Família ou amigos no feriado? Como fazer essa escolha sem culpa
Entre memórias afetivas e novas experiências, decidir com quem passar os dias de folga pode ser desafiador. Mas é possível escolher com maturidade emocional e leveza
Seus pais te convidaram para passar o feriado no interior, estão super animados e planejando um churrasco. Parece legal, mas os seus amigos também te convidaram para ir à praia na mesma data. E agora, o que escolher?
A decisão não é nada fácil. Os feriados, principalmente os religiosos, despertam lembranças de tradições muito ligadas à família, memórias de infância, de cuidado e de afeto – ou até mesmo memórias não tão alegres assim. Por isso, pode ser complicado emocionalmente decidir passar essas datas com amigos e, no fim das contas, se sentir culpado.
Família x amigos
“Viajar com a família é, muitas vezes, revisitar a nossa história emocional. A convivência familiar carrega marcas profundas – algumas amorosas, outras desafiadoras –, e estar juntos em outro contexto pode fortalecer vínculos, resgatar memórias afetivas e permitir novas narrativas entre pais, filhos e irmãos”, diz a neuropsicóloga Leninha Wagner.
Fora de casa, do ambiente habitual, é possível ver a própria família com mais clareza. Como eles se comportam quando estão relaxados, sem grandes deveres, como se divertem e como olham para si mesmos e os demais familiares. Mas também é mais simples de se adaptar à forma como eles se organizam, se arrumam, se atrasam; a rotina é melhor conhecida.
Por outro lado, viajar com amigos proporciona um tipo de experiência de vínculos, afinal são pessoas que foram escolhidas ao longo da vida e que te permitem vivenciar outras versões de quem você é. “São relações onde podemos baixar defesas, nos permitir rir mais, descansar de obrigações e expressar espontaneidade. É um tipo de viagem que pode aliviar pesos emocionais, renovar o olhar sobre a vida e ampliar a escuta sobre si”, diz Leninha.
Ao mesmo tempo, pode trazer desafios relacionados a um lado desses amigos que você nunca vivenciou antes, uma vez que cada um tem o próprio jeito de fazer as coisas, navegar pelo mundo e resolver desafios que possam aparecer.
O importante é que cada um desses grupos nutre aspectos distintos da nossa subjetividade.
A hora da escolha
Tá, mas como conciliar e não se sentir culpado pela decisão? Se sentir culpado não significa que você cometeu um erro, ela apenas aponta um conflito interno entre seguir sua vontade e desapontar alguém.
A forma mais cuidadosa de lidar com isso é se perguntar o que a culpa pode revelar e se há uma injustiça contra seu desejo. “Muitas vezes, a culpa é apenas o eco de um afeto que ainda precisa de autorização para se expressar com liberdade. No processo terapêutico, aprendemos a acolher a culpa sem nos aprisionarmos nela. E a entender que cuidar de si também é uma forma de preservar os vínculos.”
Conciliar viagem com amigos versus viagem com a família exige maturidade emocional, explica Leninha. É preciso entender que os dois tipos de vínculo não se excluem. “É possível amar profundamente a família e, ao mesmo tempo, desejar espaços com amigos, com outras formas de troca, de alegria e de cuidado.”
Reconheça os próprios limites e seja honesto sobre os seus desejos, assim a decisão do destino da sua viagem ficará muito mais fácil. Se está mais propenso a passar a Páscoa com os amigos, por exemplo, comunique com afeto a sua família e mais à frente dedique um tempo para passar com eles; se a escolha foi ao contrário, faça o mesmo com os amigos. Nem sempre dizer não significa machucar alguém.
“Conciliar não é dividir afeto, é compartilhar presença de forma consciente. E, às vezes, isso significa dizer ‘hoje não estarei, mas amo vocês e vou estar em outro momento’.”
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