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    Parentalidade positiva é tendência nas novas gerações
    Educar de forma positiva, com respeito e empatia, é a tendência entre as novas gerações, não só de famílias como também de escolas (Foto: Jonas Kakaroto/Unsplash)
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    O sentimento de segurança e apoio é fundamental para qualquer atividade na vida, mas na parentalidade isso ganha uma importância maior.

    Trilhar esse caminho com limites claros e respeitosos, baseado na gentileza, garante que as crianças cresçam de forma saudável e mantenham uma relação harmoniosa com os pais e cuidadores.

    São esses princípios que norteiam a chamada “educação positiva”, também conhecida como parentalidade gentil ou respeitosa. Em vez de focar no controle comportamental, a abordagem privilegia o desenvolvimento emocional e social da criança.

    Mas é desafiador romper padrões consolidados de educação parental, ainda mais quando não há tantas referências no passado que espelham essa prática no cotidiano.

    Hoje, perseveram ainda duas abordagens familiares mais conhecidas, uma em que os pais são rígidos e outra em que as crianças são mais permissivas, sem regras e limites.

    A educação positiva mostra que a solução não é tão polarizada quanto uma eleição, e que o caminho do meio pode trazer respostas úteis, inteligentes e adequadas a cada contexto.

    A parentalidade das novas gerações

    A rotina que vem com o início da maternidade é desafiadora, mas para a nutricionista Bruna Felício, o sentimento de se adequar a uma nova realidade foi ainda mais intenso.

    O cotidiano da moradora de Montes Claros, em Minas Gerais, ficou mais intenso com a chegada de Pedro*, uma criança questionadora, com comportamento opositivo e desafiante. Para ela, o diálogo firme e gentil, além da resiliência, são fundamentais para o equilíbrio da relação familiar.

    Ao invés de bater, gritar ou punir, Bruna tem encontrado esse equilíbrio em uma rotina estruturada, que envolve a validação dos sentimentos e o diálogo respeitoso.

    “No nosso entendimento, limites respeitosos trazem a noção de segurança que a criança precisa para crescer e se desenvolver de forma saudável”, acredita.

    Buscar apoio, profissionais capacitados e conhecimento científico foram fundamentais nesse processo.

    Parentalidade de crianças neurodivergentes

    Entre os 6 e 7 anos, Pedro foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

    Bruna conta que a família passou a entender que regras puramente impostas não traziam bons resultados. Por isso, incluir o filho na elaboração de pequenos acordos foi mais eficaz, apesar das particularidades.

    Isso porque, aos 8 anos, Pedro foi diagnosticado com Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), que trouxe um novo capítulo à história.

    “Em algum nível e para algumas questões nos sentimos triplamente desafiados por estes diagnósticos. Por outro lado, também acreditamos que Pedro é muito mais do que isso”, diz.

    A validação, compreensão e relação respeitosa com o filho, apesar de estimular novos modelos de parentalidade, enfrenta desafios com práticas já consolidadas, ainda que danosas.

    “São muitas vezes baseadas em tradições e costumes que nem sempre promovem o bem-estar emocional das crianças ou o desenvolvimento de habilidades como a empatia, o autocontrole e a autonomia”, explica Desirée Cassado, psicóloga e professora na The School of Life.

    Os riscos da violência e agressividade

    Dentre os princípios da parentalidade positiva, está a promoção da autonomia (Foto: Jonas Kakaroto/Unsplash)

    No passado, as crianças eram tratadas como “mini adultos”, e a infância, um período sem valor. Só no século 18 que as culturas da colonização ocidental passaram a validar as necessidades e particularidades da infância, ainda que de forma muito incipiente.

    Historicamente, as pessoas aprenderam a ser pais e mães com base em exemplos de avós, pais ou familiares, mesmo que fossem práticas violentas e que hoje estão em desuso.

    Há uma percepção de que a parentalidade exige uma postura de maior rigidez, punição, com pouca escuta e muito controle, explica Andreia Rossi, orientadora parental de famílias neuroatípicas.

