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A consciência e o velejador
Gui von Schmidt
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O aumento de consciência, ou algo a ser descoberto é a jornada que sempre esteve e estará disponível para a humanidade. A nossa alma promove essas experiências a partir dos nossos padrões de pensamentos na esperança de que prevaleça um olhar amoroso, benevolente, de compaixão, e de redenção diante das nossas respostas ou reações.

Lembrando que uma vez que esse convite é feito, nós temos o livre arbítrio de querer entender, e aceitar ou não. A Espiritualidade, ou Deus olha para as nossas escolhas ou não escolhas com amor, respeito e compaixão. Ao contrário, nós na condição humana temos muita dificuldade de nos expressarmos da mesma forma.

As origens

Na minha avaliação essa dificuldade tem pelo menos três origens que eu identifiquei em mim.

Primeiramente,  vivemos em um planeta onde toda a sociedade se organizou baseada no castigo, e nunca na educação amorosa, justamente pela baixa consciência.

Assim surgiram as leis. E, como consequência, criamos os julgamentos. Os sistemas jurídicos são organizados de forma semelhante ao de muitas religiões e crenças. Dessa forma, ajudou a cristalizar na mente humana a ideia de que pelo medo você pode controlar e “educar”.

Daí vem o nosso vício em julgarmos, e nos estabelecermos como juízes.

A segunda questão é que quando optamos por não aceitarmos esse convite de elevação de consciência a partir das experiências vividas. De alguma forma, o nosso Ser percebe este incômodo, e passamos a caminhar com um espinho no pé.

consciência

Para aliviar temporariamente a dor desse espinho que é na verdade o autojulgamento e a cobrança — passamos a julgar o mundo como se tivéssemos entendido aquela questão. De fato avistamos um flash do entendimento de como resolvermos aquilo que decidimos adiar. Entretanto, ao julgarmos simulamos um falso entendimento que possuímos sobre determinada questão.

Ainda o desconhecimento

A outra possível origem, é que nós não aceitamos esse convite simplesmente pelo fato de termos dificuldades de lidarmos com o mundo desconhecido. O mundo desconhecido representa um lugar onde pensamos que não temos mais o controle. Contudo, esta é mais uma das infinitas e ilusórias armadilhas da mente humana que ainda funciona em cima de uma programação de medo muito antiga.

Em terceiro lugar vem a resistência em nos expressarmos somente com amor em todo tipo de relações, seja conosco ou com o próximo. Essa resistência nasce da dificuldade de percebermos que vivemos a vida toda dentro de uma grande incoerência. Ao abrirmos a cortina da ilusão, vamos descobrir muitos aspectos sombrios da nossa consciência. Por fim, isso pode nos levar a culpa ou ao orgulho, impedindo-nos de nos conectarmos com a sede da alma que é a redenção.

Mudança inevitável

Em resumo, esses são os três aspectos que podem nos impedir de termos a coragem de viver o ritual de mudança, que seria como perder uma casca.

Essa reflexão me traz a lembrança de um dia muito especial durante a minha primeira viagem. Nós já estávamos velejando pelo Mar do Caribe a quase 100 dias. A seguir, e já próximos de Trinidad e Tobago tínhamos pela frente uma travessia perigosa.

Eram as últimas 90 milhas em mar aberto daquela primeira fase da viagem. Por fim, assim que chegássemos naquela ilha, praticamente terminaríamos de percorrer todas as ilhas do Caribe da nossa rota.

consciênciaDia intenso

Estávamos em dois barcos. Assim, quando amanheceu partimos de Grenada já sabendo que o dia seria duro, pois os Ventos Alíseos sopram muito forte naquela região. O dia foi intenso, com ondas enormes obrigando-nos a descer enormes jacarés, transformando nossos cataras em pranchas de surf. No meio do dia entrou uma forte trovoada trazendo mais vento e muita chuva. Por fim, perdemos a visibilidade totalmente e até tivemos que baixar as velas para evitar que o barco virasse.

Depois de aproximadamente meia hora, levantamos um pouco de vela, e voltamos ao rumo desejado. O ventou caiu um pouco, mas continuávamos a navegar às cegas devido ao intenso nevoeiro. Era uma situação mágica ver aqueles dois barcos se aproximarem do destino envoltos em uma bruma densa.

A beleza do mistério

Depois de uma hora, o nosso GPS indicou que estávamos próximos de terra. Assim, quase instantaneamente, apareceu em nossa frente dois paredões de pedras negras e pontiagudas com uma passagem no meio. Estávamos entrando na Boca do Dragão, um estreito entre a Ilhas de Trinidad e de Monos. O vento caiu bastante, o mar ficou liso à medida que avançávamos para dentro de águas abrigadas. Todos estavam quietos a bordo, olhando aquele cenário de aspecto tétrico, belo e misterioso.

O Mar do Caribe havia sido navegado totalmente. Assim, pela frente tínhamos o maior desafio até então: navegar no Oceano verde. A viagem continuou por meses.  Nas semanas seguintes subimos 1800 quilômetros pelo Rio Orinoco, depois passamos pelo Canal do Casiquiare, descemos o Rio Negro. E, finalmente, o Rio Amazonas chegando em Belém, completando 5 mil quilômetros fluviais pelas duas maiores bacias da América do Sul.

Rito de passagem

A lembrança desse dia está conectada ao sentimento que tive ao passar pela Boca do Dragão. Ou seja, foi como se eu estivesse vivendo um rito de passagem entre o que era conhecido e o nunca imaginado. Por que eu deveria sentir medo do novo? Por que eu deveria evitar dizer adeus ao lugar que eu conhecia?

Como viajante e creio que esta é a essência da nossa alma — eu sinto um grande impulso em meu coração que se enche de entusiasmo diante daquilo que eu não conheço. É uma sede de viver experiências que me carregam para novos aprendizados. Sim, nos desenvolvermos, expandirmos, aprendermos. É o movimento da alma. Já mencionei que a alma tem três princípios ou necessidades: criar com amor, expandir com consciência e compartilhar com benevolência.

Em outras palavras, essa é a característica da alma de todos os viajantes deste planeta que foram criados a partir da essência de Deus.

Por que estamos adiando essa grande viagem?

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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