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Por uma casa menor
Eduard Militaru | Unsplash
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Tomar a decisão de simplificar a vida é uma tarefa trabalhosa.

Simpatizante que sou deste movimento, tenho observado que para alguns, significa mudar para uma cidade menor, e para outros, morar mais perto da natureza.

Confesso que para mim começou quando decidi redimensionar o tamanho da minha casa repensando não somente a utilidade de cada móvel e de cada objeto que ali se encontravam, mas também qual o impacto que esta decisão poderia gerar ao meu redor, e no mundo.

Parece fácil levar uma vida descomplicada, mas para falar a verdade não é fácil e nem simples. Conquistar este estilo de vida não acontece da noite para o dia e pode consumir um tempo fantástico de planejamento e revisão de valores, além de uma permanente e incansável batalha contra os “supérfluos” materiais e emocionais.

Recentemente completei mais uma etapa desta decisão, e junto com meus filhos, resolvemos nos mudar para uma casa menor. Foram alguns anos de preparação para realizarmos este movimento, pois eu realmente queria ter a coragem de entender como poderia seguir por este caminho que eu mesma, em meus projetos,  proporciono e inspiro as pessoas a realizarem.

Me apaixonei pelo movimento social Tiny House, que defende uma vida menos acelerada com maior qualidade de vida em moradias de tamanho reduzido, pela liberdade que trazem as casas sobre rodas, pela economia justa e circular, e por pessoas que buscaram uma forma alternativa de viver com mais simplicidade, e com mais tempo “de ser o outro que se é”, como descreveu Clarice Lispector.

Queria diminuir meu espaço, porém, sem sacrificar as coisas que me dão prazer. Viver em um ambiente reduzido é uma poderosa ferramenta que nos ajuda a nos tornarmos mais conscientes daquilo que possuímos, dos objetos que não tem uso e do quanto as coisas ocupam espaço nos armários e consequentemente na vida.

Descobri que não há regras e nem uma receita a ser seguida, e foi o novo espaço que me deu um norte do que era importante levar. Aprendi a não sabotar a mim mesma e só trazer nas minhas caixas e no meu coração o que me servia e o que me fazia feliz.

Porém, não se trata só de se mudar espacialmente, e sim de mudar para ressignificar com o objetivo de criar um novo espaço e um novo modo de vida que nos ajude a tomar posse de nós mesmos. A casa se faz enquanto nós também nos fazemos.

Neste longo processo pude observar o quanto uma casa também gera resíduos, e por isso defendo que precisamos ter consciência do mundo em que estamos vivendo neste momento, e o movimento de ser sustentável é uma resposta a essa consciência.

Como arquiteta, repensar os móveis e objetos quando estou criando um projeto e criar estes projetos já pensando em readapta-los futuramente sem gerar descarte tornou-se um desafio! Construir o espaço de morar não é mais sobre tendências, mas sim sobre pessoas e como elas querem se sentir em casa.

Dirigir o olhar para nós mesmos, para nossa identidade e para nossos valores, ajuda a não acumular tantas coisas desnecessárias e colabora principalmente para descobrirmos novas habilidades que julgávamos soterradas dentro de nós, a fim de encontrarmos possibilidades mais sustentáveis para construir novos caminhos para as gerações do futuro.

Repense, reduza e amplie seus horizontes.


Clô Azevedo
é arquiteta e acredita que a casa é uma extensão das vidas que a habitam. Desenvolve projetos de design de interiores afetivos para conectar pessoas com suas histórias, inspirando a reinventar seu próprio espaço, morar bem e viver melhor. Seu site é designafetivo.com.

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