Rotinas bem delimitadas de tarefas como acordar, ir ao trabalho, trabalhar, retornar para casa e dormir fizeram parte da vida de boa parte dos trabalhadores no século XX. Esse, no entanto, não é mais o cenário de muitas profissões impactadas pelas transformações digitais. O problema é que, com isso, saber separar a vida profissional da vida pessoal se tornou ainda mais difícil, especialmente em um contexto em que as demandas do chefe se misturam aos convites de amigos e famílias nas mensagens de WhatsApp.
Para evitar conflitos e melhorar nossos relacionamentos, podemos desenvolver estratégias que ajudam a criar limites. A especialista em transformação de negócios e criadora da metodologia Upside Down Thnking, Patricia Cotton, acredita que estamos perdendo nossa capacidade natural de contemplação.
“Observo que nos tornamos alérgicos ao descanso e à despretensão, e tentamos (em vão) combater essa angústia com o excesso de atividades e com a alienação trazida pelo trabalho intenso e sem fronteiras”, destaca a especialista.
Então, se a vida não vai bem, nos entupimos de trabalho e tentamos ocupar a mente com essas tarefas. No entanto, esse comportamento pode nos levar a um constante estado de alerta. “Isso significa a injeção de hormônios de estresse com muita frequência na corrente sanguínea e o corpo não resiste a isso no médio e no longo prazos”, escreve Ana Tomazelli, psicanalista e CEO da ONG Ipefem.
Quando o trabalho invade a vida pessoal
Seguimos em um ritmo em que o trabalho exerce tanta preponderância que outras áreas da vida passam a se atrofiar. Para Patricia Cotton, há uma perda da criatividade, da conexão empática e da inspiração. Chegou a hora de percebermos que a vida exige um equilíbrio. Isso porque uma vida preenchida apenas por atividades laborais pode levar à uma crise em outras áreas.
É o que destaca Ana Tomazelli ao lembrar que podemos vivenciar uma falência nos relacionamentos afetivos pelo pouco tempo que nos dedicamos a eles. “Amizades, família, contatos mais íntimos como um namoro ou um casamento, sofrem, diretamente, um impacto relevante (e, muitas vezes, negativo) e experimentam a ausência de bem-estar mental e emocional das pessoas envolvidas”, destaca a psicanalista. Isso pode gerar, caso esse comportamento persista, sintomas que levam ao Burnout.
No entanto, Ana Tomazelli enfatiza que é preciso haver um diálogo e acordos entre os funcionários e a gestão de uma empresa, por exemplo. “Não é tão simples o profissional ‘dar limites’ para a empresa, na figura de uma liderança, quando disso depende o trabalho que garante o sustento da casa“, destaca. Além disso, ela orienta que as pessoas busquem padrões que levem ao equilíbrio por meio da autorresponsabilidade, a fim de estabelecerem relações de trabalho saudáveis.
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8 estratégias para equilibrar a vida profissional
Para determinar certos limites nas relações entre a vida profissional e pessoal, é importante conhecer estratégias e técnicas que buscam encontrar o equilíbrio quando o assunto é trabalho. Também é fundamental que você compreenda o que faz sentido para você e que possa se adequar a sua realidade profissional. Afinal, uma pessoa da área de tecnologia que trabalha em casa tem uma relação bem diferente de um enfermeiro plantonista em um hospital, por exemplo.
Por isso, separamos algumas dicas e orientações que podem ser passos iniciais para alavancar a sua busca por uma vida mais equilibrada:
- Crie blocos de pausa (sobretudo do celular e das redes) durante horários comerciais, e também em momentos oficiais de descanso;
- Faça programas criativos e regenerativos, como rituais, jogos, meditação e saraus com amigos e família, sem que o assunto trabalho esteja presente;
- Pare de se objetificar profissional e pessoalmente nas redes. Não somos produtos – mesmo que tenha se tornado natural alimentar essa fantasia;
- Evite usar a alienação trazida pelo excesso de ação como “band-aids da alma”;
- Experimente a solitude, o silêncio e a desconexão virtual;
- Se comunique com afeto, assertividade e mais foco no conteúdo/intenção do que na velocidade e prontidão. As mensagens são instantâneas, mas nós não precisamos ser;
- Estabeleça rotinas: “a rotina nos liberta para viver, de fato, aquilo que pode nos trazer prazer e felicidade, com a tranquilidade de que a vida está organizada e fluindo”, orienta Ana Tomazelli;
- Determine os acordos profissionais de contato e acionamento, como, por exemplo, o que configura uma emergência para precisar responder uma mensagem ou um telefone às nove da noite.
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Como líderes podem contribuir para um ambiente de trabalho saudável
Para Ana Tomazelli, psicanalista e CEO da ONG Ipefem, há alguns caminhos importantes para a construção de ambientes de trabalho saudáveis. Ela destaca três possibilidades para que líderes e demais funcionários de uma empresa estejam em sintonia:
- Em primeiro lugar e acima de tudo, é preciso transformar os acordos de comunicação que estabelecem horários e canais em políticas rigorosas, respeitadas por todos – principalmente pela liderança;
- Organizar o home office ou o trabalho híbrido de forma a compreender que esse profissional não está mais horas disponível porque economizou tempo com o trânsito, por exemplo;
- Não é preciso separar a vida pessoal da vida profissional. Pode parecer difícil de acreditar, mas podemos construir uma coexistência saudável e possível de acolher as ocorrências da vida como um todo. “Sou otimista: chegaremos lá”, finaliza Ana Tomazelli.
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