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Manifesto Antimaternalista: livro repensa papel da mãe na sociedade
Janko Ferlic
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A psicanalista Vera Iaconelli acaba de lançar o livro Manifesto Antimaternalista* (Zahar) e sugere uma reflexão sobre a maternidade e o papel das mulheres. Vera volta ao passado para buscar as origens de mitos que envolvem a maternidade. Segundo ela, a idealização materna tem gerado mulheres oprimidas e exaustas.

“Ser antimaternalista é abrir um caminho para que toda a sociedade assuma o cuidado pelas novas gerações”, como explica a autora em entrevista exclusiva à Vida Simples:

O que a moveu a escrever o Manifesto Antimaternalista?

O que me levou a escrever o Manifesto Antimaternalista foram as décadas de trabalho como psicanalista nas quais eu venho atendendo mulheres em profundo sofrimento a partir da chegada dos tão esperados filhos, ou não tão esperados, ou aqueles que elas gostariam de ter, mas não têm condição. Enfim, inúmeras situações nas quais a maternidade se apresentou para as mulheres como um grande problema, mas a partir da concepção de maternidade da atualidade das condições dessa maternidade.

Como entender a armadilha ideológica da maternidade?

Armadilha ideológica da maternidade, que a gente chama de maternalismo, é fazer crer que a mulher é a principal — quando não a única — responsável pela descendência, pelas crianças e pelas próximas gerações. Mesmo quando a gente tem divisões de tarefa e na logística iguais, a gente sabe que a responsabilidade, a preocupação é perene das mulheres. Isso é colocado não só de fora para dentro como elas mesmas assumem a ideologia maternalista como um valor. Uma ideologia que permeia todo o tecido social. É uma forma de pensar,  uma mentalidade que a gente tem de transformar pelo bem das mulheres, pelo bem dos homens e pelo bem da sociedade.

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Vera Iaconelli lança Manifesto Antimaternalista (Foto: Divulgação) Vera Iaconelli lança Manifesto Antimaternalista (Montagem: Vida Simples/Fotos: Divulgação)

De que maneira esse ideal de maternidade tem adoecido as mulheres e como romper com esse ciclo?

Os ideais adoecem os sujeitos porque eles são inalcançáveis. Fazem crer que falta algo em você e não no ideal, este sim que deveria ser questionado. Na busca por corresponder alguma coisa que é inatingível, a pessoa ela se esfalfa, se desgasta, se esgota, mas também tem o seu narcisismo ferido pela imagem que não consegue alcançar. Aí vem a culpa, vem a sensação de inadequação ou de erro — todas essas coisas que nos ferem afetivamente. E aí as formas de adoecer também são formas de denunciar isso, mesmo que inconscientemente.

O que é ser antimaternalista?

Ser antimaternalista é ser pró-maternidade, com os cuidados com a infância. É reconhecer que não dá para fazer uma tarefa de cuidados com a próxima geração sem que todo mundo se implique nisso. Não só as pessoas com filhos, mas toda a sociedade, uma vez que a próxima geração ela é interesse da geração anterior, sempre. A gente não pode sustentar uma sociedade com déficit demográfico. Por exemplo, quando ele é muito alarmante, como já acontece em países desenvolvidos, nos quais nascem menos crianças do que é necessário para repor os idosos. É pensar é o cuidado como uma questão social e não como uma questão individual e das mulheres.

Qual o caminho para a maternidade/parentalidade saudável?

O caminho para uma maternidade mais possível, nem diria saudável, porque a gente não pode garantir nada nesse sentido, mas é aquele que reconhece que a gente nunca está preparado para o que vai vir.  Não adianta você estudar para ser pai e mãe porque você vai aprender fazendo. A gente entende que não precisa ser protagonista absoluto dos cuidados com a prole, que a gente tem que juntar os parentes próximos, o Estado, os amigos e pensar de uma forma mais coletiva essa função. Também deve levar em consideração que nas relações conjugais, por exemplo, as relações onde pai e a mãe se estabelecem ali um relacionamento que permanece depois da chegada dos filhos, quanto mais as pessoas forem parceiras, mais equânime for essa troca, mais chance dessa relação não sofrer de ressentimentos e de violências. Uma tentativa de incluir os outros e sendo muito honestos com as nossas motivações para sermos pais e mães.

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