Chão para preservar
Projeto Chão Piauí busca, por meio da valorização do povo, promover turismo cultural sustentável e humano
Projeto Chão Piauí busca, por meio da valorização do povo, promover turismo cultural sustentável e humano
Ao longo de um dia, inflamos os pulmões com, em média, 17 mil litros de ar. Respirar é o que nos mantém vivos. Mas, apesar da importância, se tornou banal. Qual foi a última vez que você respirou calmamente, sentindo a inspiração e a expiração?
A busca pelas pausas e pelo respirar consciente é o que levou Martha e seu marido, em 2012, após pesquisarem lugarejos intocáveis e que eles poderiam desenvolver um trabalho diferente, a deixar sua casa e trabalhos em um grande centro e mudar para Barrinha, um povoado com 600 habitantes, em Cajueiro da Praia, no Piauí.
Então, nascia o projeto Chão Piauí, que hoje já conta com a força de mais dois casais para acontecer. Para pertencer à comunidade de Barrinha, idealizaram uma iniciativa que utiliza o turismo como meio para desenvolver o povoado – e, de outras maneiras, os visitantes.
A história inicial é parecida com as que permeiam a realidade de outros vilarejos litorâneos brasileiros, em especial os da região Norte e Nordeste. Mas, ao contrário do que comumente vemos (a instauração de um turismo predatório, que afasta e marginaliza a população nativa), o Chão Piauí tem outros pilares, sustentados pela valorização daquilo que há de mais precioso: o povo.
A retomada ao passado, por meio da valorização das práticas locais, como plantio, pesca e artesanato, passadas de pais para filhos, é utilizada como meio para viver o presente e, assim construir um futuro consciente, tanto para o local em si quanto para quem o tem como lar, move a iniciativa.
Muitos chãos no Chão Piauí
O Chão de Piauí se desenvolveu a partir do sistema de hospedaria e vivências locais. As decisões tomadas a partir daí são frutos da opinião coletiva, decidida em associação que envolve a comunidade. Da valorização da mão de obra local ao materiais disponíveis, a sustentabilidade permeia as ações.
Não tem badalação. Turista bom em Barrinha é turista que se propõe a ingressar na realidade local – pescar com o Babau ou acompanhar o seu Carlos na criação artesanal de ostras, por exemplo.
É preciso se despir do vícios urbanos para imergir no tempo próprio da região. O relógio é outro. O ritmo da natureza dita como serão as atividades diárias. E é assim, respeitando o espaço, o plantio, o mar, o Sol e as fases da Lua, que o povoado segue.
A lógica empregada ao turismo individual vale também para empresas que queiram se conectar a identidade cultural do projeto. Parte do dinheiro é investido na comunidade e no desenvolvimento social.
“É preciso ressignificar a forma como lidamos com nosso país e mostrar que é possível ter um turismo sustentável, empreendedorismo consciente, descentralizar o poder – socialmente e economicamente”, conta Camilla Marinho, uma das idealizadoras do Chão Piauí
A rainha dos pratos brasileiros
Responsável por alimentar milhões de brasileiros, independentemente da classe social, a farinha de mandioca é estrela na região. Tanto é que, um período específico do ano, que começa em junho, é dedicado principalmente a sua produção.
Quatro famílias locais se dedicam à produção artesanal: Santos, Oliveira, Ribeiro, Alves. Do plantio ao momento final no fogo, gerações se unem para o processo, chamado de farinhada. Prosas, risos e afeto são os ingredientes que incrementam o preparo do alimento.
No ano passado, um projeto encabeçado pelo Chão Piauí ajudou a valorizar o produto. Os quilos do farelo ganharam nova roupagem, ações de comunicação e a distribuição da farinha local para outros locais com o intuito de ampliar o conhecimento da farinha. Com isso, os produtores obtiveram aumento em suas rendas. É mais uma prova de que, com respeito ao ancestral, ao outro e a terra, pode-se muito.
Para saber mais: @chaopiaui e @farinhada_ no Instagram.
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