A cura para grande parte das doenças já existe
O médico Diogo viu sua vida se transformar ao sentir na pele a dor de um transtorno mental. Após encontrar a cura, ele compartilha seus aprendizados.
Esta é a coluna de estreia do nosso novo colunista, Diogo Lara. Ele é médico psiquiatra e PhD em Bioquímica (UFRGS). Como terapeuta e pesquisador, ajudou centenas de pessoas. Entretanto, mesmo com todo conhecimento, viu sua vida se transformar ao sentir na pele a dor de um transtorno mental. Após encontrar a cura, ele compartilha conosco os aprendizados de sua jornada e sua nova visão sobre a saúde.
Tenho consciência de que as afirmações a seguir podem soar impactantes ou mesmo pretensiosas, mas acredito que não vim a esse mundo a passeio e, assim, sinto que não poderia começar meu texto de outra forma. Falarei com mais profundidade sobre cada uma delas ao longo desta minha primeira coluna na Vida Simples.
Então, convido você a respirar fundo, abrir espaço aí dentro e refletir sobre dois fatos:
— A maior parte da humanidade está doente;
— A cura para grande parte das doenças físicas e mentais já existe.
Posto isso, preciso ainda dizer que, por outro lado, não adianta uma cura existir se:
— Não se sabe dela;
— Não se tem acesso a ela;
— A pessoa tem resistências internas quanto ao processo usado para atingi-la.
Para encontrar a cura, primeiro tive que adoecer de verdade
Sou médico psiquiatra e PhD em Bioquímica pela UFRGS, ex-professor titular da PUC-RS, já orientei 24 mestrados e doutorados, publiquei 160 artigos científicos em revistas internacionais, além de três livros voltados para o grande público. Houve um tempo em que eu dava bola para tudo isso e foi, justamente nessa época, que me deparei com uma realidade bem dura: minhas credenciais acadêmicas e minha trajetória profissional não foram suficientes para me ajudar a lidar com o peso de um transtorno mental.
Não que esteja desprezando minha história, mas é que, ironicamente, esses títulos até contribuíram com o processo. Do “alto do meu conhecimento”, eles me fizeram cair de uma altura muito maior quando, em 2010, recebi a notícia por telefone, sozinho, à uma da manhã, de que uma pessoa muito amada minha havia se matado.
Eu nunca havia perdido sequer um paciente por suicídio mesmo sendo um “psiquiatra de referência” por mais de dez anos. A sensação foi como se uma faca entrasse pelo meu ouvido. Naquele instante, tudo pareceu irreal. Simplesmente pensei que não podia ser verdade, ao mesmo tempo em que não havia nada para me agarrar como evidência contrária. Afinal, era um amigo meu me dando a notícia em tom solene.
Quando adoeci, na época em que ancorava minha autoestima nos meus feitos, “cura” não era nem uma palavra no meu vocabulário. Hoje, após tudo que passei, mudei minha visão e é por isso que trouxe esse tema e falarei sobre ele nas colunas que estão por vir.
O que é trauma
Antes de prosseguir, gostaria de falar um pouco sobre o conceito de trauma. Trauma, como um paciente me ensinou, é quando “muita coisa (ruim) acontece em muito pouco tempo”. De fato, se tivesse sido um câncer ao longo de três meses, teria sido terrivelmente triste, mas não traumático, ainda mais se tivéssemos a coragem para viver a despedida com o coração aberto. Longe de ser o caso.
Foi como um acidente de perda total. Me tornei um zumbi. Sem sentimentos. Minha pele envelheceu dez anos em três meses, como pude testemunhar diariamente no inexorável espelho do elevador, com luz fluorescente enquanto subia e descia catorze andares. Ainda assim, continuei trabalhando, mas minha produção acadêmica caiu 80% naquele ano.
