Empreender exige vocação e força de vontade para trabalhar com propósito
Para empreender, é necessário ter ousadia, o que pode nos tornar mais resilientes. Essa pode ser uma porta aberta para contribuir com a sociedade e exercer o seu propósito
“Não podemos esquecer nunca que empreender só faz sentido, se for para contribuir”, esse é o ideal que guia a empreendedora social, Mônica Fernandes, 38 anos. Ela que sempre fez seu corre pela sobrevivência, hoje, trabalha pelo impacto e transformação na sociedade.
Aos 15 anos, ela teve seu primeiro negócio de sucesso: uma escola de reforço. Tendo crescido no Jardim Iracema, bairro da periferia da cidade de Fortaleza, era preciso fazer o próprio dinheiro, realidade muito comum entre pessoas que também estão em regiões com oportunidades mais escassas.
Formou-se enfermeira, mas por não encaixar-se no meio e também pela veia forte de empreender, foi atrás de montar seu negócio na área da saúde. Ela teve três. Destes, os dois primeiros faliram e o último foi encerrado por ela mesma quando estava começando a dar certo. “Eu já não estava realizada, ia trabalhar chorando porque aquilo não tinha a ver com o meu propósito”, declara.
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Empreender para trabalhar com autonomia e propósito
Mônica queria viver o seu propósito e trabalhar de modo que pudesse servir também a sua comunidade. A violência doméstica, a falta de autonomia econômica das mulheres e as desigualdades de gênero e de raça eram problemas que faziam parte da sua realidade e que ela gostaria de reduzir de alguma forma. Seu trabalho apenas faria sentido se conseguisse tocar nessas questões.
Depois de alguns cursos e capacitações e com um caixa zerado, ela criou a Empoderar-Te em 2021, seguindo o ideal de que empreender só fazia sentido se pudesse contribuir. A empresa auxilia e desenvolve novos negócios comandados por mulheres periféricas e já alcançou cinco mil pessoas.
Para ela, o negócio é uma forma de solucionar os problemas que ela percebia. “Quando a mulher empreende, ela vai ter chances reais de ampliar sua autonomia econômica e seu acesso a recursos, não só ao dinheiro, mas tecnológico, de saúde, imóveis”, explica.
Mônica Fernandes, ao centro, em encontro com mulheres (Foto: Arquivo Empoderar-Te)
O começo é difícil, mas traz recompensas
Camila Flor de Liz, 39 anos, trocou um emprego com carteira de trabalho assinada no ramo da hotelaria pelo empreender. E, assim como Mônica, também tem o trabalho como um espaço para provocar mudanças e impactos positivos na sociedade.
Inicialmente com Crieatividade, a empreendedora social atua com projetos de saúde, qualidade de vida e esporte. Com a primeira iniciativa já consolidada e percebendo uma demanda voltada para as mulheres, ela criou o Vem Cá Mulher, também voltado para fortalecer e estimular a independência financeira das mulheres.
Camila conta que começar no empreendedorismo não é fácil, e que os primeiros desafios podem começar em casa. “O mais difícil para mim foi não ter apoio, nem em casa. Eu só fui ter apoio na família para empreender muito tempo depois, quando pessoas falavam para meus parentes que o meu trabalho era importante.”
Além disso, a questão financeira também pesou para Camila, que começou com dívidas. Mesmo tendo planejado seu negócio antes, ela não tinha capital de giro no início. Além disso, ela não conseguiu acesso a crédito com bancos.
As dores e delícias do empreendedorismo social
Nos primeiros três anos do empreendimento, Camila ficou sem pró-labore, o que deveria ser seu lucro. Todo o dinheiro que passava pela empresa era destinado para as despesas.
Entretanto, mesmo com os desafios e a vontade de desistir em determinados momentos, ela seguiu em frente. Hoje, o trabalho que exerce traz para ela liberdade, autonomia e autoestima. E vai além, para ela é uma forma de servir as outras pessoas.
Camila, à esquerda, em encontro do Vem Cá Mulher (Foto: arquivo pessoal)
“Eu estou a serviço de algo, de alguém. Como empreendedora social, eu estou a serviço do mundo, das causas que acredito”, declara. “Eu trabalho a serviço das mulheres, do bem-estar e da saúde de crianças, adolescentes e das famílias, decente e digno. Quando eu comecei a empreender, comecei a ter a oportunidade de ajudar outras pessoas, de contratar e de encorajar outras pessoas também”, relata.
Camila conta ainda que perceber o crescimento e o desenvolvimento das mulheres com que trabalha faz tudo valer a pena. “Isso me dá um sentimento de gratidão muito grande e de honra por essa jornada. Por mais que tenha sido desafiador e ainda seja, é isso que me motiva a acordar e continuar trabalhando naquilo que eu faço.”
O que fazer para começar
Marcar o mundo de uma forma positiva tem trazido um novo norte para a criação de novos negócios. “O mercado hoje precisa de negócios preocupados com o impacto que causam. Então, se você quer fazer uma transição de carreira e quer começar um negócio, pense que problema social ou ambiental (ou ainda, socioambiental) o seu negócio pode resolver. O mercado está mudando e cada vez mais a gente precisa de negócios comprometidos com a Agenda 2030 e com ações que transformam”, aconselha Mônica.
Além do impacto, outras questões são importantes para começar a empreender. O dinheiro é uma delas. Entretanto, embora seja importante, ele não é o essencial para começar um negócio.
Para Mônica, que também é especialista em transição de carreira e em empreendedorismo social, é preciso criatividade, networking e uma rede de apoio, mais do que qualquer outra coisa.
Com esses três elementos, é possível ter as ferramentas necessárias para fazer os planos do seu negócio e tirá-lo do papel. Além de fazer uma transição de carreira mais tranquila.
O começo de sua empresa não precisa ser caótico
Mônica detalha um passo a passo para começar a empreender de maneira descomplicada.
- Estabeleça uma data para começar o empreendimento. A data serve de prazo, e isso ajuda a ter uma perspectiva de como levar os passos seguintes, além de mostrar para você até quando precisa se preparar para iniciar, de fato, a vida empreendedora.
- Defina os próximos passos dentro do prazo que você deu a si mesmo. Nessa etapa, você deve definir o que você quer ter de concreto para empreender com segurança.
- Faça o plano do seu negócio. Nessa etapa você provavelmente vai precisar de ajuda, então busque-a. Com o networking (rede de contatos, principalmente profissionais) e a rede de apoio, você pode encontrar orientações para desenhar a estrutura do seu empreendimento, além de prevenir erros que já foram cometidos.
- Comece a fase de testes do seu produto. Nessa fase você vai averiguar se seu produto é viável e interessante para o público para o qual vai oferecer. Essa fase é mais difícil e exige um certo sacrifício, porque é provável que você esteja trabalhando em outro projeto para garantir as contas, enquanto cuida do seu negócio em gestação.
- Comece a se dedicar exclusivamente ao empreendimento. Se tudo estiver correndo bem na fase anterior, você já vai ter uma renda com o seu negócio. Idealmente, quando o valor que você recebe em outros empreendimentos que não são o seu estiver igual aos ganhos de sua empresa, você pode se dedicar apenas a empreender. Com isso, sua transição vai ser mais estável.
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