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Por que é tão importante trabalhar em equipe?
Trabalhando em equipe, cada habilidade é respeitada, tornando todos os indivíduos responsáveis pelo bom funcionamento do coletivo (Foto: Pascal Swier/Unsplash)
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A espécie humana é essencialmente gregária. Desde a infância até a vida adulta, vivemos constantemente cercados por outras pessoas, muitas vezes compartilhando diferentes opiniões e visões de mundo em equipe.

“Em todas as fases do desenvolvimento humano, precisamos do contato com o outro para pertencermos ao nosso meio. É juntamente com outras pessoas que crescemos e desenvolvemos”, explica Clara França, pedagoga que compartilha sua jornada como educadora nas redes sociais para mais de 300 mil seguidores. Para Clara, a frase “nenhum homem é uma ilha”, do poeta John Donne, reforça essa característica da nossa espécie.

Apesar de essencial, a convivência nem sempre é fácil. Estar cercado de outras pessoas é estar aberto para divergências e conflitos de pontos de vista. Aprender a lidar com as diferenças é essencial para poder conviver em harmonia e viver com dignidade dentro de nossas dinâmicas sociais.

Desde crianças aprendemos a ser sociáveis

Na primeira infância, período que abrange os primeiros seis anos de vida, a criança começa a se entender como indivíduo, que tem sentimentos, vontades, crenças, desejos e motivações. E é então que surgem os primeiros obstáculos da socialização.

“Convivendo na escola e com outras crianças, a criança percebe que não é única. Ela começa a entender que, juntamente com ela, existem outros indivíduos com suas particularidades”, diz Clara. É nesse momento que nasce a capacidade do ser humano de desenvolver seu lado social e, futuramente, o trabalho em equipe.

Para a professora, a escola tem a responsabilidade de formar a estrutura básica de um indivíduo socialmente saudável. “Mesmo com a criança tendo interações com a família, é na escola que costumam ocorrer os primeiros conflitos e diferenças, e é a partir dessas primeiras ‘tensões’ que nascem as habilidades sociais”, explica.

As relações familiares também têm um papel importante na formação de uma pessoa socialmente estruturada. “O modo como as pessoas adultas agem em família é sempre observado pelas crianças. Elas aprendem, vão percebendo que tipos de atitudes geram resultados e conflitos. E tudo isso vai impactar na capacidade de trabalhar em equipe no futuro”, explica Luciana Bento, escritora, socióloga e mestra em educação.

Dessa forma, dividir um brinquedo, resolver um problema sem pedir ajuda de imediato, fazer uma nova amizade e lidar com os sentimentos de outras pessoas são algumas situações que os pequenos começam a enfrentar, e os ajudam a desenvolver habilidades sociais fundamentais para a vida adulta.

“É na infância que as crianças precisam desenvolver mecanismos para a resolução de problemas que passam pela capacidade de dividir, pela comunicação, pela empatia, pelo respeito ao outro”, complementa Luciana.

Adolescência é menos solitária com amigos

A adolescência, que dura em torno dos 10 aos 19 anos de idade, é uma fase cercada de conflitos que afetam a sociabilidade. “Corpo mudando, pensamentos acelerados e sentimentos de não pertencimento aflorando. Mas, quando estamos em grupo com pessoas da mesma faixa etária, percebemos que o outro também está passando por algo semelhante, ou que já enfrentou situação parecida e conseguiu superar”, aponta Clara.

Mais uma vez, a escola é essencial nesse momento de fortalecimento da identidade individual e social. Segundo a professora, atividades escolares realizadas em grupo promovem a convivência, estabelecendo diálogos e buscando soluções de problemas. Aliada à família, a escola consegue promover o desenvolvimento saudável da pessoa para que futuramente ela se torne capaz de viver a vida adulta com habilidades sociais, pronta para estar em sociedade.

Nesse processo, os laços de amizade entre os jovens é fundamental. “É um momento de forte conexão com os colegas, e de ruptura com os adultos. Isso é natural, cada um busca a formação e a validação das suas próprias visões de mundo. É um processo solitário e muito pessoal, mas que pode ser transformado pela aproximação de pessoas que pensam de forma parecida”, explica Luciana.

A socióloga sugere que, apesar dos momentos de solidão ou de agrupamento com outros adolescentes de gostos semelhantes, o trabalho em equipes diversas, com indivíduos de diferentes origens e habilidades, deve ser encarado como uma oportunidade de lidar com as diferenças. Afinal, “nem sempre estamos próximos dos amigos e de pessoas que pensam exatamente como nós”.