    “A gente se desprende dos padrões tradicionais que permearam as gerações passadas quando pensamos em desenvolver responsabilidade, comportamento colaborativo, autonomia e segurança para nossos filhos.”

    Para a orientadora, usar o comportamento agressivo, seja verbal ou físico, é perigoso, pois interrompe ou dificulta o desenvolvimento comportamental e emocional da criança.

    No caso de filhos neuroatípicos, pode haver um crescimento do comportamento opositor. Ou seja, tornamse pessoas mais introvertidas, amedrontadas e com baixo repertório social.

    Além disso, essas crianças podem se tornar extremamente reativas, aumentando a probabilidade de riscos no desenvolvimento da capacidade cognitiva.

    “Nós adultos, que temos o cérebro sofisticado e a capacidade de compreender o todo, temos dificuldade em lidar com o não, temos dificuldades em fazer escolhas. Então exigir isso de uma criança é um tanto quanto cruel”, diz Andreia Rossi.

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    Por que é importante cultivar a autonomia das crianças?

    Dar autonomia as crianças garante com que elas tenham um melhor desenvolvimento emocional e psicológico, embora isso precise estar em consonância com limites claros.

    “Uma relação mais horizontal, onde há diálogo e empatia, permite que a criança se sinta parte importante da dinâmica familiar”, explica Marília Scabora, fundadora da Tribo de Mãe, uma comunidade virtual para mães brasileiras expatriadas.

    “Aqui, usamos o diálogo, explicações breves e a consistência naquilo que é inegociável”, diz Bruna Felício, mãe do Pedro.

    Há também um reforço com o filho de que, em algumas situações, ele tem autonomia para decidir, enquanto outras não há tanta flexibilidade.

    Ele pode decidir qual tênis ou lanche levar para o colégio, dentre as opções disponíveis, mas não pode optar simplesmente por faltar aula, por exemplo.

    “A escuta e o acolhimento são imprescindíveis aqui. Dar espaço para o Pedro expressar o que sente e como se sente em relação aos limites o ajuda a lidar com as frustrações que surgem”, destaca.

    O equilíbrio entre emoção e corpo

    Para a orientadora parental e colunista da Vida Simples, Mariana Wechsler, a chave está justamente em equilibrar a liberdade da criança com a segurança emocional e física, e buscar o “caminho do meio”, como ensina o budismo.

    Mas, frequentemente, esse equilíbrio entra em desregulação. “Relatos que recebo mostram que, quando a família já esgotou as tentativas de negociar com a criança e ela não cumpre o acordo, os pais acabam recorrendo à punição”, diz Wechsler.

    Apesar da frustração, ela lembra que os acordos costumam funcionar entre pessoas com maturidade cerebral e experiência de vida. “Negociar com crianças, especialmente as pequenas, não é eficaz”. Elas podem até aceitar em um primeiro momento, mas logo agirão por aquilo que sentem.

    “Imagine uma situação em que uma criança não queira usar o sapato”, sugere a especialista. Uma posição autoritária seria forçar o uso do calçado. Já ser permissivo daria margem para que andasse descalço, enfrentando riscos, especialmente em ambientes ao ar livre.

    Leia os textos de Mariana Wechsler
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    Birras podem ser resolvidas sem estresse

    Acolher os sentimentos da criança e buscar soluções em conjunto com ela são estratégias da parentalidade positiva para o desenvolvimento de pessoas emocionalmente saudáveis (Foto: Jithin Murali/Unsplash)

    Educar de forma respeitosa implica acolher o que a criança está comunicando (como não querer usar o sapato) e tentar entender a razão disso. Vale dar opções, como escolher outro calçado, enquanto se prepara para sair de casa”, explica.

    A solução pode nem ser imediata, mas a paciência é uma amiga nesse percurso.

    As birras podem até surgir como desestabilizadores dessa relação, ainda mais quando acontecem em locais públicos.

    “A reação automática acaba sendo influenciada pela vergonha e olhares julgadores ao redor”, lembra Stella Azulay, educadora parental, TEDx Speaker e autora do best seller Como educar se não sei me comunicar (Literare Books).

