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Quais os riscos da cultura do machismo para os meninos?
Divulgação/ Instituto PDH George Bakos
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A pesquisa internacional “Meninos: sonhando os homens do futuro“, busca mapear os medos, dores, impactos do machismo na sociabilidade, desafios e potências dos meninos. Com início em agosto, o projeto é idealizado pelo PapodeHomem, Instituto PDH em parceria com a Natura. A iniciativa promove uma escuta dos meninos de 13 a 17 anos, que é feita por meio de pesquisa qualitativa e quantitativa, para traçar com profundidade o perfil dos meninos e suas perspectivas. O estudo também recebe apoio do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU).

A pesquisa nasceu de forma propositiva para divulgar os dados de forma pública e fomentar o debate sobre as masculinidades. “Com base nela vamos filmar um documentário e desenvolver uma ferramenta pedagógica voltada para a transformação dos meninos, focada em escolas e espaços esportivos”, destaca Guilherme Valadares, diretor de pesquisa, desenvolvimento e treinamentos do Instituto PDH. 

Para ele, os esforços de todos os parceiros visa contribuir para um futuro com homens equitativos, emocionalmente saudáveis, compassivos e responsáveis. A coleta de dados quantitativos pretende alcançar também as meninas adolescentes, assim como pais, mães e responsáveis por meninos – no Brasil, México e Argentina. A pesquisa ainda está em período de coleta.

Capa do documentário "Meninos: sonhando os homens do futuro" com a foto de uma criança negra e o céu como fundo. Na foto, o modelo Lindinaldo Filho (@lindinaldofilho), retratado por Ronald Cruz (@oronaldcruz).

Por que construir uma sociedade livre do machismo?

A comunidade, embora agregue conquistas importantes na busca por uma masculinidade saudável, ainda convive com o machismo no cotidiano. Há inclinação para a performatividade de uma certa masculinidade, que frequentemente é danosa a outras pessoas, especialmente às mulheres. É o que molda comportamentos e as próprias crenças dos meninos. “Eles crescem acreditando que devem performar a masculinidade do ser forte, de não ser vulnerável, e isso tem um preço muito alto”, explica Thiago Queiroz, palestrante, educador e fundador do Paizinho, Vírgula!

Além disso, estereótipos e pressões comportamentais afetam a própria saúde mental dos homens, segundo a psicanalista e terapeuta comportamental Patricia Strebinger. “Essas expectativas podem limitar sua expressão emocional, dificultando o desenvolvimento de empatia e habilidades de comunicação interpessoal”, afirma. 

No entanto, há uma disputa entre esses discursos e àqueles ancoradas em um desejo de construir masculinidades mais frutíferas e dialogadas com o bem-estar de toda a sociedade. Por outro lado, há barreiras difíceis de serem quebradas, como estereótipos e valores misóginos. “Os meninos seguem recebendo pressões contraditórias, para que performem uma masculinidade baseada unicamente em prover, reproduzir, proteger e dar conta de tudo sempre sozinhos, sem jamais fraquejar ou expressar sensibilidade”, enfatiza Guilherme.

Segundo as pesquisas “O silêncio dos homens” e “Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gênero”, os desafios e impactos da masculinidade baseada em medo e controle é danosa e problemática. 

Resultados das pesquisas “O silêncio dos homens” e “Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gênero.” Fonte: Alessandro/ Vida Simples

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Há inúmeros fatores que contribuem e afetam o machismo em meninos e homens. Para Guilherme Valadares, quatro pilares contribuem para a sustentação de antigos estereótipos, mas também de movimentos crescentes na sociedade que se contrapõem a antigos valores. Por exemplo, a proeminência de organizações LGBTQIAP+ e os debates sobre feminismos e masculinidades dividem a arena com a pressão pela performance masculina em períodos de crise econômica, além da presença das redes sociais nos comportamentos dos meninos e adolescentes, como mostramos abaixo.

