A grandeza dos invisíveis
E pensar que não fosse pelo meu filho, eu provavelmente não pararia para ver a grandeza da coleta de lixo
A partir da ternura e alegria de uma criança, um nova troca de afeto foi possível
Às segundas, quartas e sextas, pouco antes do meio dia, eu e meu filho de quase dois anos temos um encontro marcado. Durante o isolamento em casa adquirimos um novo hábito. Agora, sempre que o caminhão de lixo passa, paramos o que estamos fazendo e corremos para a sacada para dar um “oi” para os lixeiros.
O ritual é sempre o mesmo. Lá de baixo, nos poucos minutos em que param para recolher os latões, eles dançam, chamam meu filho de amigão e acenam para ele. Então, aqui do alto, o amigão abre um sorriso do tamanho do mundo, enquanto acena de volta. É uma farra! O mais animado deles sempre está com algum chapéu colorido ou uma peruca engraçada, impossível não sorrir.
A grandeza da ternura
Nossos amigos passam e durante alguns instantes nos divertimos com eles, parecendo que está tudo normal lá fora. Mas não está. Meu filho ainda não entende a dimensão de tudo isso, mas consegue sentir aquela troca de afeto.
Logo que o caminhão segue sua rota, me pego pensando no tanto que esses profissionais estão expostos e como o trabalho deles é duro e relevante. Então, fico imaginando o quanto deve ser pesado para suas famílias vê-los na linha de frente, quando é difícil até mesmo estar na retaguarda.
Firmes, eles continuam ali, dançando, sorrindo, se equilibrando na caçamba do caminhão e na vida, enquanto seguem levando nossa sujeira embora. E pensar que não fosse pelo meu filho, eu provavelmente não pararia para ver a grandeza da coleta de lixo.