Ari Borger: mudando vidas através da música.
O maior nome brasileiro do piano Blues — e com mais de 20 anos de carreira — Ari Borger fala sobre carreira e futuro.
O maior nome brasileiro do piano Blues — e com mais de 20 anos de carreira — Ari Borger fala sobre sua trajetória e o poder transformador da música.
Em atividade desde 1985, Ari Borger é considerado o melhor pianista de blues do Brasil. Mestre em piano blues, o músico morou vários anos em New Orleans, onde gravou seu CD de estreia “Blues da Garantia”(2000). Em sua carreira, abriu shows com lendas do blues como B.B. King e tocou com músicos como Johnnie Johnson e Pinetop Perkins, pianistas de Chuck Berry.
Atualmente, além da carreira como músico, ele dirige a Agência Music — uma produtora que oferece experiências musicais para o mundo corporativo. Ari Borger foi a nossa capa viva de Janeiro e conversou com a jornalista Gisela Garcia sobre sua carreira e o futuro da música ao vivo em tempos de pandemia.
Como o Blues entrou na sua vida?
Meu pai ouvia muita música em casa. Comecei a estudar piano erudito aos nove anos. Geralmente são os pais que querem que os filhos estudem piano, mas comigo foi o contrário, eu quis. Na verdade, nunca me interessei por nada na escola, eu sempre quis ser músico.
Mas vida de músico não é fácil. Foi assim que surgiu o Ari Borger empresário?
O Ari empresário surgiu por causa do Ari músico. Uma coisa levou a outra. Eu tinha 26 anos e estava cansado de ter que me sujeitar a tocar na noite para pagar as contas. Então, comecei a ser procurado para tocar em eventos corporativos, para fazer curadoria musical em hotéis, coisas assim. Percebi que era um mercado pouco explorado.
Então, a Agência Music surgiu da sua percepção de que existia um mercado inexplorado?
Sim, quando vi que tinha pessoas que admiravam minha carreira e me procuravam para uma curadoria, eu entendi que deveria profissionalizar isso e colocar uma série de músicos talentosos que conheço nesse mercado. E assim nasceu a Music.
Você morou muitos anos fora do Brasil. Acha que essa dificuldade de “viver de música” é só aqui?
Não. Isso acontece no mundo todo, em todo lugar. É uma ilusão achar que só acontece no Brasil. A diferença é que na Europa e nos Estados Unidos tem um número maior de festivais. Por isso um músico consegue se dedicar a uma carreira artística com maior dignidade.
Além de eventos corporativos, o que mais a Agência Music oferece?
Eu faço curadoria de músicas para alguns hotéis e hospitais. No hospital Albert Einstein tenho um projeto que atua em duas vertentes: em uma, os músicos se apresentam no átrio do hospital e, na outra, uma musicista acompanhada com uma enfermeira passa nos quartos perguntando se os pacientes querem ouvir alguma música e ela canta e toca no violão a música pedida.
Deve ser bem emocionante…
É muito legal porque é um momento de cura, de alívio para quem está internado. As pessoas se emocionam. É incrível.
Então, o seu trabalho não se restringe ao ambiente corporativo?
Não. Procuro levar música para outros universos. Existe uma serie de ações que são possíveis para sair de dentro da caixinha. É um trabalho lúdico, muitas vezes.
E existe algum estilo musical específico?
Não.Trabalhamos com qualquer estilo. O nosso slogan é “a música certa na hora certa”.
A pandemia acertou em cheio o mercado do entretenimento. Conseguiu fazer alguma ação nesse período?
Com a pandemia deu uma parada porque é um trabalho ligado ao público, né? Mas fiz algumas coisas legais, sim. Uma delas foi com um dentista carioca que me contratou para uma live beneficente junto com a cantora americana Tia Caroll.
E como você acha que vai ser daqui para frente?
Eu espero que, com todos vacinados, as coisas voltem a ser o que eram antes. Mas acredito que isso aconteça só no ano que vem. E ainda assim, acredito que terá que se pensar um novo jeito de fazer música ao vivo. As pessoas falam que tem que valorizar a cultura, a música, mas nem todo mundo valoriza.
E como você enxerga esse cenário?
Penso que uma solução para o futuro — em um cenário melhor do que o de hoje — as casas onde cabem 100 pessoas e que costumavam cobrar 20 reais de couvert, deveriam cobrar 40 reais e abrir apenas para 50 pessoas. Mas para o dono do estabelecimento existe queda no consumo. É complicado. Não acredito que vamos mais voltar ao que tínhamos antes. A música é um mercado em franco declínio.
Você acredita que a música ao vivo é mesmo um mercado em declínio?
Sim, vários sites internacionais já vêm falando disso.
E eles apontam alguma solução?
Não apontam solução porque não tem solução. As mídias digitais pagam muito pouco. Antes o músico ganhava com a venda de discos — com o digital isso acabou — e com show ao vivo, que não tem mais por causa da pandemia. Muitos músicos estão dando aula. Quem tem estúdio está produzindo. O músico que já tem uma mídia consegue se virar. Mas a grande maioria não está conseguindo.
É um cenário muito triste pensar que a música ao vivo está comprometida, não acha?
Acho. Espero que a vacina dê conta, para voltarem as apresentações nos teatros, nas casas de show, nos bares. Mas é mesmo muito complicado e triste pensar que a música ao vivo está comprometida. Acho que uma saída é esse trabalho de curadoria.
Além de curadoria, que tipo de projetos você oferece às empresas?
Vejo as empresas sempre recorrendo aos mesmos mecanismos para aliviar o estresse e melhorar a qualidade de vida de seus colaboradores: ioga, ginástica laboral, meditação, espaço para relaxamento. Então, por que não levar a música? Por que não oferecer uma aula de violão para os funcionários? Isso é tão óbvio, mas por que ninguém faz?
E por que será?
Ainda sinto o RH das empresas muito fechado. É complicado, as pessoas têm resistência a mudar e quebrar esses paradigmas. É difícil conseguir marcar a reunião. E quando consigo, geralmente há uma resistência enorme.
Será que é alguma barreira financeira?
Acredito que não é uma questão financeira. Toda empresa tem uma verba destinada ao bem-estar. A dificuldade é na quebra do paradigma, mesmo. Quero muito implantar a música em mais empresas, expandir. É muito interessante para empresa, para os funcionários e para os músicos.
E será que depois da pandemia, a cultura vai ser mais valorizada?
Acho que as pessoas vão valorizar mais, depois desse momento em que a arte salvou as pessoas. Acredito que a mentalidade das pessoas mudou com a pandemia. E quem sabe, quando as coisas voltarem ao normal, os gestores tenham uma outra visão em relação à música no dia a dia das empresas.
Dá para dizer que a agência Music vem para mudar a vida das pessoas através da música?
Sim, com certeza. A proposta é trazer suavidade ao dia a dia, ter uma rotina mais tranquila usando a música como veículo, como cura. Que é o que todo mundo precisa neste momento.
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