    Azulay diz que a melhor atitude é respirar, ficar na altura do olho da criança e tentar manter a calma e o controle, sempre com uma postura de acolhimento.

    “Seja com um abraço, seja buscando entender o que ela está manifestando na hora. Além disso, responder algo que vá atender a necessidade da criança, com firmeza e gentileza.”

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    Respeito também é tendência nas escolas

    Bruna explica que, assim como no ambiente familiar, buscou modelos educacionais que estivessem em sintonia com as práticas dentro de casa para escolher a escola mais adequada para a sua criança.

    “Vejo que o Pedro tem muitos ganhos porque tem o reforço daqui e o reforço de lá. De uma forma muito semelhante, também é experienciado na escola.”

    Crianças que crescem a partir de uma parentalidade respeitosa tem melhor desempenho acadêmico e bem-estar geral, defende Desirée Cassado. “Elas também tendem a se sair melhor na escola e se sentem mais seguras para explorar o mundo”, justifica.

    Estar em sintonia com modelos de aprendizagem não tradicionais dão margem para que os filhos desenvolvam mais autonomia.

    Por outro lado, ao rejeitar relações colaborativas e empáticas, escolas que aplicam um ensino rígido promovem o autoritarismo, que se reflete no desenvolvimento infantil.

    Na contramão das pedagogias convencionais, há metodologias alternativas que estimulam o livre pensar, como a pedagogia Waldorf.

    Ela olha para o indivíduo como um ser em potencial e parte integrante da natureza. A abordagem permite ao educador criar o ambiente em que a criança se desenvolve. Nesse sentido, a escola e as famílias caminham juntas, como parceiras.

    “Quando a educação vem de um lugar rígido, padronizado, individualista, pautado em metas, métricas, notas e de massificação, o resultado é seres humanos doentes, desconectados, egocêntricos e inconsequentes”

    , explica Jeannette Pouchai, pedagoga waldorf e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC).

    A parentalidade respeitosa é possível para todos?

    A parentalidade gentil orientada a partir da educação positiva conduz os pais a uma relação de equilíbrio entre gentileza e firmeza, além de ensinar habilidades emocionais para as crianças.

    “Essa estrutura pode ser especialmente útil em um contexto em que muitos pais se sentem inseguros ou sobrecarregados pelas demandas modernas de criação”, reforça Desirée Cassado.

    Relações familiares mais gentis ajudam com que as crianças cresçam com maior confiança e habilidades para enfrentarem desafios na vida. Lidar com frustrações de forma saudável é um dos principais benefícios.

    “Em vez de reagirem impulsivamente, as crianças aprendem a respirar fundo, buscam entender o que estão sentindo e encontram maneiras de resolver seus problemas. Isso constrói resiliência.”

    Mas a educação positiva é aplicável em todas as famílias? Para Desirée, a parentalidade respeitosa pode se tornar um fardo para muitas mães, na medida em que a sobrecarga materna está presente na maioria das famílias.

    O acúmulo de responsabilidades com a casa e a criação dos filhos, sem uma rede de apoio suficiente, faz com que elas tenham maior dificuldade em praticar a parentalidade respeitosa.

    “Em um contexto de tanta exigência psíquica, esperar que as mães apliquem práticas que demandam paciência, escuta ativa e regulação emocional constante é, muitas vezes, irreal”.

    A parentalidade respeitosa funciona melhor quando há elementos que permitem a sua aplicação. Mães que enfrentam ansiedade, estresse crônico, fadiga ou violência doméstica possuem menos instrumentos para uma maternidade saudável.

    “Além disso, as diferenças socioeconômicas e culturais são frequentemente ignoradas nas orientações generalistas da parentalidade respeitosa”, acredita Desirée.

    Para a psicóloga da The School of Life, mães que vivem em situações de vulnerabilidade, lutando para garantir o básico — comida, moradia, segurança — não têm o mesmo acesso aos recursos que facilitam a implementação dessas práticas.


    * Nome alterado a pedido da família para preservar a identidade da criança.

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