Minimalizando
Lembro com clareza de minha feliz infância na década de 80, com brinquedos artesanais, esportes ao ar livre, amigos por perto e poucas preocupações reais.
Lembro com clareza de minha feliz infância na década de 80, com brinquedos artesanais, esportes ao ar livre, amigos por perto e poucas preocupações reais. Tudo isso tinha um gosto memorável de liberdade!
Os tempos mudaram. Não estou apenas falando dos intermináveis dias atuais de pandemia, mas do atropelo das gerações que se seguiram. Cada qual com suas crenças, seus modismos e, em comum, o crescente consumismo.
Se diz por aí que o melhor tempo é aquele em que vivemos.. Felizmente, posso concordar; minha infância e adolescência não poderiam ter sido melhores. Guardo das minhas recordações as fotografias dos momentos inesquecíveis e também dos ordinariamente cotidianos, os múltiplos aromas e sabores dos dias bem vividos.
Em especial, me lembro de uma sandália Melissinha que eu adorava usar, um carro bacana que ganhei nos idos de 90, e de um vídeo game Nintendo que me acompanhou em alguma temporada de verão.
Estas “coisas” estão vivas na minha lembrança não exatamente por seu valor monetário – até porque nem sei o que fiz com elas – mas porque estavam tangíveis nos momentos felizes ou tristes de minha jornada. Não atribui a elas valor excessivo, pois sei que as memórias estão dentro de mim e não naqueles objetos sem vida.
Anos se passaram e chegamos aos dias de hoje. Dias em que a era digital conectou o mundo todo, mas distorceu valores de gerações que se tornaram, sem querer generalizar, individualistas e ansiosas. O consumismo e o estigma da busca da perfeição idealizada bateram à nossa porta.
Com a pandemia, ficou ainda mais evidente a escassez de recursos (naturais, humanos e financeiros) e escancarada a desigualdade social, trazendo a necessidade de resgatar no íntimo o que realmente importa, o que é essencial (e, como diria sabiamente O Pequeno Príncipe, muitas vezes “o essencial é invisível aos olhos”).
Para mim, essa é a busca de uma: Vida Simples. Estamos nesta vida para ser (e não ter), transformar, conviver e evoluir, na busca de nosso propósito como indivíduos, como sociedade.
Por isso, o menos é mais. O simples e prático é o caminho. Os sentimentos importam, as pessoas importam.
Neste era da incerteza, o minimalismo – uso racional e intencional dos recursos escolhidos – reverbera em alto e bom tom no mundo. É tempo de refletir. Este movimento vem conquistando adeptos dispostos a praticar o desapego de coisas materiais em busca de resgatar a essência do indivíduo, para contribuir para uma sociedade mais humana e sustentável.
Essa é uma escolha de cada um de nós. Não é difícil identificar algumas pessoas maravilhosas que eu conheço e que se rotulam como “minimalistas” por sua escolha de vida com simplicidade, de forma autêntica, alheios ao consumismo desenfreado e irresponsável da atualidade. Contudo, não vejo a necessidade de rótulos; ao contrário, vejo que os rótulos criam sociedades polarizadas e segregam ainda mais as pessoas.
Assim, dou um voto de igualdade aos que não se rotulam, e aí também me filio, mas estão com este mesmo propósito de viver uma vida mais simples, mais plena e mais FELIZ!
RENATA BAGLIOLI (@outrolhar_sobreascoisas)