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    As madrastas estão cansadas dos estereótipos: até o Google já se tocou
    Benjamin Manley
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    “Aquilo que provêm vexames e dissabores em vez de proteção e carinho.” Você pode estar se perguntando a que essa frase se refere. Ela foi retirada de uma definição de dicionário. Lendo assim, parece descrever um abusador ou alguém que nos possa fazer mal. Na verdade, esse era o significado pejorativo da palavra madrasta no Google até recentemente. Foi a partir de uma campanha do Movimento Somos Madrastas, com duração de dois anos e uma coleta de 5 mil assinaturas, que a plataforma compreendeu a incongruência das palavras relacionadas ao termo e finalmente removeu esse trecho da definição em junho de 2023.

    Mari Camardelli, fundadora do movimento, tem se dedicado a trazer uma nova perspectiva para esse papel muitas vezes estigmatizado e carregado de estereótipos. Ela, que é terapeuta e educadora parental, reúne uma comunidade de quase 70 mil seguidores no Instagram, espaço onde compartilha vivências e reflexões sobre o papel de madrasta na sociedade.

    Em entrevista à edição 221 de Vida Simples (julho, 2020), Mari mostra que é preciso construir novos caminhos e olhares para essa relação. “Para haver mudanças em como são vistas as mulheres que se unem com alguém que já tem filhos, é preciso tecer novas narrativas para esse lugar carregado de estereótipos”, explica. 

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    Historicamente, o papel das madrastas foi construído como um lugar de abuso e maus tratos. Os contos de fadas, por exemplo, como Cinderela, ajudaram a narrativizar uma relação já complexa pela dinâmicas familiares que ela exige. “Há várias crenças construídas em cima do papel da madrasta, que se sustentam por narrativas antigas de contos infantis. A disputa, a concorrência, a comparação”, destaca a educadora parental

    Ela, que é terapeuta AIM (Abordagem Integrada da Mente), enfatiza que essas crenças ajudam a marginalizar e oprime o papel de madrasta. “Madrasta vem de mater, que significa mãe. É uma maternagem. É cuidado, sim”, defende.

    Mari rebate ainda os eufemismos, como “boadrasta”, que buscam trazer um olhar mais positivo para o papel dessas mulheres nas relações familiares. “Se padrasto não é palavrão, madrasta também não!”

    Mas o fato de termos uma compreensão sobre isso não nos faz sentirmos prontos para exercer um papel do tipo. É preciso autoconhecimento, compreensão e muito diálogo sobre que espaços ocupar na vida dos enteados. “Quando conheci meus enteados muitas memórias da minha infância com os cônjuges dos meus pais vieram à tona”, explica Mari. Ela lembra ainda que uma das questões importantes é olhar para o outro sempre com respeito ao espaço de cada um, algo que varia. 

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    Além de madrasta, Mari é mãe, mas também foi enteada ao longo da infância e adolescência. Essa dinamicidade de papéis da qual fez parte a ajudaram a construir um olhar amplo e acolhedor sobre as relações familiares. Por isso, a comunidade Somos Madrastas, além de um espaço de acolhimento, busca tecer novas narrativas para uma função na família ainda incompreendida. “As crianças merecem ambientes harmônicos, de diálogo e respeito”, compreende Mari. 

    “A gente não sabe nosso papel [como madrastas] porque a sociedade não nos reconhece, não valida a nossa existência, não nos dá voz.⁣ E quando a gente aparece na televisão, a gente está matando o marido e competindo por herança”

    Mas, então, como as madrastas podem desmistificar essa visão? Mari, que há anos fala, pesquisa, vivencia e produz conteúdo sobre o assunto, contou recentemente que ainda se sente insegura com o papel de madrasta, porque relacionamentos são complexos. Além disso, cada um deles vai ser constituído de histórias, particularidades e comportamentos únicos que os diferenciam dos demais.

    Desenhe seu papel. Decida você a sua vida de madrasta. Converse com a mãe das crianças se possível. Se não for possível, tudo bem”, orienta a educadora parental. “Converse também com o pai.⁣ Como uma folha em branco, sente para desenhar esse papel parental da sua vida. A madrasta que eu gostaria de ser é assim. Como você enxerga isso? Escute. Modele. Teste. Erre. Retorne”, finaliza.

     

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