida e me salvou desse grande dilema sobre o sofrimento humano.
A não-dualidade concilia os aparentes opostos do mundo através do coração, do não julgamento e do perdão incondicional. É quando compreendo que ambas as polaridades habitam em mim o tempo todo: o problema e a salvação. Não há nada que esteja á parte da projeção da minha mente. A responsabilidade sobre como me relaciono com o que vejo é minha.
A percepção humana de realidade sempre é baseada no estado interno, portanto se desejo curar o mundo, preciso começar curando a minha própria percepção de realidade. A única forma de curar a percepção é despertar para a perspectiva do espírito, que hoje muitas linhas não espirituais preferem chamar de Consciência.
Enquanto a mente vê problema, o espirito vê aprendizado e solução. Enquanto a mente vê caos, o espirito vê beleza. Enquanto a mente duvida, o espirito confia incondicionalmente em um plano maior, na grande inteligência divina por trás de tudo.
Enquanto a mente é medo, o espírito é amor!
Compreendi que se eu me identificar, me envolver e surtar com a separação e as dores do mundo, serei incapaz de servi-lo de um lugar criativo de amor e compaixão.
Entendi que se eu não criasse um espaço sagrado dentro de mim para anular os sons do mundo, nem que fosse por um breve espaço de tempo, seria sugada por eles, e deste lugar de escuridão e dor não seria capaz de ser Luz pois escolheria um dos lados e lutaria por ele até o final dos tempos; o que de nada ajudaria na cura do mundo.
Era preciso reintegrar o meu Ser: corpo, mente e espírito atuando juntos e alinhados. Só assim encontraria coerência entre o pensar, sentir e o agir para me tornar um agente de mudança eficiente para o mundo, trabalhando em beneficio da equanimidade, do amor e da evolução e não mais compactuando com o medo e o julgamento alheio; potencializando a dor, as sombras e a separação.
Compreendi que não era sobre negar o mundo e suas dores, mas criar esse espaço sagrado em torno de mim, onde eu pudesse silenciar o mundo e a minha própria mente por um instante. Eu precisava encontrar um método e um momento onde pudesse mergulhar pra dentro de mim mesma e adentrar o portal sagrado do espírito, da arte, da dança, do belo, da poesia, do estudo, da música e da Consciência Maior para que ela me guiasse para além do medo.
Minha consciência me ensinou a liberar o peso da mente para que o coração pudesse expandir. Me desnudei então dos meus saberes, das minhas conclusões, certezas, pontos de vida e julgamentos para criar um espaço pro coração se encher de amor: sua verdadeira natureza divina.
O amor precisa de um recipiente, um veículo pra transbordar e curar o mundo! Esse veículo é você!!
Um coração com medo, com dor, raiva, rancor, violência e culpa se torna um coração tão contraído que a Luz do amor não consegue entrar.
Para nos tornarmos capazes de realmente e efetivamente servir o mundo, sendo criativos, amorosos, auto críticos, potentes, ativos, radiantes e luminescentes a ponto de iluminar a escuridão dos corações contraídos, é preciso que haja um certo grau de auto preservação.
Conciliar momentos de pausa dentro do movimento, introspecção em meio a extroversão e conexão espiritual e expansão de consciência em meio a vida agitada dos centros urbanos se torna fundamental para quem deseja viver uma vida de serviço coerente, maduro, uma vida mais criativa e produtiva; com mais recursos para melhorar suas relações interpessoais, sua saúde física e emocional e com isso ser um agente de mudança sustentado pela sua melhor versão.
Hoje ainda ouço muitas pessoas falarem:
– “Não tenho tempo pra espiritualidade, minha vida está uma loucura!”
– “Espiritualidade é coisa pra sonhador, a vida exige que eu esteja com os pés no chão e pronto pra luta.”
– “Preciso pagar as contas, não posso investir em autoconhecimento agora.”
– “Pra que espiritualidade? Adoro a vida material, não abandonaria ela por nada.”
E penso comigo mesma …. Mal sabem elas que o que estão evitando é justamente a solução de todos os problemas.
O maior equívoco sobre a espiritualidade é mais uma vez a idéia de separação: OU sou espiritualizado OU sou do mundo. Como se pudéssemos realmente compartimentar o ser humano.
Para servirmos o mundo através da justiça, da equanimidade, trazendo soluções milagrosas quando a mente só vê problema e caos, trazendo amor quando só há dor e medo é preciso que estejamos inteiros: corpo, mente e espirito como UM.
Não há nada à parte de você.
O mundo terá as cores das lentes que você está usando.
Portanto, invista em você e crie um espaço sagrado de auto preservação onde você consiga nutrir seu espírito antes de ir pra ação. Desta forma estará investindo na sua capacidade de dia após dia ser capaz de ir trocando as lentes através das quais você enxerga o mundo, por lentes cada vez mais amplas e brilhantes.
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