Minha reação inicial ao evento é o que chamamos na área psiquiátrica de dissociação. É um mecanismo de defesa primitivo que entra em ação para nos ajudar a tolerar o intolerável. Ele faz isso exatamente cortando o acesso aos sentimentos. E o quadro que desenvolvi é conhecido como Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT).
A psiquiatria, que até então fazia parte da minha vida pelos meus pacientes e meus estudos, havia penetrado na minha própria pele.
O problema é que as medicações, minhas aliadas fundamentais até então na prática com meus pacientes, tinham pouco a me oferecer. O TEPT responde mal às medicações convencionais e não é difícil entender o porquê.
Boa parte do efeito terapêutico dos antidepressivos, que são as medicações rotineiramente mais utilizadas, se dá pelo amortecimento das emoções, o que não é algo particularmente útil para quem estava interessado em voltar a sentir. A terapia psicanalítica que vinha fazendo também contribuiu pouco.
Quando estamos no fundo do poço e não sabemos o que fazer, somos tomados pela impotência. O esforço e boa vontade não bastam.
Três meses depois, encontrei alguém que sabia o que fazer para me tirar dali . Entretanto, vou falar mais sobre esse assunto só na próxima coluna, mas já posso adiantar um dos aprendizados que tive.
Felizmente, toda a dor, por maior que seja, guarda em si uma bênção, algo que só vim a descobrir bem mais tarde.
Os aliados no caminho de cura
Na travessia desses vários anos, cheguei do outro lado mais vivo do que nunca e aprendi diversas coisas que mudaram minha vida para muito melhor do que ela era antes desse momento.
A dor maior do trauma até que foi “rápido” de resolver. O que demorou mais foi resolver a estrutura que já estava adoecida antes do trauma (e que não me dava conta).
São as lições desses anos de metamorfose que quero compartilhar com você neste novo espaço, contando com alguns recursos para tornar essa experiência realmente significativa e bem mais breve e fácil para você do que foi para mim.
Entre os aliados da jornada estão a razão e a ciência que, se bem usadas, nos levam muito longe. Elas estão aí para nos proteger e nos trazer segurança, mas elas também têm seu limite. Por isso, para transcender essa barreira, se faz necessário um salto para uma dimensão da mente que vai além da razão. É um salto de fé.
Até o nosso próximo encontro aqui, minha singela sugestão para você requer um “sim” seu para iniciar o processo.
É preciso confiar para chegar até a cura. Sei que não é um pedido pequeno nos tempos e contexto atual da nossa humanidade adoecida. Ainda assim, peço um voto de confiança (isso em si já faz parte da cura) e do seu precioso tempo.
Nas próximas colunas, falarei sobre os passos seguintes desse caminho em direção à cura. Caso você queira se aprofundar nesse processo desde agora, sugiro ler meu livro “Imersão, um romance terapêutico”.
Autoestima e como deixar o passado no passado
O livro Imersão trata de duas questões fundamentais.
Uma é a restauração da autoestima, que passa por fortalecer seus 6 pilares e, não, não tem nada a ver com o discurso de “você é o máximo”, “você é única” que tanto desgastou o tema.
A autoestima é o eixo central da personalidade, portanto, sua evolução repercute em todas as áreas da vida. É a base de tudo.
A outra questão são as terapias de processamento de memórias que são, a meu ver, a grande revolução da psicologia das últimas décadas. Costumo dizer que, se Freud fosse vivo, ele estaria fascinado aplicando-a nos seus pacientes.
No livro falo como esses métodos são capazes de deixar o passado no passado e liberar o presente através da história de Amanda, que após um trauma de traição embarca para um retiro terapêutico num castelo da Escócia, onde se juntará ao terapeuta Mike e outros cinco participantes para viverem uma experiência de cura.
Me despeço desse nosso primeiro encontro com a promessa de que vai valer a pena, que tem tudo para tornar a sua vida mais leve, linda e… simples!
Com amor e sinceridade, estendo a minha mão e te convido: vem comigo?
*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
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