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Por que a Geração Z é alvo de críticas no mercado de trabalho?
bernardbodo
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A crença de muitos é a de que a Geração Z não é tão esforçada, resiliente ou motivada quanto o resto do mercado de trabalho. Um levantamento do site de currículos Resume Builder mostrou que, para os profissionais mais experientes, os nascidos entre os anos 1995 e 2009, que estão começando sua vida profissional, são mais difíceis de se trabalhar junto do que as outras gerações.

Na pesquisa, 12% dos profissionais apontaram que já demitiram um funcionário da Geração Z com menos de uma semana de serviço. Entre os principais motivos, os profissionais relatam sentirem que existe uma falta de habilidades de comunicação, de motivação e de esforço desses jovens.

A mesma pesquisa aponta que, para os gerentes e chefes de equipe, 1 a cada 3 prefere contratar Millennials (os nascidos entre 1982 e 1994), ou a Geração X (de 1965 até 1981). O que pouca gente comenta é que essas gerações, quando entraram no mercado de trabalho, também foram alvo de críticas e desafiaram os modelos já existentes.

Não é de hoje: novas gerações trazem evoluções

Quando os Millennials entraram no mercado de trabalho, havia muitos embates. Eles também foram considerados impacientes, irresponsáveis e insubordinados. Daniela Diniz, jornalista e especialista em relações institucionais na Great People e Great Place to Work, explica que isso aconteceu com cada uma das gerações, pois todas são marcadas por trazerem propostas diferentes para o mercado.

A Geração X, nascida durante os anos de ditadura no Brasil, entrou no mercado de trabalho no momento em que estava acontecendo no mundo corporativo um processo chamado de downsizing. Em outras palavras, empresas começavam a passar por corte de gastos e, consequentemente, desligamentos de trabalhadores.

“Isso fez com que muitas organizações enxugassem os seus quadros, demitindo esses profissionais que eram extremamente fiéis”, contextualiza Daniela. E é nesse contexto que a Geração X entra no mercado de trabalho e começa a questionar a lealdade dos trabalhadores a apenas uma corporação.

Segundo a especialista, foi um componente muito importante para o mercado de trabalho, pois a Geração X rompeu com essa lealdade e começou a procurar empresas que pagassem melhor e que oferecessem melhores possibilidades de desenvolvimento e crescimento na carreira. Esse movimento levou as corporações a buscarem melhorar seus benefícios para atrair profissionais.

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Para além do clichê: a juventude é um momento de rebeldia

“A entrada de uma nova geração sempre vai dar uma chacoalhada, porque a gente está falando de jovens que vêm com um conceito diferente de mundo”, explica a profissional. Ela complementa que os mais novos têm uma maturidade diferente de quem já está no mercado de trabalho. Para Daniela, eles precisam ainda adquirir uma certa experiência, conhecer o que é uma corporação, e tudo isso leva tempo.

“A imaturidade é um traço da juventude. Quando a gente tem 20 anos, a gente é muito mais imaturo do que quando a gente tem 30, 40 e por assim vai”, complementa Daniela. “São anos de vida que você vai acumulando experiência, leituras de cenário, adversidades, conquistas e derrotas, e tudo isso vai moldando a sua personalidade e a sua resiliência. Então, quando você é mais jovem, você tem menos”.

A Geração Z: suas particularidades

A Geração Z tem visões particulares sobre o trabalho, principalmente sobre flexibilidade, propósito, tecnologia e equilíbrio. É o que explica o mentor de carreiras Fábio Salomon. Segundo ele, a Geração Z busca por flexibilidade de horário e de local de trabalho.

Nascidos entre 1995 e 2009, essa geração foi a primeira a entrar no mercado de trabalho depois de já ter crescido com o uso contínuo de tecnologias e acesso à internet. Tudo isso moldou a forma que enxergam a praticidade e responsabilidade no emprego. “A Geração Z está desafiando as regras tradicionais do trabalho. Querem mais autonomia, propósito e equilíbrio”, complementa Fabio.

Conforme o especialista, essa geração busca, mais do que as outras, conciliar trabalho e vida pessoal. “Essa turma leva a sério o lance de ter tempo para si, para curtir passatempos, família e amigos. Trabalhar até tarde só se for muito necessário. Eles preferem empresas que respeitam esse equilíbrio e não esperam que o trabalho seja a vida inteira da pessoa”, complementa.

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O impacto da pandemia: uma entrada no mercado atípica

Para Daniela, outro fator que pode explicar o comportamento desses jovens é o período que muitos entraram no mercado de trabalho: a pandemia. “É uma geração que entra numa época do trabalho muito complicada. São profissionais que começaram a trabalhar um pouquinho antes ou durante a pandemia, e que conviveram com um novo ritmo”, explica a profissional.

Segunda ela, esses profissionais entenderam, ainda muito jovens, que a flexibilidade é algo natural, e que a liberdade para se trabalhar também. “E agora a gente está vivendo um descompasso entre aquilo que se espera e o que é oferecido. Principalmente, o que o jovem espera no mercado de trabalho, e o que foi experimentado durante a época da pandemia”.

“A geração Z carrega então esses componentes: ela é educada por uma geração de uma forma diferente como as outras gerações foram educadas, ela nasce num contexto 100% digital, e tem a entrada no mercado de trabalho num momento muito especial”, contextualiza Daniela.

Busca por melhores condições de trabalho é um posicionamento válido

Para Antonia Burke, colunista da Vida Simples e professora com formação em psicanálise e mediação de conflitos, a Geração Z não é necessariamente mais difícil de integrar no mercado de trabalho. Segundo a especialista, o que acontece é que a geração têm mais consciência sobre a importância de cuidar da saúde mental e de não permitir abusos e explorações, cenários ainda comuns nas empresas.

A professora ainda traz um levantamento importante sobre essa questão. “Acima de tudo, há um recorte social e racial importante aqui: quem é o jovem que pode escolher optar por atrasar sua entrada no mercado de trabalho, por exemplo? Que pode escolher priorizar sua saúde mental?”.

A professora relata ter alunos que trabalham o dia todo, se deslocam por longas distâncias para estudar à noite no pré-vestibular e encerram o dia exaustos. “No fim das contas, o que uma parcela dessa geração está exigindo não me parece tão fora da realidade assim. É justo desejar melhores condições de trabalho e lutar por isso, mas é preciso saber que essa opção ainda não é para todos”, argumenta.

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Sentimento de resistência é comum, mas é preciso aprender a lidar com as diferenças

E para os mais experientes, lidar com essas mudanças que chegam com a nova geração pode ser um desafio. “A gente tem medo do novo, não tem jeito”, explica Antonia Burke. “Quando um jovem questiona algo que estamos fazendo há tanto tempo, com que estamos concordando durante toda a nossa vida, isso desconforta”.

Para a professora, ainda existe uma tendência de que muitos buscam reproduzir as lições de moral que recebem ao longo da vida. “Quando a Geração Z diz ‘isso não serve para mim’, fica um ressentimento. É uma questão de entender que são pessoas diferentes, e isso é evoluir de verdade”, relata.

Para Antonia, é preciso aprender a lidar com as diferenças de forma madura para construir um ambiente saudável. “Não tem fórmula pronta e definitivamente não é fácil, mas, aos poucos, podemos adotar uma mentalidade de abertura para novas ideias, reconhecendo os benefícios da diversidade e da evolução contínua”, explica a especialista.

Ela complementa que isso não significa concordar, ceder sempre ou acatar tudo, mas sim buscar uma cultura do diálogo e deixar de lado a postura combativa entre as diferentes gerações.

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