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A licença-paternidade no Brasil dura menos que o Carnaval e isso é um absurdo
Foto: Unsplash/Mikael Stenberg
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Cinco dias. Esse é o tempo que a maioria dos homens tem para viver o início da vida do próprio filho.

Menos tempo do que muitos tiram para ir a um festival, descansar no feriado ou fazer uma viagem de negócios.

A pergunta é: quantos momentos importantes da sua vida cabem em cinco dias?

Agora imagine o nascimento do seu filho.

Imagine o choro da mãe. O medo. A alegria. A dor. A insegurança. O amor transbordando.

Imagine tudo isso… e você tendo que voltar pro trabalho na segunda-feira como se nada tivesse mudado.

É esse o modelo de paternidade que ainda naturalizamos no Brasil.

Ser pai não é um bônus. É um compromisso

A presença do pai nos primeiros dias não é “ajuda”.

É parte do processo.

É cuidado.

É presença.

É afeto.

É também responsabilidade emocional, física, financeira e social.

Assumir a paternidade desde o começo é investir no futuro da sua família — e da sociedade como um todo.

Estudos mostram que crianças com pais presentes desde o nascimento têm melhor desenvolvimento emocional, mais estabilidade e relacionamentos mais saudáveis.

Além disso, a mãe sofre menos com a sobrecarga, o que impacta diretamente o bem-estar do bebê.

Se sabemos disso tudo…

Por que ainda resistimos a discutir a ampliação da licença-paternidade com seriedade?

A licença de 5 dias não basta. E você sabe disso.

A realidade é que o modelo atual de 5 dias é insuficiente, excludente e cruel.

E o impacto dessa ausência forçada dura anos.

O vínculo que não se cria no início pode nunca ser recuperado.

A sobrecarga que recai sobre a mãe adoece.

A criança percebe a ausência — mesmo sem saber falar.

E o pai perde a chance de viver um dos momentos mais transformadores da vida.

Você realmente quer deixar isso passar?

O que está em jogo no Brasil hoje

Felizmente, a pressão por mudança está crescendo.

Projetos de lei estão sendo discutidos. A sociedade começa a acordar.

Entre eles, o PL 139/2022 propõe ampliar a licença-paternidade para 60 dias e permitir o compartilhamento de até 30 dias da licença-maternidade com o pai.

Outras propostas como a PEC 58/2023 sugerem 20 dias de licença-paternidade. E o PL 3.773/2023 prevê uma ampliação gradual.

Mas nenhuma dessas propostas vai virar realidade se a sociedade não mostrar que isso importa.

Se os homens continuarem calados.

Se as empresas continuarem empurrando com a barriga.

Se os líderes continuarem fingindo que está tudo bem.

E o que a presença do pai muda, de verdade?

Falo com a autoridade de quem viveu.

Quando minha filha nasceu, estar com ela nos primeiros dias foi um marco na minha vida.

Ali não nasceu só uma criança. Nasceu um pai.

Aprendi a trocar fralda, a acolher o choro, a acalmar a ansiedade, a dar colo, a estar inteiro.

E mais do que isso: fortaleceu minha relação com minha esposa, com meu trabalho e comigo mesmo.

Agora, à espera do meu segundo filho, essa certeza só se reforça:

ninguém pode ocupar o meu lugar de pai. Nem por um dia.

E o que me revolta é pensar em quantos pais não vivem isso por causa de uma política pública atrasada.

Por causa de um sistema que ainda trata o homem como um coadjuvante na própria família.

Licença-paternidade não é mimo. É justiça

Nos países nórdicos, como a Suécia, a licença-paternidade é longa, incentivada e vista como essencial.

Resultado? Famílias mais equilibradas, mães com mais autonomia, filhos mais bem cuidados — e pais mais presentes.

O que está nos impedindo de seguir esse caminho no Brasil?

Será medo?

Vergonha?

Machismo disfarçado de tradição?

Seja a mudança que você quer ver no mundo. E na sua casa.

Recentemente, aceitei o convite para ser embaixador da Coalizão Licença-Paternidade (CoPai), uma organização que luta por essa causa.

E faço isso porque acredito profundamente: ser pai é estar. Desde o começo.

É não terceirizar o cuidado.

É não abrir mão dos primeiros passos da jornada.

Essa não é apenas uma luta por dias a mais de folga.

É uma luta por um país onde homens e mulheres dividem de verdade o cuidado.

Onde filhos crescem com a presença dos dois.

Onde o afeto não é adiado.

E você? Vai continuar achando que cinco dias são suficientes?

Ou vai se juntar a esse movimento por um futuro mais justo — começando pela sua própria casa?

Ser pai é uma escolha diária. Que começa no primeiro dia.

E esse dia precisa ser seu também.

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