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Adolescentes
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A relação com um filho na adolescência pode nos ajudar a compreender mais sobre a gente mesmo


Velejadores são, de certa forma, eternos adolescentes, em especial os que seguem sempre para oeste. Diz a lenda que ao navegar no sentido contrário ao movimento do planeta não envelhecemos. O comportamento de muitos dentre nós é prova disso. Exemplo vivo da puberdade marinheira é a disputa acirrada entre os adeptos de monocascos e os defensores de catamarãs, embarcações de dois cascos e sem lastro. A competição tem o fervor das torcidas de futebol em fim de campeonato, não é preciso muito tempo em um boteco de beira de cais para testemunhar uma delas.

A verdade é que os dois modelos são brinquedos diferentes, um pensado para resistir aos elementos e o outro para voar sobre eles. Um monocasco com lastro e quilha é construído para dar conta do mau tempo quando ele chega; o catamarã é feito para velejar rápido e ficar rapidamente longe da tormenta. A disputa é um pouco como comparar um rinoceronte a uma gazela. Não faz o menor sentido.

Mas como a gente está a falar de barcos e adolescentes e conversar sobre política não adianta nada mesmo: ou a gente vai para a rua e para este país ou tudo vai seguir como está. Vou explicar. Quando veio a adolescência da minha menina mais velha, foi como encarar a primeira tempestade, mas uma sem previsão: não sabíamos quanto tempo ia durar, e tome onda na lata. A pequena vestida de preto de cara amarrada sempre com olhar de enjoo. Entre altos e baixos, um mar picado que levou um bom ano a passar.

Tormentas da idade

Nunca peguei uma tormenta de mais de seis dias, e essa uma não deixou saudades. Agora, a verdade é que as ondas na casa dos 8 metros e as rajadas para lá dos 100 quilômetros por hora foram bolinho perto do primeiro ano de adolescente da moça. Alguns meses tormenta adentro, pedi socorro para uma mentora em quem confio muito na escola Waldorf que as meninas frequentam. Ela riu e brincou comigo: o problema é quando são dois adolescentes na sala.

Um par de conversas e me dei conta: a pequena ia muito bem obrigado, o caso era comigo, que me comportava como outro adolescente. Mais presente e ciente do caso, encontrei posturas mais maduras e, com alguns escorregões, mantive firmeza no que importava. Devagar o céu clareou e o vento amainou, um pouco mais e até o mar cedeu. Voltei a receber sorrisos e até um abraço ocasional. Como bom velejador de monocascos, invernei a tempestade.

Há quem diga que existem pais que velejam para longe da tormenta. Turrão que sou, só acredito vendo, mas a verdade é que, agora que nossa segunda menina se aproxima das águas da puberdade, já não vamos tão grumetes ao mar. Sei que do lado de lá há bom tempo e que o barco aguenta mau tempo. Todos ao convés!

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Lucas Tauil de Freitas é pai, cidadão e navegador, nessa ordem. E gosta de falar sobre tudo isso.

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