Socialização na faculdade nos prepara para o mercado de trabalho

Para Melque Dourado, empresário e especialista em gestão de pequenas e médias empresas, o trabalho em equipe é importante porque alavanca sinergias, melhora a eficiência operacional e facilita a inovação por meio da integração de diversas competências.

Nesse sentido, a faculdade exerce um papel importante, fornecendo ferramentas para adquirir habilidades necessárias para conviver em equipe. “Trabalhar em grupo na faculdade ajuda a desenvolver competências como liderança, gestão de conflitos e colaboração, preparando para a dinâmica do ambiente corporativo”, aponta o empresário.

De acordo com Guga Medeiros, especialista em psicodinâmica do mundo dos negócios e analista comportamental, o ambiente universitário é um microcosmo do mundo corporativo. “Seja em projetos acadêmicos, atividades extracurriculares ou até mesmo em iniciativas voluntárias, os alunos aprendem a lidar com prazos, a delegar tarefas, e, talvez o mais importante, a conviver com a diversidade de opiniões e estilos de trabalho”, aponta.

Afinal, em uma empresa, trabalhar em equipe significa ser capaz de colaborar com pessoas de diferentes formações, culturas e visões de mundo. “A faculdade oferece um ambiente protegido onde os erros têm menos consequências, permitindo o aprendizado necessário para enfrentar desafios maiores no mercado de trabalho”, justifica Guga.

Apesar de ser natural, trabalhar em equipe não é fácil

Mesmo aprendendo a trabalhar em equipe em todas as fases de nossa vida, não tem como negar: conviver com outras pessoas pode, sim, ser desafiador e estressante.

Mauricio Evaristo, gerente de recursos humanos da empresa OMA, diz que “as diferenças de personalidade e de estilos de trabalho, a falta de comunicação, os conflitos internos, e a falta de clareza sobre responsabilidades são algumas das maiores dificuldades de se trabalhar em equipe”.

Para Mauricio, esses problemas podem ser abordados coletivamente para garantir a eficácia e a harmonia do grupo. “Superar essas dificuldades requer uma abordagem holística que envolve uma boa comunicação, clareza de papéis, resolução de conflitos e uma liderança eficaz”, complementa.

Com essas práticas, o especialista garante que é possível transformar desafios em oportunidades de crescimento e sucesso, tanto para a equipe quanto para a organização.

Viver junto para viver melhor

Apesar dos desafios, trabalhar em equipe garante recompensas que valem todo o esforço. Afinal, se nascemos, vivemos e morremos em sociedade, não é à toa: existir juntos nos traz benefícios.

Para Bia Nóbrega, especialista em recursos humanos, as principais vantagens de se trabalhar em equipe incluem a diversidade de ideias, o aumento da criatividade, a melhoria na tomada de decisões e a possibilidade de maior eficiência na execução de tarefas.

“Quando as pessoas trabalham juntas, elas podem compartilhar conhecimentos e habilidades, o que leva a soluções mais inovadoras e efetivas”, justifica a profissional. Além disso, Bia complementa que o trabalho em equipe promove um senso de pertencimento e engajamento, pois os membros sentem-se apoiados e valorizados.

Mas trabalhar em equipe vai muito além do mercado profissional, da faculdade ou da escola. Para Luciana Bento, não podemos perder essa dimensão social, por mais que seja difícil conciliar nossos desejos e interesses com os dos outros.

“Existe um provérbio africano que diz, ‘se você quer ir rápido, vá sozinho, se você quer ir longe, vá acompanhado’. A humanidade tem ido longe porque estamos caminhando juntos, aprendendo e vivendo de forma coletiva”, declara a socióloga.

Vivemos um tempo em que o sistema capitalista exige resultados cada vez mais imediatos, alimentando a falsa crença de que a humanidade é competitiva, deixando de lado valores essenciais para o Bem Viver, como a cooperação. Nesse ciclo vicioso, as pessoas terminam por agir de forma cada vez mais individualista.

Mas, para a especialista, precisamos valorizar tudo que a gente ganha por trabalhar com outras pessoas. “São benefícios que só podemos conquistar com a combinação das qualidades e habilidades das diferentes pessoas que integram um grupo”, complementa. Para Luciana – e para quem também reconhece a importância do trabalho em equipe -, é só agindo coletivamente que alcançamos resultados satisfatórios para todos.

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