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Conforto em toques sutis
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Após dez anos morando sozinha, decidi voltar para a casa dos meus pais. Mas essa decisão me parecia um retrocesso e vinha me perturbando. Quando cheguei ao consultório do psicólogo e terapeuta corporal Janos Andreas Geocze, em São Paulo (SP), para entender como funciona a calatonia, ele me disse que precisava alinhar a minha coluna antes de começarmos. “Você está projetada para a frente, como se estivesse carregando o mundo nas costas”. Era fato. A calatonia consiste em uma sequência de toques suaves nas extremidades do corpo, de preferência nos pés. Deitada em uma maca, minha única tarefa foi manter os olhos fechados e os braços paralelos ao corpo. Enquanto isso, Geocze começou a tocar sutilmente os dedos dos meus pés. “O toque tem de ser muito leve, como se eu estivesse segurando uma bolha de sabão”, exemplifica. Ainda assim, minha sensação era de que meus dedos estavam sendo puxados, enquanto uma tontura muito forte me impedia de manter os olhos fechados continuamente. O mal-estar diminuiu quando o toque partiu para a sola dos meus pés, calcanhares e tornozelos, e isso me deixou um pouco mais relaxada. A sessão dura 27 minutos. Mas, em pessoas ansiosas (como eu!), a primeira vez tem só nove minutos. Ainda assim, me pareceu ter durado uma eternidade. Fiz uma segunda sessão (de 18 minutos) na semana seguinte. Desta vez, senti o lado esquerdo do corpo formigar. Consegui relaxar muito mais e um sono incontrolável me dominou ao término das duas sessões. Os problemas deixaram de ocupar tanto espaço em minha mente e, nas duas oportunidades, mesmo sendo insone, consegui dormir como um bebê. O psicólogo diz que as reações durante e pós-sessão são bastante pessoais. “Os estímulos táteis são feitos de maneira simples e suave. A proposta é deixar o paciente ir percebendo-se, por isso não existe estímulos externos como música”, afirma. Essas percepções são usadas como complemento da psicoterapia, além de aliviar estresse, ansiedade, insônia e melhorar as articulações. Senti que comecei a refletir até que ponto minhas emoções não estavam anestesiadas também. Ainda que pareça clichê, a calatonia me ajudou a ficar leve para enfrentar o mundo que, nem sempre, é cor-de-rosa, mas pode ter um colorido especial dentro de nós.

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