Pare de esperar! É tempo de esperançar
Imagine o ambiente: sala limpa, sofá, cadeiras, silêncio. Você entra, escolhe a poltrona, seleciona com um interesse descuidado a revista que vai folhear. Senta e espera
Imagine o ambiente: sala limpa, sofá, cadeiras, silêncio. Você entra, escolhe a poltrona, seleciona com um interesse descuidado a revista que vai folhear. Senta e espera. Não há muito o que fazer. Você está em um consultório médico.
Dentro de poucos instantes (às vezes, nem tão poucos assim), você será atendida por um especialista que resolverá os seus problemas – a pele, o sono, a digestão, a dose de energia diária, escolha a alternativa que preferir.
Com sorte, sairá de lá com uma receita pronta com tudo o que precisa fazer para mudar de vida. Ah como são maravilhosas essas consultas! Pois na vida também acontece – a espera, não a cura milagrosa.
A gente entra na sala do próprio consultório e senta na poltrona que abriga os sonhos, à espera de si mesma. Se distrai com algumas notícias desimportantes, folheia revistas antigas, dá aquela olhadinha no filme repetido que passa na TV.
Você espera, mas não há especialista para te receitar milagre. As horas passam, e a chamada pelo seu nome não aparece. Não adianta olhar para os lados. Não há atendente nem médico no consultório, a não ser você.
Ainda assim, quantos permanecem na sala de espera? Quantos anseiam pela hora de ser atendidos? Quantas vezes idealizamos a consulta que salvará as nossas vidas? Esperamos. Mas pouco fazemos.
O verbo esperar, sabemos, não resolve tudo. Mas é ele que me traz à mente um parente seu: esperançar. Ambos têm raízes no latim – spe, sperare. Significa ter esperança, confiança em algo positivo. Podem vir do mesmo lugar, mas são diferentes.
Você espera que as coisas mudem, mas acaba fazendo da crítica uma bengala. Esperançar não é só esperar por tempo bom, enquanto aponta o dedo para o que necessita melhora. Demanda uma atitude nossa. Alguma perseverança de prosseguir no caminho, mesmo quando a trilha se estreita e as rochas dificultam a subida.
Além de seguir, é sobre tornar mais leve a caminhada. Espalhar delicadeza como quem sopra as pequeninas pétalas de um dente de leão. O mundo anda carente disso. Quantos discursos amarrotados permanecem esquecidos nos varais por aí? Velhas roupas retorcidas que já não nos servem mais.
Esperançar é feito fazer poesia. Não a poesia de quem perde a fé na vida e junta palavras para reforçar seus desalentos. Mas aquela que transcende e transforma. Aquela que labuta, martela a palavra, extrai seu sentido mais profundo e a veste com o linho da beleza e do afeto.
Me desculpem os desacreditados, mas esperançar é necessário. Cada nascer do sol muda o cenário, reacende o céu. É sempre promessa de novo tempo. Depende de você tanto quanto de mim. Como já bem defendeu a escritora Adélia Prado: “A vida rui? A vida rola mas não cai. A vida é boa”.