A “grande recessão”: meninos que nascem e crescem em momento de crise econômica global. Vivendo a sombra do desemprego, alta inflação, baixo crescimento. Se tornar um homem de sucesso financeiro e provedor, como prega a masculinidade tradicional, se torna uma expectativa inalcançável para muitos.A conversa sobre ser homem não acontece com os pais, mas acontece nas redes sociais: o vácuo de conversas sobre o que significa ser homem é cada vez mais ocupado por canais de vídeos no instagram, youtube e tiktok, muitos com visões que rejeitam a equidade e reforçam visões machistas baseadas em um papel de dominância dos homens. Hoje, as buscas no Google por MGTOW (Men Going Their Own Way, que significa “Homens seguindo o próprio caminho) são equivalentes às buscas por “feminism” (feminismo), segundo a ferramenta Google Trends. Esse movimento é parte de uma onda, composta ainda por visões como “Red Pill” e “machos sigma”. Movimento LGBT+ ressignifica normas tradicionais: a busca por identidade e todas as discussões sobre orientação sexual são uma temática central na vida dos jovens. Em nosso estudo “O silêncio dos homens”, 29% dos meninos de até 17 anos não se declararam heterossexuais. Entre os homens de 40 ou mais anos, esse número cai para 17%. É um movimento de liberdade sem volta. A masculinidade em cheque: masculinidade no singular foi trocada por masculinidadeS, no plural. Não há um só jeito de ser homem, há inúmeras possibilidades. Carecemos, ainda, de visões propositivas de futuro mais robustas para os homens. Mas está claro que homens que saem por aí achando que são os donos do mundo, agressivos, violentos, dominadores e inseguros, estão com cada vez menos espaço em nossa sociedade. Foto: Divulgação/ Instituto PDH

Para Thiago Queiroz, uma das iniciativas para construir outros modelos de masculinidade é inserir a visão de que é possível ser homem de uma forma diferente. “A gente traz outros questionamentos, como a forma em que nós iremos nos relacionar com os outros. Mas é importante também falar sobre afeto e consentimento”, destaca.

É preciso, segundo ele, frisar a mensagem de que é necessário educar os meninos a partir de outras ferramentas. “Quando vou para algum lugar, eu preciso que isso fique firme e fixado na cabeça das pessoas. A gente só consegue mudar o futuro se mudarmos a forma como criamos os nossos meninos”, enfatiza.

As expectativas sociais do que é “ser homem”

Guilherme Valadares lembra ainda da permanência dos valores mapeados pela “Caixa dos Homens”, um estudo dos anos 1980 que investigou as expectativas sobre o público masculino. O trabalho é resultado do educador Paul Kivel, Allan Creighton e outros no Oakland Men’s Project. Juntos, eles desenvolveram um trabalho com homens adolescentes em escolas públicas, com resultados transformadores, dando origem ao conceito. Entre os comportamentos mapeados, estão:

  • Ser vencedor;
  • Ser dominante e agressivo;
  • Nunca dar sinais de fraqueza;
  • Evitar demonstrar emoções demais;
  • Nunca fazer “coisas de mulher”;
  • Ser provedor da família quando adulto;
  • Demonstrar heterossexualidade;
  • Sempre buscar seduzir mulheres;
  • Sempre dar conta de tudo sozinho.

A consequência disso são meninos que podem apresentar diferentes comportamentos: solidão, agressividade, não expressam suas emoções, poucos amigos e uma grande confusão sobre o que é esperado deles como homens”, acrescenta Guilherme.

Como promover masculinidades sem machismo

Para a psicanalista Patricia Strebinger, alguns caminhos são importantes e imprescindíveis para combater as masculinidades que são prejudiciais à saúde mental dos homens. Mas não só isso, ela propõe ações que contribuam para construir uma sociedade construída no respeito e na empatia.

  • Educação de gênero: Introduzir uma educação de gênero que promova a igualdade e a diversidade desde cedo. Por isso, é importante desafiar estereótipos prejudiciais.
  • Modelagem de comportamento: Famílias e figuras de autoridade devem modelar comportamentos saudáveis. No entanto, é preciso incluir a expressão emocional e o respeito pelas diferenças.
  • Apoio emocional: Criar um ambiente onde os meninos se sintam à vontade para expressar suas emoções e buscar ajuda quando necessário. Assim, fortalece a inteligência emocional.
  • Empoderamento: Incentivar os meninos a desenvolverem habilidades e interesses variados, independentemente de estereótipos de gênero. Além disso, eles podem se sentir confiantes em sua identidade única.
  • Consciência crítica: Ensinar a capacidade de questionar e desafiar normas e expectativas prejudiciais, mas promovendo uma cultura de respeito e igualdade.
  • Acesso a apoio psicológico: Disponibilizar recursos de saúde mental para ajudar os meninos a lidar com pressões e desafios emocionais.

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