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A borboleta azul que desfila sobre o concreto da cidade
A borboleta azul desafia o opaco do centro urbano com sua natureza frágil e bela (Foto: Anne Lambeck/Unsplash)
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No turbilhão de concreto e asfalto que é São Paulo, onde a pressa dita o ritmo fre­nético das horas e os ruídos dos motores abafam qualquer suspiro de natureza, eis que surge um intruso inesperado: uma borboleta azul.

Não, não é um devaneio primaveril, tampouco uma ilusão de óti­ca. É real. Uma borboleta azul, resplan­decente em sua singularidade, desafia a monotonia do cinza urbano.

É como se um pedaço do céu tivesse se desprendido e decidido dançar entre os carros engarrafados, deslizando entre os edifícios impessoais que se erguem como muralhas de concreto.

Onde não há verde, onde não se avistam parques ou jardins, e onde até mesmo as sacadas dos prédios se mostram despidas de vida vegetal, ali ela está, a borboleta azul, um paradoxo ambulante na selva de pedra.

Preso em minha própria rotina, questiono a origem e a missão desse ser com um par de azul na forma de asas. De onde teria vin­do? Para onde se dirige?

Será que, em meio ao caos e à agitação da metrópole, ela busca algo além do simples sobreviver? Seria sua missão deixar um rastro de cor e beleza na vastidão monocromática da selva urbana?

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Enquanto o trânsito avança a passos len­tos, a borboleta mantém o voo solitário, in­diferente ao frenesi ao seu redor. Dessa forma, seu azul brilhante é uma pequena nota de esperança em um cenário, muitas vezes, desolador.

Assim, enquanto as buzinas e as sirenes ecoam pelas ruas, a borboleta azul segue seu curso, talvez sem destino definido. Mas certamente deixando para trás uma marca indelével da efêmera beleza que pode flo­rescer até nos ambientes mais inóspitos.

Talvez, só talvez, ela seja a própria poesia em voo, uma lembrança de que, mesmo no coração da cidade, a natureza encontra uma maneira de se fazer presente.

Essa suave visita me lembrou, por asso­ciação, um poema de Carlos Drummond de Andrade, chamado A flor e a náusea. Em determinado momento, o poeta se espanta com uma flor que brotou por uma fresta em uma calçada áspera e cinzenta.

Admirado, ele escreve:

“… uma flor nasceu na rua
Pas­sem de longe
bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu”.

No meu caso, garanto que uma borboleta azul, como por exemplo as que povoam jardins encantados, driblou em voo o trân­sito opaco da rotina da cidade.

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Conteúdo publicado originalmente na Edição 267 da Vida Simples

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