Afagar a terra com os pés
Ao cuidar dos pés, que são a base de sustentação do corpo, fortificamos os rins e nos religamos à nossa essência ancestral
Certa ocasião, demonstrei, em uma vivência para um círculo de pessoas, uma dança na qual tocávamos suavemente o chão com os pés nus.
Entre cantos suaves e melodiosos, criamos um ritmo próprio e fomos integrando as energias da terra e do corpo. Mas alguém no grupo sentiu grande preocupação, pois, desde criança, havia aprendido que andar descalço era perigoso e podia fazer mal.
Quando essa dúvida foi partilhada, esclareci que, ao fazer isso, cuidamos da nossa ancestralidade.
Desde tempos imemoriais, as tradições indígenas e outras culturas milenares nos ensinam que o corpo humano é um microcosmo do Universo.
É um sistema interligado em que cada parte se reflete no todo. Sob tal perspectiva, os pés são de grande importância para o bem-estar geral. Particularmente para a saúde dos rins, órgãos considerados centrais na manutenção da vitalidade e essência ancestral.
Pés são canais de energia
Com seus pontos de pressão e canais energéticos, os pés são vistos como a base do nosso ser físico e espiritual. Segundo a reflexologia, uma prática da Medicina Tradicional Chinesa, cada ponto ali corresponde a uma parte específica do corpo.
Ao pressioná-los, liberamos bloqueios energéticos, promovendo a limpeza e o fortalecimento dos órgãos. Além disso, massagens regulares na região não apenas aliviam o estresse e melhoram a circulação. Mas também estimulam o funcionamento adequado dos responsáveis pela filtragem do sangue e excreção das toxinas acumuladas.
Nas filosofias orientais, acredita-se que os rins armazenam a “Jing”, a energia vital herdada dos nossos pais, que determina a longevidade e a saúde geral.
Cuidar dos pés é cuidar da raiz
Cuidar deles, portanto, significa honrar essa herança ancestral, mantendo o fluxo que nos conecta às gerações passadas e futuras.
Práticas como a ingestão de ervas específicas, banhos de imersão em águas curativas e a manutenção de uma dieta equilibrada são formas de nutrir e proteger esses órgãos, garantindo que nossa essência permaneça forte e vibrante.
Em muitas culturas indígenas, como a dos povos Tapuia, os pés são também vistos como raízes que nos ligam à terra, nossa grande mãe.
Sendo assim, cuidar deles no dia a dia e sentir o contato com o solo é uma forma de reverenciar essa conexão, harmonizando o corpo aos ciclos naturais.
Portanto, em cada passo, lembramos que somos parte de um todo, uma teia de vida que pulsa com a energia dos antepassados e se estende para o futuro.
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Conteúdo publicado originalmente na Edição 270 da Vida Simples
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