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O dia da mudança
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Trocar de casa, adequar a vida. Tudo isso dá trabalho e, nessas horas, contar com a ajuda do outro pode ser fundamental

Mudei de casa. E fui para uma melhor. Aliás, saí de um apartamento para morar em uma casa com quintal, árvores e passarinhos. Faz parte de um projeto de vida que inclui poder pisar na grama quando quiser e ver as estrelas à noite. A experiência está sendo sensacional até agora, o que me leva a pensar que foi uma decisão acertada.

Estamos todos felizes, as pessoas, as cachorras e o gato, que está podendo agora liberar seus instintos mais primitivos. Não foi uma decisão fácil, afinal morávamos em um bom apartamento em um ótimo bairro, perto de tudo, e agora dependemos do carro para ir à padaria (ok, dá para ir de bicicleta também…). Mas a vida é assim, ganha-se e perde-se a cada decisão.

Mas, na verdade, não quero falar aqui sobre escolhas, e sim sobre a mudança em si, que vem depois da escolha. Mudar de casa é apenas um dos tipos de mudança que fazemos na vida; afinal, mudamos de cidade, de emprego, de profissão, de estado civil. Mudamos de estilo, de opinião, de ideia. A mudança faz parte da nossa vida.

E é ótimo que seja assim, pois ela nos dá aquela sensação agradável de movimento, de evolução, de que não estamos parados, afinal, e que estamos fazendo, produzindo, conquistando. Algumas pessoas têm mais necessidade de mudar do que outras. Eu tenho essa necessidade, e talvez seja algo da personalidade, do signo de aquário, do fato de conviver com muita gente agitada, sei lá.

Gosto de mudar, a ponto de trocar a posição dos móveis da sala, que estavam perfeitos como estavam, só para sentir o gostinho de como ficariam em outra posição. E agora mudei de cidade, de casa e de escritório ao mesmo tempo.

Queremos mudar, mas não gostamos. Só que
precisamos. Quando o dia chega, o melhor
é relaxar. E olhar para trás com gratidão

No entanto, tenho uma confissão a revelar, e na verdade, ao fazer isso, sinto que estou confessando para mim mesmo. O que acontece é que, mesmo sabendo que a mudança era necessária e seria para melhor, eu resisti até o limite para tomar a decisão e mudar de fato. Logo eu, o sujeito que tem rodas nos pés e coceira no traseiro… Pois é, acontece que sou humano, e o humano é assim mesmo. Lida com a mudança de forma ambígua. Uma parte do cérebro propõe, outra pondera e uma terceira resiste e até se revolta. O que propõe é o cérebro racional; o que pondera, mesmo com algum sofrimento e medo, é o emocional; e o que resiste é o cérebro primitivo, reptiliano, aquele que quer apenas sobreviver.

Esse instinto de preservação energética tem outro nome: preguiça. Sim, temos preguiça de mudar, especialmente de casa. Dá muito trabalho. Selecionar o que vai, o que fica, o que será encaminhado para doação. “Ai, que preguiça”, diria o Macunaíma. Mas a preguiça precisa ser superada. Caso contrário faremos muito pouco na vida, e nunca mudaremos. Para isso temos outros habitantes em nossa alma: a determinação, a força de vontade, a garra. E também temos, felizmente, a ajuda de outros.

Um hábito americano é alugar um caminhão, chamar os amigos, colocar todos para trabalhar e depois pagar um hambúrguer e umas cervejas. Mas depois tem que arrumar tudo… Para quem vive se deslocando entre reuniões, viagens e palestras, dedicar um tempo para cuidar disso é uma missão quase impossível, algo para o Ethan Hunt que consiga manter o bom humor no meio de centenas de caixas. E, por sorte, esse personagem da série Missão Impossível existe, e está pronto para te ajudar.

Numa época em que se fala que muitas profissões serão extintas por força da tecnologia, eis que surgem novos ofícios, necessários e úteis. Um deles é o especialista em organização doméstica, o personal organizer. Esse é o tipo de profissional que jamais será substituído por um computador ou robô, porque ele lida com pormenores, toma decisões racionais, coloca tudo no lugar de uma forma lógica e faz isso com sensibilidade e afeto.

Então, a organização da mudança ficou a cargo da Andressa, que selecionou a empresa, comunicou o condomínio, marcou o dia, acompanhou a embalagem, coordenou a equipe, cobrou capricho, cuidou de cada detalhe. O tempo todo alegre, de olho em tudo, preocupou–se até em evitar o estresse do gatinho. E, na outra ponta, estava a Carol, com suas parceiras Paula e Laura. Quando tentamos ajudar na tarefa, fomos gentilmente convidados a descansar. Não apenas porque não queriam que trabalhássemos, mas também para evitar que atrapalhássemos. Elas colocaram tudo no lugar de uma forma que nós não conseguiríamos, obedecendo à lógica do cotidiano, com praticidade, leveza, estética. Cestas brancas identificadas, gavetas com divisórias. Talheres divididos por grau de utilização. Até os livros, separados por assunto e autor. Incrível!

Queremos mudar, mas não gostamos. Só que precisamos. E, quando o dia chega, o melhor é relaxar, manter o bom humor, olhar para trás com gratidão, para a frente com alegria. E, se possível, pedir ajuda. Há incríveis talentos à nossa disposição.


EUGENIO MUSSAK escreveu sobre este assunto em Caminhos da Mudança e A Vida é Cheia de Curvas. Diz que mudou, mas continua o mesmo. @eugeniomussak

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