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A beleza de cada idade e de cada corpo
Jake Thacker | Unsplash
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Neste artigo:

Recentemente, uma cliente me disse durante a sua consulta: “Doutora, eu não sou bonita, já me convenci. O que fazer no meu caso?”

Parece estranho, mas eu achei intrigante a forma sincera como ela me falou de seu descontentamento consigo própria ou com uma característica física específica de si mesma. Sobretudo, porque eu estava diante de uma bela senhora. Ela tinha o que algumas pessoas costumam chamar de “ótima aparência”, mas sua opinião sobre si mesma parecia diferente.

Fiz perguntas a ela. Deixei-a falar e apenas a ouvi.

— Mas o que você não acha bonito em você? Tem algo que deseja mudar? Como é a sua rotina? O que tem feito de sua vida? Me conta mais de você.

O que é beleza?

Quanto mais ela falava de sua história, de seus hábitos, de seu jeito de estar no mundo, mais fortalecia em mim uma das impressões mais profundas e evidentes que eu tenho da vida: cada pessoa é bonita de seu jeito! A beleza é o conceito mais amplo e relativo que existe.

Enquanto ela falava, eu fui me convencendo de que estava diante de uma pessoa belíssima, genuinamente bela. Uma senhora incrível, mãe de quatro filhos adultos, aposentada por tempo de serviço, ativa em seus afazeres de hoje, apaixonada pelos netos e pelas amigas. Adora viajar para a praia, ama seus cachorros, suas amigas e os cursos de idiomas nos quais se matricula sem intervalo, como um vício.

Foi cantora na juventude, é voluntária em um hospital de tratamento do câncer infantil, adora poesia, lê todas as noites antes de pegar no sono. Tornou-se vegana há mais de dez anos menos para benefício próprio que por compaixão e amor aos bichos.

Aos 70 anos de idade, sua rotina de atividades físicas me faz sentir uma inveja boa dela. Correu quatro maratonas, faz natação, musculação e yoga.

Todas essas atividades em conjunto a tornam uma senhora saudável e ativa. Uma mulher bela, com uma história invejável e uma relação de amor com sua própria vida, com sua saúde e com o tempo que lhe foi dado neste plano.

No entanto, por algum motivo, ela verbaliza sem nenhum constrangimento que não se acha bonita. Eu me permito uma recorrente tentação comparativa e lhe pergunto:

“Me diz uma pessoa que você acha bonita?”

E aí ela entregou o jogo:

“Eu achava linda a Elisabeth Taylor quando ela era jovem”.

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Padrão de beleza

Pronto. Ficou claro do que se tratava. Ela tinha padrões de beleza em sua imaginação, tinha boas referências do que seja uma pessoa bonita e não se dava conta de que ela própria era tão linda quanto as mulheres que admirava.  Sensível, culta, ela adora o cinema e as divas da sétima arte. Tem verdadeiro amor por Sophia Loren. Quando jovem.

Sem perceber, ela fez dessas referências jovens uma espécie de padrão que nunca conseguirá alcançar. Primeiro, porque cada pessoa é um milagre suficiente para não ter de se comparar com ninguém a não ser consigo mesma. E, depois, porque a juventude passa. E quem tem a sorte de envelhecer nem sempre compreende o quanto isso é bonito.

Aos setenta anos, minha cliente é uma jovem e linda senhora. De seu jeito, de sua sorte. À sua maneira. Porque beleza, cada um tem a sua. E o chamado “padrão de beleza” é nada senão uma velha crueldade.

Quanto mais ela falava das jovens Liz Taylor e Sophia Loren, mais ela se divertia, mais os seus olhos brilhavam.

— Ahh… Se eu tivesse os seios da Sophie e os olhos da Liz Taylor…

Parecer com si mesma

Ali eu tive uma certeza leve de que as comparações que ela fazia de si mesma com suas heroínas do cinema não carregavam sofrimento nenhum. Eram só o seu jeito de sonhar acordada. Ela ficava bem falando de suas alegrias. Tornava-se mais bonita, embora dissesse de si mesma o contrário. Tem saúde, cuida bem de seu corpo, de sua mente, de sua alma. E gosta de viver. É uma mulher em paz. E você sabe: bonito é alguém em paz consigo mesmo.

Minha cliente que chegou dizendo não se achar bonita é uma das pessoas mais belas que agora eu tenho o prazer de conhecer. Linda por dentro e por fora!

A mim só me restou dizer isso a ela com todas as letras, repetidas vezes. E recomendar-lhe alguns caminhos gentis, algumas formas simples de ajudá-la a envelhecer com ainda mais saúde e beleza.

Recomendei alguns jeitos suaves de ela se parecer consigo mesma, não com Liz Taylor nem Sophia Loren quando jovens. E de aparentar a idade que tem, sim. E mostrar a quem quiser ver o quanto é bonito envelhecer bem.

Leia todos os textos da coluna de Fernanda Gomes em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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