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Para educar um filho que não nos tema
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É somente com amor e com respeito por nossas crianças, pela nossa história, pela nossa criança interior que carrega nossas dores e medos, que conseguiremos sair mais fortes desse terremoto

Nunca fui uma pessoa adepta do punitivismo. Antes de ser mãe, dizia que em filha ou filho meu eu não daria palmada e não sairia berrando com a criança como via algumas mães e pais fazendo. Eu tinha aquele tipo de certeza sobre ser mãe que só pessoas sem filhos carregam.

Quando Lorena fez dois anos, me peguei agindo com ela de maneiras que eu mesma desacreditava. Somos parte de uma cultura extremamente punitivista, que nos informa a todo momento que as pessoas que erram precisam primeiro pagar pelo erro, para depois, TALVEZ, tirar algum aprendizado dele. A culpa e principalmente o medo atuando como os grandes paradigmas do processo todo, porque se espera que o medo da punição faça o comportamento das pessoas sumir, milagrosamente, sem que se entenda o motivo dele. E assim fazemos com nossos filhos, porque famílias não estão à parte dessa cultura autoritária, elas inclusive a retroalimentam a todo momento.

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Esse medo – que está na base das nossas escolhas inconscientes sobre como educar nossas crianças – nos chacoalha forte como num terremoto, quando a criança começa a mostrar sinais de que é um ser humano com vontade própria. O que vai ser dele, o que vai ser de mim se ele for ele e não for quem eu espero que ele seja? Pra onde então eu direciono todas as expectativas que eu tenho, toda idealização, o que eu faço com esse quebra cabeça que eu montei peça a peça na minha fantasia? Por que ele pode poder ser ele se eu não pude ser eu? Quem sou eu, então, diante dessa criança? Terremoto.

A saída do terremoto

E para que as nossas placas tectônicas interiores se apaziguem, apelamos pra conhecida repressão. Tentamos de todo jeito encaixar a criança na caixinha que criamos pra ela, em vez de rasgar a caixa e montar uma outra, maior, mais flexível, uma que montaremos juntos, por que não?

A descoberta de que nossos filhos não precisam nos temer para conseguirem aprender algo conosco é arrebatadora. A ideia de uma educação sem medo nos deixa sem chão, porque o medo foi a nossa base, nosso normal. Aprendemos a entender o medo dos pais como sinal de respeito por eles. Mas a verdadeira autoridade é pautada por conexão, não coerção. Confundimos autoritarismo com autoridade. Medo com respeito. Comandos com influência. Microviolências com amor.

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É somente com amor e com respeito genuíno por nossas crianças, pela nossa história de vida, pela nossa criança interior que carrega nossas dores e nossos medos, que conseguiremos sair mais fortes desse terremoto. A conexão emocional se torna o grande aliado contra nossas próprias inseguranças. Junto com a criança, abriremos espaço para que a nossa própria criança interna floresça. E assim, a luz consegue achar um caminho pra entrar através das fissuras abertas em nós.

Thais Basile é mãe da Lorena, palestrante e consultora em inteligência emocional e educação parental, eterna estudante. Apaixonada por relações humanas e por tudo que a infância tem a ensinar. Compartilha um saber para uma educação mais respeitosa no @educacaoparaapaz. Escreve nesta coluna mensalmente.

*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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